Uma final de recordes!
Sporting e Amorim, FC Porto e Sérgio, correm atrás de feitos históricos sábado em Leiria; leões venceram as seis últimas finais (!) com dragões
COMO se esperava, Sporting e FC Porto vão disputar a final da Taça da Liga em Leiria, um duelo que se antevê excitante em face da velha rivalidade entre leões e dragões e o facto de serem as duas equipas que têm dominado o futebol nacional nos últimos anos. Recordemos, para os mais distraídos: o FCP é o campeão em título e completou duas dobradinhas nos últimos três anos; o Sporting é o vice-campeão e ganhou quatro títulos nos últimos dois anos. Tal como os leões com o combativo Arouca (2-1), o FC Porto foi justo vencedor (3-0) do duelo com o orgulhoso Académico de Viseu que, convém sublinhar, compete na Liga 2. Ganharam os melhores e, por isso, Leiria vai ter casa cheia no sábado para a 14.ª final entre portistas e sportinguistas desde 1922 (vantagem leonina de 8-5… e de 8-3 na era do futebol profissional: os dois primeiros triunfos portistas aconteceram nos campeonatos de Portugal de 1922 e 1925). Mas é de toda a justiça reconhecer que tanto o Arouca como o Ac. Viseu ofereceram uma boa réplica aos favoritos.
O FC Porto atinge a 75.ª final doméstica (contra 57 do Sporting e 71 do Benfica) e é o único dos grandes ainda em todas as frentes, sendo que até agora ganhou o que havia para ganhar (Supertaça). Tentará vencer, à quinta tentativa, a elusiva Taça da Liga para completar o palmarès e, en passant, igualar os 83 títulos do Benfica no futebol. Para Sérgio Conceição, que já perdeu duas finais seguidas com o Sporting no desempate por penáltis (Taça da Liga e Taça de Portugal em 2019), trata-se de reclamar a condição de treinador portista mais titulado. Uma vitória em Leiria deixa-o um degrau acima de Artur Jorge (9-8) embora deva recordar-se, para evitar conclusões precipitadas, que no palmarès de Artur Jorge consta a maior de todas as conquistas, a Taça dos Campeões Europeus (Viena, 1987). Seja como for, a final da Taça da Liga tem motivos de sobra para deixar os portistas com água na boca.
OS SPORTINGUISTAS TAMBÉM. RÚBEN: O PRIMEIRO TETRA?
Para os leões, a final de sábado representa a melhor oportunidade de ganhar um título nesta época (na Liga Europa é muito mais difícil); mas também de manter o excelente andamento da era Amorim (quatro conquistas em duas épocas completas) e confirmar a hegemonia do clube na Taça da Liga desde que esta adotou o formato Final Four - os leões lutam pela terceiro triunfo consecutivo e o quinto nas últimas seis épocas (como lembramos na caixa ao lado, os leões não conseguem um tri há setenta anos, no tempo dos violinos). O FC Porto tem mostrado estar mais sólido e mais forte que o Sporting e a verdade é que ganhou os três últimos clássicos - o mais recente para campeonato deste ano (3-0), os outros dois nas meias-finais da Taça de Portugal da época passada (2-1 e 1-0).
Mas isto é uma final de Taça. Outra conversa. Se a história e a tradição pesassem, o Sporting podia encomendar as faixas, tão notória tem sido a sua supremacia sobre o FC Porto em finais de taça. Os leões somam seis triunfos consecutivos sobre o velho rival desde 2000 (por ordem cronológica: Supertaça de 2001 (1-0), Supertaça de 2008 (1-0), Taça de Portugal de 2008 (2-0), Supertaça de 2009 (2-0), Taça da Liga de 2019 (1-1 e 3-1 no d.g.p.) e Taça de Portugal de 2019 (2-2 e 5-4 em g.p.), estas duas últimas com Sérgio no banco portista. É claro que o passado vale o que vale, mas se pensarmos, por outro lado, que o FC Porto nunca venceu o Sporting em jogos de Taça da Liga (uma final e três meias-finais perdidas; mais um empate na fase de grupos), é caso para considerarmos que há um borrego muito forte a pairar sobre a final de Leiria.
Jogue ou não Paulinho (e esse não é um detalhe menor), Rúben Amorim, como Sérgio, pode fazer história em caso de vitória. Ganhando, torna-se o primeiro treinador português a ganhar uma competição por quatro vezes consecutivas. Sendo um verdadeiro fenómeno na Taça da Liga - três participações como treinador, três títulos (um com o Braga, dois com o Sporting), 14 vitórias em 14 jogos; mais 6 títulos como jogador - o jovem (37 anos) treinador tem à mercê o primeiro tetra na história das competições domésticas. Anotem.
No campeonato, o único tri nacional pertence a Jesualdo Ferreira, com o FC Porto (2007, 2008 e 2009; o Benfica de Jorge Jesus inviabilizou-lhe o tetra em 2010). Na Taça de Portugal, também só há um tri e pertence a José Maria Pedroto (Boavista em 1975 e 1976, FC Porto em 1977). Na Taça da Liga, há dois tris: o atual de Amorim e o de Jorge Jesus com o Benfica em 2010, 2011 e 2012. Na Supertaça, nem sequer há tris: há cinco bis (Fernando Santos, Paulo Bento, Vítor Pereira, Jorge Jesus e Rui Vitória).
Sporting e Amorim, FC Porto e Sérgio. Se isto não der uma final e peras…
ÚLTIMO TRI LEONINO FOI HÁ 70 ANOS
OSporting pode ganhar a Taça da Liga pela terceira época consecutiva e para encontrar proeza semelhante no historial leonino é preciso recuar setenta anos (1953), ao tempo da equipa dos violinos que nesse ano conquistou o terceiro campeonato seguido da tal sequência que viria a dar o famoso tetra aos leões (e que só não foi hepta, porque o Benfica ganhou o campeonato de 1950 pelo meio). O inglês Randolph Galloway era o treinador (Joseph Szabo faria os três jogos finais) e mesmo já sem a certeza de golo que era garantida pelo inigualável bombardeiro Fernando Peyroteo, os leões ainda tinham quatro violinos no plantel (José Travaços, Manuel Vasques, Albano Pereira e Jesus Correia, que depois optou pelo hóquei em patins) e outros jogadores de primeira água como João Martins, Manuel Passos, Carlos Canário, Juca e o guarda-redes Carlos Gomes. A equipa atual, capitaneada pelo xerife uruguaio Sebastian Coates vai tentar, no sábado, o terceiro tri na história do Sporting, primeiro em competições de taça. Sete décadas depois…