Um clássico ao amanhecer
Clássico entre FC Porto e Sporting é imperdível (Foto Imago)
Foto: IMAGO

Um clássico ao amanhecer

OPINIÃO31.08.202408:30

'Porque hoje é sábado' é um espaço de opinião semanal de Vítor Serpa

Clássico em Alvalade. O Sporting recebe o FC Porto ao amanhecer de uma época estranha, muito marcada pela novidade de uma Liga dos Campeões que se transformou num campeonato de luxo e que pode implicar, no Sporting e no Benfica, uma mudança drástica de conceitos e de planos técnicos. Além do mais, é um clássico que vira o calendário das férias para o trabalho para milhares e milhares de portugueses. E ainda um clássico que é jogado quando falta consolidação aos plantéis das grandes equipas nacionais.

No fundo, os treinadores têm de lidar com um problema inquietante, porque as suas equipas ainda se ressentem da falta dos bons jogadores que saíram e não tiveram tempo para ganhar algum benefício palpável dos jogadores acabados de chegar e que precisam de tempo para atingirem patamares competitivos que os justifiquem no onze.

Mesmo assim, com todas as circunstâncias que condicionam o clássico de hoje, em Alvalade, o pequeno mundo do futebol português tem os olhos postos no grande jogo. A ausência de um sentimento de “tudo ou nada” abre as portas ao espetáculo. Sporting e FC Porto começaram muito bem a época. O Sporting joga um futebol idêntico ao que já conhecíamos, mas com outro brilho, outra qualidade, até, mesmo, outra espetacularidade. Mérito de Rúben Amorim, que conseguiu construir um ataque frenético, com Gyokeres a aproximar-se rapidamente do elevado nível  do goleador que marcou o campeonato da época passada; com Pedro Gonçalves, cada vez mais cirúrgico no fecho de cada lance; com Trincão a chegar a um nível de qualidade técnica, que ainda não tinha sido visto em Alvalade e que o aproxima da magia dos grandes jogadores.

Também o FC Porto chega a este clássico num grande momento. Vítor Bruno deu sequência a Sérgio Conceição com menos exuberância, sim, mas não com menos rigor e exigência. O FC Porto está a fazer uma início de época acima das expectativas, sobretudo para uma equipa que perdeu Evanilson e Taremi no ataque e Pepe na liderança da defesa e da equipa. Espremendo todo o potencial e até a revolta de jogadores que se sentiam injustiçados, o jovem treinador do FC Porto construiu uma equipa psicologicamente forte, fisicamente intratável, tecnicamente evoluída.

O patamar exibicional a que já chegou o Sporting e o FC Porto tornam este clássico imperdível para quem gosta de futebol.

Sinceramente, estou muito curioso para ver como Sporting e Benfica vão encarar o novo formato da Liga dos Campeões. Até agora, sabia-se que havia um discurso para fora, dizendo-se que todas as provas eram para ganhar, e um discurso para dentro, que reconhecia que o importava era o campeonato português, porque o povo do futebol quer, antes de tudo, é ser campeão, mesmo que o seja muitas vezes seguidas.

Mas o mundo pula e avança. E muda. O novo figurino da Champions vai trazer à Luz Barcelona, Atlético do Madrid, Feyenoord e Bolonha e leva o Benfica a visitar os grandes palcos de Munique (Bayern) e de Turim (Juventus), além de Belgrado (Estrela Vermelha) e Mónaco. E vai trazer a Alvalade o Manchester City, o Arsenal, o Lille e o mesmo Bolonha do Benfica. O Sporting irá de visita a Leipzig, a Brugge, a Eindhoven (PSV) e a Graz. Sporting e Benfica estarão, assim, no topo do mundo, no campeonato mais seletivo e mais exclusivo do planeta. Seria um pecado mortal não encarar este desafio como uma oportunidade única de afirmação internacional, procurando controlar os efeitos de um impacto inevitável no campeonato interno.

Dentro da área

A concórdia
Belo espetáculo em Paris, na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos. Recuperando o perfil da abertura imponente dos Jogos Olímpicos, Paris trouxe-nos um espetáculo de classe e bom gosto, embora, às vezes, excessivo no tempo. E trouxe uma legenda para os Jogos: concórdia. Não me parece especialmente feliz. O lema insubstituível é inclusão. A concórdia, às vezes, é perigosa.

Fora da área

Divórcio à francesa
O Le Monde conta-nos uma história real de um divórcio à francesa, decidido em tribunal. Tudo se resolveu com alguma facilidade, menos um assunto inesperado. A guarda dos cães do casal. O juiz atribuiu a guarda ao homem, porque fora ele quem tinha pago as contas do veterinário. A senhora pediu guarda partilhada. O juiz admitiu que era justo, mas não havia base legal para tomar essa decisão. Os cães são bens móveis…