Uma resposta à Benfica

OPINIÃO02.11.202106:00

Quando talvez menos se esperasse, o Benfica viu-se duramente testado e mostrou muito mais daquilo que lhe falta do que aquilo que já tem

Écedo para chegar a opiniões categóricas acerca do Benfica 2021/2022, mas uma coisa já é certa. Esta equipa está ainda longe de apresentar a consistência que as circunstâncias exigem. Eu fui dos que aplaudiu a exibição frente ao Portimonense. Fi-lo em parte porque continuei a fazer uma avaliação positiva em termos exibicionais e, não escondo, porque o excelente arranque de temporada pareceu-me ser a injeção de confiança necessária para a sequela de Jorge Jesus no seu segundo e último ano de contrato.
Pareceu-me, no essencial, que esta segunda época traria o melhor Jorge Jesus, aquele que reconhecidamente já deu grandes alegrias aos benfiquistas. E por muito que se tentasse conter o entusiasmo, a vitória - essa sim categórica - frente ao Barcelona pareceu sinalizar o ressurgimento de uma outra ideia de Benfica: uma equipa capaz de superar as dúvidas dos benfiquistas mais empedernidos e seguir imparável na prossecução dos seus objetivos, mobilizando todos no processo.
Bem diz a expressão: nada como a realidade para estragar uma boa história. Apesar da confiança depositada na equipa, os jogos sucederam-se e as dificuldades também. Depois do Portimonense veio uma vitória arrancada a ferros frente ao Trofense, depois de 120 longos minutos em que algumas das segundas opções pareceram terceiras e a equipa se deixou manietar vezes demais por um adversário muito digno, mas nitidamente de qualidade inferior. Ainda assim, pensei que tudo fazia parte de um plano e que a gestão do plantel obrigava a estes jogos mais complicados. Depois do Trofense vieram 70 minutos encorajadores frente ao Bayern, seguidos de 20 minutos de terror defensivo que nos devolveram à terra e relembraram a distância que hoje separa esta equipa dos melhores da Europa. Ainda assim, muitos de nós retiraram coisas positivas deste jogo, resignaram-se perante uma derrota infelizmente esperada e apontaram baterias ao próximo. Fomos a Vizela e repetiu-se a dificuldade na finalização que já se tinha visto contra o Portimonense, viu-se menos qualidade na circulação de bola, e, após um golo muitíssimo celebrado aos 98 minutos, ficou a sensação de que andávamos a abusar da sorte. Passam-se 3 dias e volta a Taça da Liga. Entramos bem, apanhamo-nos na frente do marcador e a partir daí acabamos subjugados por um Vitória de Guimarães. Foi um belo jogo, mas mais uma vez o resultado não satisfez e a intranquilidade muito menos. Chegados ao Estoril, começamos a habituar-nos a algumas das dificuldades. Mais uma entrada feliz, seguida de dificuldades na finalização. A equipa mostrou vontade mas foi parecendo cada vez mais desgastada e passa os 20 minutos finais à espera do fim do jogo, o que geralmente tem como corolário o final que não se quer. Um empate nos últimos minutos é sempre mau. Um empate nos últimos minutos, num jogo como este, que atira o melhor plantel da prova para o terceiro lugar, é uma derrota.
Resumindo: quando talvez menos se esperasse, o Benfica viu-se duramente testado e mostrou muito mais daquilo que lhe falta, do que aquilo que já tem. O balanço é preocupante: 6 jogos e uma vitória em tempo regulamentar. Sendo verdade que a equipa continua a mostrar em alguns momentos qualidade ofensiva e defensiva superior a quase tudo o que se viu na época passada, isso não significa que os argumentos apresentados cheguem para os desafios que tem pela frente. As dificuldades em ataque posicional avolumam-se, João Mário parece acusar os muitos minutos em campo, a capacidade de desequilibrar está muitas vezes dependente de Rafa, a dupla ofensiva Yaremchuk-Darwin não convence e as opções saídas do banco têm sido pouco felizes.
 

Benfica já mostrou, frente a Barcelona e PSV, por exemplo, o melhor que pode dar mas os últimos jogos deixaram muitas dúvidas aos adeptos


É sabido que os jogos não são todos iguais e o desfecho pode não sorrir sempre ao Benfica, mas apetece perguntar onde está o espírito combativo - e estruturalmente vencedor - que vimos frente ao Barcelona ou em Eindhoven? São dois momentos que mostraram o melhor deste Benfica, a vencer nos grandes palcos e a sacrificar-se quando mais era necessário. São dois momentos que mostram aquilo que o Benfica deve aspirar a ser sempre. A cronologia das semanas seguintes é o contrário disso. Vemos um treinador com menos soluções para os problemas que se lhe colocam e vemos uma equipa menos crente, menos dominadora e menos solidária. Apetece perguntar: como?
Felizmente há tempo para inverter ou, se quiserem, desmentir este aparente rumo. Cada jogo no calendário é uma nova oportunidade de emendar a mão, corrigir a rota e relançar a confiança e a esperança. Se a exigência é só uma - ganhar ou dar tudo para ganhar -, então os próximos jogos são exatamente os desafios que esta equipa pede. Exigência máxima, recompensa máxima - com uma dificuldade acrescida. Por muito que se aprecie uma atitude combativa, nas próximas semanas vai ser preciso mais do que vitórias morais. Será necessário deixar tudo em campo para garantir o apuramento na Champions, e é imperativo que a equipa consiga recuperar os níveis de confiança já demonstrados e arranque para uma sequência de jogos até final do ano que nos permita voltar ao 1.º lugar e aí permanecer. Ou seja: se o ciclo competitivo até aqui pareceu complicado, aquele que se segue não será menos. Pegando nas palavras muito certeiras de Vítor Serpa na edição de ontem, que falava de um Benfica que precisa de regressar a uma cultura vencedora, as próximas semanas são a deixa perfeita para, aos poucos, se percorrer um caminho que consolide um Benfica mais vencedor. Qualquer tentativa de diminuir a importância desta exigência é contrária ao desígnio do clube.
Por isso termino como comecei. É cedo para chegar a opiniões categóricas sobre o Benfica 2021/2022, mas talvez seja então o momento de manifestar algumas dúvidas e perceber que respostas encontramos, dentro e fora de campo. Que seja uma resposta à Benfica.