Uma lição em Roterdão

OPINIÃO31.07.202306:30

Aursnes não faz sentido no duplo-pivot. É mais útil perto da baliza contrária

ASupertaça está à porta e nenhum dos rivais parece atravessar a melhor das saúdes. No entanto, se o FC Porto se dá bem com a escassez, seja de qualidade exibicional, resultados ou até recursos, compensando-a com competitividade de faca nos dentes, o Benfica, personificado em Roger Schmidt, parece lidar mal com o excesso de opções. Para ambos, parte do problema reside no duplo-pivot. Os dragões vão plantar um novo, com Nico González e um outro reforço, seja Varela ou não, contudo têm os pressupostos bem estudados e continuam capazes de ferir. Já as águias apresentam massa crítica para duplas com finalidades diversas, embora o alemão queira comprimir todos os estatutos num onze. Schmidt pretende, mais uma vez, confiar nas ideias, fechar os olhos e bater de frente contra o muro. Se terá força ou não para derrubá-lo, é outra questão.

O embate com o Feyenoord foi boa preparação, mas mau ensaio. Os que abanam sob pressão alta e agressiva são invariavelmente os mesmos: Rafa, João Mário, Aursnes e, a outro nível, Vlachodimos. O princípio que os encarnados fazem por ignorar é que a mesma pressão de nada vale a quem a faz se a bola já não estiver lá. Porque a intensidade é sobretudo mental. Continua a fazer sentido receber a bola de costas e aguentar duelos físicos? Não é melhor manter unidades juntas e dar no terceiro homem, ou mesmo apostar em contramovimentos e criar a dúvida? 

O Benfica-FC Porto da última época resume-se a pressão e, sobretudo, à resistência à mesma. É, por isso, que Aursnes não faz sentido no duplo-pivot quando há João Neves ou Chiquinho para privilegiar a construção, ou Florentino se se procura ler a saída rival. O norueguês é mais útil perto da baliza contrária. Aí, porque simplifica, pode ser decisivo. Roterdão apenas sublinhou o que já era evidente.