Uma visita muito inesperada

OPINIÃO26.03.202205:30

A Macedónia do Norte ganhou em Itália e já tinha ganho, antes, na Alemanha. Ir ao Mundial é, agora, o grande sonho de um país jovem

A FINAL não é com a Itália que teremos de resolver a grande final do play-off que nos separa do Mundial do Catar. O escândalo da vitória da Macedónia do Norte, em Palermo, correu o mundo, fez, na Europa, várias primeiras páginas de jornais e, agora, temos de entender e aceitar que o Mundo torce contra nós, no jogo da próxima terça-feira, porque existe sempre um lado romântico nos adeptos de futebol e a ideia de ter a Macedónia do Norte na fase final do Campeonato do Mundo, depois de eliminar a Itália e Portugal, é demasiado atrativa para não suscitar toda a atração.
Portugal tem meios para contrariar todo esse romantismo. Porém, devemos ser pragmáticos na maneira de encarar o jogo, na análise de alguns erros cometidos no jogo com a Turquia e que não são, sequer, novidade, e, por fim, importa não perder de vista o manifesto sucesso de algumas das escolhas para o onze, que pareciam demasiado arriscadas e que se tornaram mais do que úteis, decisivas.
Calculo que à surpresa de sabermos que a Macedónia do Norte é a última fronteira que nos separa do Catar se tenha somado um mal disfarçado alívio. No discurso oficial e politicamente correto, todos os jogadores se juntam ao treinador para dizerem que qualquer dos adversários seria muito difícil. No íntimo, nós sabemos que eles sabem que nós sabemos que todos eles ficaram felizes e se sentiram mais próximos do Campeonato do Mundo. Não seria natural que pensassem de outra forma, o que não invalida que olhem para o jogo com o mesmo profissionalismo, o mesmo sentimento de dúvida e de desconfiança, a mesma entrega e espírito de conquista, até porque o que está em jogo é, além de muito dinheiro, muito prestígio e estatuto internacional.
Olhando para o adversário com a devida atenção, a primeira coisa que Fernando Santos terá de perceber é que esta vitória da Macedónia do Norte, em Itália, não aconteceu por acaso. Pode haver a tendência de seguir a explicação do selecionador italiano, Roberto Mancini, que disse aos jornalistas que «estava escrito que não poderiam fazer nada contra o destino», mas não aconselho esse raciocínio. É que a Macedónia do Norte não se limitou a vencer a Itália, na Itália. Na fase de qualificação também venceu a Alemanha, na Alemanha. Curiosamente, o golo da vitória em Palermo foi marcado por Trajkovski, aos 90+2’ e, na Alemanha o golo da vitória (2-1) foi marcado por Elmas, aos 85’.
Isto significa que se trata de uma equipa que é letal no aproveitamento dos espaços. Além disso, tem uma defesa forte, um meio campo intenso, um ataque perigoso. Uma personalidade competitiva sólida, agora muito reforçada por um sonho de glória nacional.
Portugal terá de saber tirar toda a vantagem dos seus criativos e, sobretudo, não pode jogar jogos decisivos como quem vai na autoestrada e tira o pé do acelerador para poupar na gasolina.

P ERMITAM-ME uma curiosidade final e que vem da velha tradição de A BOLA, jornal do desporto que nunca deixou de exercer a sua função de partilhar conhecimento. Para  muitos, a Macedónia do Norte não é apenas uma seleção de futebol desconhecida. É, também, um país desconhecido. É uma das Repúblicas da antiga Jugoslávia, tem pouco mais de dois milhões de habitantes, a sua área não chega a 26 mil km2 e a capital é Escópia. Apesar de se tratar de um pequeno território, sem qualquer saída para o mar, tem fronteiras com o Kosovo, a Sérvia, a Bulgária, a Grécia e a Albânia. Nestes tempos conturbados também convém saber que pertence à NATO e à ONU. Aguarda autorização de entrada na União Europeia. 


GRANDE VITÓRIA DE JOÃO ALMEIDA

O sucesso da Seleção Nacional de futebol e a sua aproximação à definitiva qualificação para o Mundial do Catar roubou impacto mediático à extraordinária vitória do ciclista português, João Almeida (apenas 23 anos), na quarta etapa da Volta á Catalunha. Com uma meta de primeira categoria, a 2000 metros de altitude, e disputando o sprint final com dois clássicos da montanha, Nairo Quintana e Sergio Higuita, João Almeida foi mais forte. Trata-se de um ainda jovem ciclista, mas pode tornar-se num dos nossos melhores de sempre. 


TODOS VAMOS PAGAR A GUERRA

As guerras são trágicas e são caras. Seriam, hoje em dia, acontecimentos impossíveis, não fosse o lucro fabuloso da indústria negra das armas e a incontrolável loucura de alguns homens sombrios. Não se conhece, ainda, a dimensão desta guerra que nos vai vestindo a alma das cores amarela e azul. Não se sabe se chega a Putin o sofrimento do povo ucraniano e do seu próprio povo russo, ou se irá arrastar o conflito para uma escala mundial. Seja como for, todos pagaremos nesta guerra. A questão está, ainda, em sabermos quanto.