Uma noite de gigantes

OPINIÃO10.03.202115:13

Jogo histórico e o futebol português saiu prestigiado. Grande aula tática para a Europa do futebol! Os deuses devem estar loucos

OFC Porto foi a Itália jogar olhos nos olhos com a Juventus. Sérgio Conceição, mais uma vez, mostrou como se organiza uma equipa a defender e a atacar com inteligência. Os portistas tinham o jogo controlado e aos 19’ já estavam a vencer por uma bola a zero,  após grande penalidade convertida por Sérgio Oliveira. Todos foram gigantes, a começar no guarda-redes. Na segunda parte, a Juventus empatou no recomeço,  Taremi levou o segundo amarelo e os azuis e brancos ficaram reduzidos a 10. A Juventus fez o 2-1 e o jogo seguiu para prolongamento. Com menos um jogador, o FC Porto reorganizou-se e na segunda parte do prolongamento, Sérgio Oliveira, de livre, marca o segundo golo. A Juventus consegue o 3-2 mas nem se notou que a equipa portuguesa tinha menos um jogador durante 70 minutos. Jogo histórico e o futebol português saiu prestigiado. Grande aula tática para a Europa do futebol! Os deuses devem estar loucos.
 

O abraço emocionado entre Sérgio Conceição e Pinto da Costa em Turim

Nódoa 

APESAR de surgir na liderança da tabela de clubes com maior receita (juntamente com Real Madrid), a respetiva dívida líquida duplicou num ano, com perdas elevadas, falta de milhões por liquidar transferências e com saldo negativo de €140 M. A pandemia causou danos a todos os níveis, da quotização ao rendimento de bilheteira, até à exploração de instalações.
Não se esperava que um clube dessa dimensão se transformasse na lamentável notícia de que Josep Bartomeu, ex-presidente do Barcelona, considerado um dos responsáveis pela crise no clube, está em liberdade provisória, acusado de corrupção e administração danosa. Identificados os factos, entre os quais a utilização de uma empresa para desprestigiar, nas redes sociais, personalidades do clube, jogadores, ex-treinadores, como Piquè, Messi e Guardiola e outros, recorrendo a pagamentos fracionados para evitarem aprovação, num total muito elevado, é o momento da justiça entrar em campo. No domingo passado, foi eleito o sucessor de Bartomeu no Barcelona: Joan Laporta é o novo presidente até 2026. Trata-se do regresso de um ex-presidente, de uma época fantástica do clube, entre 2003 e 2010, que culminou nos seis títulos obtidos pela equipa liderada por Pep Guardiola em 2009/2010. Especula-se sobre o regresso do amigo Xavi Hernández como treinador principal.
Portugal, porque periférico e sem grande capacidade económica, atento à conjuntura, pode sempre aprender a melhorar com os erros e prepotências dos outros, definindo regras com margens de segurança, apostar forte na formação de talentos com expressão internacional, potenciar formação de árbitros e dirigentes, criar organização eficaz e prestigiante das competições, celeridade na aplicação da justiça, gestão integrada e sustentável para um futebol transparente. Grandes investimentos podem ser lucrativos numa fase inicial, mas só depois o tempo dirá se foram bem ou mal intencionados.
 

Liga 

OSporting voltou a marcar o golo da vitória nos últimos momentos perante um Santa Clara que não merecia perder. O Paços de Ferreira mantém consistência e tenta segurar lugar europeu. O Boavista deu um passo importante ao vencer o Famalicão por margem dilatada. O FC Porto foi a Barcelos vencer, superando eliminação da Taça e mantendo a luta pelo título, enquanto for matematicamente possível. No Jamor, o Belenenses SAD, com o pior ataque do campeonato, defrontou o Benfica, que controlou o jogo, embora criando poucas oportunidades; primeira parte sem golos, Belenenses SAD com linhas juntas mas falhas na organização defensiva e lentidão de processos, permitindo ao Benfica vencer, marcando três golos em 10 minutos. Exige-se máxima concentração aos árbitros e VAR, para evitar que erros decidam com injustiça. 


