EDITORIAL Um bom líder
O melhor futebol do Sporting tem sido o melhor futebol da Liga
De novo líder da Liga portuguesa, está o Sporting, entre outras coisas, a fazer pelo menos uma delas muito bem: a conseguir manter uma indispensável estabilidade. Além das inegáveis qualidades como treinador, caiu Rúben Amorim nas boas graças de adeptos e meios de comunicação pelo impressionante jeito que tem para comunicar.
Graças também a esse dom — saber criar empatias é muito inteligente —, foi possível ao treinador do Sporting, com indiscutível mérito, ir capitalizando o crédito dado pelo título de campeão em 2021, mesmo, por exemplo, nas mais difíceis circunstâncias da época passada.
A estabilidade é essencial para se ganhar. Não chega, mas é essencial. Sem estabilidade não se vence. No Sporting, a estabilidade está à vista. Começa na liderança do presidente e tem continuidade na forma como o treinador gere os jogadores.
Hoje, no Sporting, pouco se questiona e quase nada é discutido. O presidente mostra ter os pés na terra e o treinador tem autoridade suficiente para impor respeito e confiança. Em cima disso, o grande reforço da Liga portuguesa é leão e isso moraliza qualquer equipa. Gyokeres mostra o melhor da cultura nórdica e ainda ganha muito pela capacidade atlética.
No rival vizinho, por exemplo, foi precisamente a desconfiança que começou por minar o terreno e, agora, enfrenta o Benfica as consequências. Fase difícil e preocupante para as águias e não será certamente com cara de poucos amigos que vai Roger Schmidt vai ganhar mais entusiasmo ou inspiração.
Em Alvalade, estruturalmente tudo parece em sintonia. O presidente protege o treinador e o treinador protege os jogadores. Podem chover críticas que ninguém se sente verdadeiramente beliscado ou sozinho. Seja Paulinho, por não ter caído nas boas graças dos adeptos, seja Pedro Gonçalves, por continuar a não ser chamado para a Seleção.
Claro que nada disto seria suficiente para ser líder se o melhor futebol do Sporting não fosse, até ao momento, o melhor futebol da Liga. E creio, na verdade, que tem sido. Para deixar totalmente claro: o Sporting não tem jogado sempre bem (já o vimos, algumas vezes, em dificuldades e vimo-lo, sobretudo no arranque do campeonato, beneficiar decisivamente de erros de arbitragem), mas o melhor futebol que tem jogado (e em vários jogos já o jogou) é o melhor futebol que temos visto na Liga portuguesa. É, pois, um líder adequado (justos são todos os lideres), na medida em que melhor tem equilibrado, nestas 12 jornadas, os resultados com as exibições. Quem gosta verdadeiramente de futebol não gosta só de ganhar.
Seria bom, porém, que o campeonato nos reservasse mais debate sobre o jogo e menos sobre arbitragem. Mas não está fácil. E quanto mais ferramentas se colocam à disposição da arbitragem, mais grosseiros e chocantes, nalguns casos, se tornam, evidentemente, os erros, como agora sucedeu no penálti cometido (e não assinalado) pelo portista Eustáquio no jogo dos dragões em Famalicão. Pior do que isso, a pedagogia que não é feita.
Um exemplo: Gyokeres pôs as duas mãos nas costas de um adversário antes de fazer o 2-1 frente ao Gil Vicente. O adversário caiu e o VAR indicou que o lance fosse revisto no monitor. Como não pareceu ao árbitro que Gyokeres tivesse feito o suficiente para fazer cair o adversário, o golo foi validado.
Pergunta-se: alguma vez os árbitros vão ter a certeza sobre a força exata? Alguma vez vão poder afirmar se aquela mão ou aquele toque foi ou não suficiente para derrubar o adversário? Terão os árbitros a noção, quando se está, por exemplo, no ar ou a correr a grande velocidade, do desequilíbrio que pode provocar o mínimo toque que seja? É a velha (e pouco pedagógica) questão da intensidade.
Regressando ao exemplo do lance de Gyokeres, se os árbitros punissem todas as vezes que os jogadores (não importa a intensidade) colocam as mãos nas costas dos adversários, os jogadores deixariam, progressivamente, de o fazer. Ganhava o futebol!