Uma Liga de Valor(es)
'Livre e Direto' é o espaço de opinião semanal do jornalista Rui Almeida
Um dos maiores desafios que se colocam ao futebol português, na vertente profissional, é o aumento da capacidade organizativa, a definição de um modelo competitivo agradável ao público, respeitador dos profissionais da indústria e potenciador de maior dimensão internacional e de visibilidade além-fronteiras.
Apesar das intenções redobradas nos últimos anos, a verdade é que a Liga Portugal ainda não conseguiu sustentar, consolidar e projetar uma imagem e uma realidade que deem corpo efetivo a essas premissas. A Liga portuguesa está abaixo das cinco principais competições internacionais para clubes, mas também com dificuldades em ombrear com congéneres, supostamente, no seu patamar, como as provas profissionais da Bélgica, dos Países Baixos, da Turquia ou da Polónia, apenas para citar os casos em que seria, de facto, possível alguma supremacia no volume de negócios e na capacidade de cativação de investidores e investimento.
Por isso, não admira o imenso desafio que constitui, na era pós-Proença, a presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, ademais porque, embora estejamos perante um mandato intercalar (de dois anos, para que seja completo o período de vigência até 2027), ele inclui, como prioridade na sua ampla lista de preocupações e objetivos, a centralização dos direitos televisivos, a que a instituição está obrigada, em termos de conclusão de estudo e implementação de opções, até à temporada desportiva de 2027/2028.
Razões não faltam para entendermos estar perante um momento de viragem e evolução sem retorno, tentando, finalmente, criar condições de base para a valorização, em todos os setores, do produto mais desejado pelos portugueses para entretenimento, e do que mais e melhor capacidade de exportação terá, com a dimensão global do jogo e dos seus protagonistas.
E num parênteses sempre sublinho a tendência exportadora de talentos do futebol português para os quatro cantos do mundo. Nem falo do filão aberto no Golfo Pérsico, muitas vezes em contraponto com os interesses da modalidade e dos seus principais ativos, do ponto de vista desportivo, mas asfixiando o negócio com propostas irrecusáveis e fazendo pender a balança de um modo, pelo menos, desigual do ponto de vista concorrencial e ético.
Falo de jogadores, técnicos, dirigentes que tentam a sorte no estrangeiro e que, pelo seu arrojo, pela sua competência, pela capacidade de adaptação e pelo conhecimento das realidades, granjeiam simpatias, semeiam História e colhem trunfos de experiência. Portugal é, claramente, um dos benchmarks da indústria, devendo ser avaliado e estudado como tal.
Adiante: 11 de abril é a nova data de referência.
A sufrágio apresentam-se duas candidaturas tão distintas como a sua génese e a sua formação, o que não deve ser despiciendo no momento da avaliação final e da escolha da tendência de voto.
Tenho respeito pela experiência. Muito. Costumo dizer aos meus alunos que as duas únicas coisas que, e enquanto estudantes de licenciaturas, mestrados ou doutoramentos, não podem adquirir no imediato, são o tempo e a experiência, fatores que vivem agregados um ao outro e que fazem de quem apresenta uma incomparável mais-valia.
Deste ponto de vista, Reinaldo Teixeira apresenta décadas em carteira enquanto gestor, mas também enquanto dirigente associativo, na verdadeira génese do futebol português, na sua componente mais genuína e mais próxima dos primeiros patamares de evolução do jogo.
Mas traz para a mesa, igualmente, know how. Capacidade de entender realidades e traçar objetivos, temporizá-los, definir prioridades e delegar responsabilidades, enquanto agrega valor externo e congrega o ator interno: o próprio futebol profissional, os seus clubes e Sociedades Anónimas Desportivas, os dirigentes e a sua visão de médio e longo prazo para um conjunto de áreas nucleares do desenvolvimento próximo do profissionalismo em Portugal: as negociações de filigrana para um melhor quadro contributivo, um piscar de olho à calendarização e à sua necessária compaginação com a dimensão internacional que se pretende para a Liga Portugal, uma visão de diálogo e estabelecimento de pontes para a (certamente difícil) negociação conducente à centralização de direitos televisivos.
Mas é também importante, para a arquitetura de dimensão global, que a Liga Portugal dê passos decisivos no ecossistema de comunicação, musculando-o, entrando numa fase de expansão multiplataforma e entendendo-o como determinante no sucesso futuro do jogo e dos seus protagonistas.
Do lado de José Mendes, a estranheza pelo facto de alguém com o percurso e o currículo académico do anterior presidente da Assembleia Geral ter virado agulhas a 180 graus: da convicção manifestada de que não seria candidato (seria, aliás, muito provavelmente reconduzido na posição de presidente da MAG), passa a candidato à liderança da instituição, projetado pelo binómio SC Braga/FC Porto e com uma estrutura de projeto que parece, teoricamente, mais acanhada, de menor dimensão e, sobretudo, muito menos arrojada e voltada para a visão global do planeta futebol de que a LPFP mais necessitará, nesta altura.
Falta falar na credibilidade. Na capacidade de olhar o futuro percebendo desafios e, sobretudo, não negligenciando as pessoas. Se o futebol é a maior indústria global, também isso se repercute num pequeno país do extremo sudoeste da Europa, com duas ramificações atlânticas.
A opção de 11 de abril também é sobre isso. Sobre voltarmos a ter, no jogo que amamos, a referência internacional que pretendemos, feita de arrojo, resiliência, inovação e transparência. Portanto, numa Liga de Valor(es).
Cartão branco
Em Portugal, é muito raro, no capítulo da análise desportiva (e sobretudo futebolística), encontrar opiniões dissonantes, mas bem elaboradas, contra a corrente e disruptivas. Quando elas surgem e são dadas à estampa, os mesmos do costume (velhos do Restelo e doutras bandas, cobardes anónimos nas redes sociais…) ribombam críticas e pulverizam os autores. Tiro o chapéu à Sofia Oliveira, que connosco iniciou o Canal 11, e que sempre denotou um conhecimento técnico e uma capacidade de análise acima da média. A sua, pela qual ela, diariamente, continua a corresponder. É um dos tais valores únicos que diz o que muitos também querem dizer. Mas jamais terão coragem.
Cartão vermelho
Já tivemos experiências idênticas com nomes como Romário ou Robinho. Recentemente, com Vinícius Júnior. Agora foi Raphinha, o extremo do Barcelona e da seleção brasileira, a ter um comportamento eticamente reprovável, digno (ou talvez nem isso…) de uma criança a quem não se dá um rebuçado… As declarações sobre o Argentina-Brasil (antes do jogo, claro!…) tiveram, da parte da seleção argentina, uma resposta fortíssima e cheia de classe. À campeã do Mundo. Talvez Raphinha comece a querer falar, apenas, nos relvados…