Taça de Portugal 

NO Dragão, aconteceu futebol. As equipas entraram fortes, lances rápidos, permitindo ao Braga estar a vencer por dois golos (aos 9’ e 14’) e uma bola à barra, aproveitando erros individuais. O terceiro golo surgiu aos 28´, embora nascido de uma má decisão do árbitro (VAR não corrigiu). FC Porto reduziu de imediato por Otávio e ainda obteve segundo golo (75’), criando muitas oportunidades. Era dia para o Braga se apurar para a final, com mérito. Início muito forte dos minhotos e um dia não para azuis e brancos. Futebol é assim: parabéns ao vencedor e honra ao vencido (a pagar a fatura de clube nacional com a maior densidade competitiva, esta época). Azuis e brancos têm ainda vitórias importantes para alcançar. Na última década, o Braga tem vindo a dar passos sólidos para se conseguir intrometer na luta pelos títulos. Um crescimento sustentado, uma eficaz política de contratações, excelente seleção de treinadores competentes, forte aposta na formação e na valorização de ativos, acabam por permitir obter receitas e resultados importantes. O clube parece ter encontrado a fórmula que inclui os bracarenses na luta pelo topo. Nem sempre os maiores orçamentos vencem as competições. Terá chegado o momento?
O Benfica, com naturalidade, venceu o Estoril na Luz por 2-0, que acumularam aos 3-1 da vitória na primeira mão. Final: SC Braga-SL Benfica.
 

Partilha

NA Liga Europa, Portugal ficou sem equipas mas mantém quatro treinadores lusos: José Mourinho (Tottenham), Luís Castro (Shakhtar), Paulo Fonseca (Roma) e Pedro Martins (Olympiakos). Os países mais desenvolvidos não são unicamente os que possuem recursos mais valiosos mas também os que fazem apelo ao desenvolvimento do conhecimento. Alguma vez a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) procuraram convidar esses e muitos dos inúmeros treinadores nacionais espalhados pelo mundo e com títulos nacionais e internacionais (como Abel Ferreira, vencedor da última edição da Taça Libertadores com o Palmeiras, Rui Vitória e tantos outros), para colaborarem na formação dos treinadores de futebol? Basta humildade, rigor e partilha.
 

Plano de Recuperação e Resiliência  

P ORTUGAL criou o PRR. É sabido que os clubes nacionais permitem ao Estado arrecadar impostos no valor de milhões de euros. Porém, o futebol fica fora de jogo nesse plano. O maior contribuinte fica excluído sem contemplação. Esquecimento, estratégia, mera atividade que serve de elevador político e social? Talvez. Mas também para presenças (boleias) em cerimónias nacionais com enorme visibilidade mediática. A expulsão do futebol e do desporto desse plano pode causar sérias consequências. O maior volume de impostos inclui o futebol que é também o suporte das diversas seleções que trazem títulos e visibilidade ao país. Curiosamente, quem mais aproveita esse mediatismo é quem penaliza o futebol.
Foi divulgado que para se poderem receber apoios comunitários (pós-crise do Covid-19: já está resolvida a pandemia?) nasceu um plano com 36 reformas, 77 investimentos diversos, num total de 13,9 milhões de apoios, sem referências ao futebol e ao desporto em geral. Até nos planos perdemos completamente a capacidade para uma estratégia sólida!
 

Remate final 

Erling Haaland, a estrela que se afirma no futebol internacional.
Com 20 anos, 1,94 m de altura, pesando 88 Kg, o norueguês é avançado do Borussia Dortmund. Já alcançou vários prémios interna- cionais e recentemente acabou de marcar o seu centésimo golo, no jogo frente ao Bayern. Atingiu os 100 golos num total de 146 jogos, desde a sua estreia com 17 anos, em 2017, quando jogava no Molde, da Noruega. Mbappé precisou de 180 jogos, Neymar de 184, Messi de 210, Lewandowski de 216, Cristiano Rolando de 310. Os 100 golos de Haaland integram 20 golos em 50 jogos pelo Molde, 29 em 27 jogos pelo Salzburgo, 45 em 46 jogos pelo Borussia Dortmund, e 6 em 7 jogos pela seleção principal da Noruega. A sua velocidade e eficácia ao serviço do coletivo, além dos golos, revelam uma entrega total. 

Abel Ferreira conquistou mais um título brilhante: a Taça do Brasil, para o Palmeiras.

Parabéns ao Atletismo pelas três medalhas de ouro de Portugal nos Europeu de pista coberta.