Tóquio: Jogos Olímpicos de 2020

OPINIÃO28.07.202115:56

Numa sociedade de valores enraizados, houve coragem para desafiar as dificuldades

N UM contexto difícil (pandemia do Covid-19) só no Japão seria possível surpreender de forma exemplar! Foi uma vitória inesquecível da herança civilizacional da Antiguidade e de Pierre de Coubertin, pela resistência com admirável criativade simbólica. Os Jogos Olímpicos tinham mesmo de regressar a Tóquio, passados quase 50 anos. Numa sociedade de valores enraizados e defendidos, houve coragem para desafiar tantas dificuldades, porque tinham de cumprir a palavra. A trégua da paz foi presença sentida com coerência. O projeto para a cerimónia de abertura teve contributos com tecnologia avançada mas a base principal foram as pessoas, de todas as idades e de todos os géneros: o plano global, perfeito! Que grande emoção. As cerimónias protocolares (chegada do Imperador ao Estádio, intervenções dos responsáveis, hastear das bandeiras, desfile das comitivas, até ao acender da Chama Olímpica, vinda da Grécia) foram intercaladas com um guião brilhante. Valorizando a História e  a tradição, ultrapassando os deuses que ficaram no Olimpo, coreografias, música, canções, encenações e movimentação construída criaram uma dinâmica fantástica, bela e inclusiva, a todos os níveis. Nunca se tinha visto cerimónia com este brilho e esta aparente simplicidade (só possível com muita competência e muitas horas de trabalho). Memorável e sem esquecer nenhum pormenor. A competência é tão evidente que fica a impressão de naturalidade. Só no Japão e em Tóquio! À máxima «mais rápido, mais alto e mais forte» acrescentou-se o mais importante «unidos». Obrigado, Japão!
A forma como encheram as bancadas num jogo de volumes, cores e tons permite-nos, ao ver nas televisões, uma ilusão positiva, como se estivéssemos no estádio. E assim a tecnologia cumpriu a sua missão sem ir mais além do que o necessário.
 

Portugal desfilou numa cerimónia de abertura que entra para a história dos Jogos

JOGOS DE PREPARAÇÃO

N O Dragão, o FC Porto derrotou o campeão francês com golos de regressados (Bruno Costa aos 53’ e Fernando Andrade aos 77’). Foram muitas as substituições (outras ficaram por fazer), apesar do natural esforço do início da época, notaram-se dinâmicas organizadas, defesa coesa, meio-campo já com boa ligação e, na frente, intensidade e movimentação. O Benfica empatou 1-1 com o Marselha, no derradeiro jogo antes da pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o Spartak de Moscovo. O Sporting venceu o troféu Cinco Violinos, ao derrotar os franceses do Lyon por 3-2, num jogo muito disputado. A época a começar e já há equipas eliminadas na Taça da Liga. Começar apressadamente e com mais uma competição inovadora (Liga 3) requer uma organização exemplar que evite as falhas graves do ano anterior. 


RACIONALIDADE AJUDA A VENCER

A S implicações da pandemia e a necessidade de gerir recursos com eficácia, obrigaram as contratações de reforços, na sua maioria (exceto em clubes que funcionam como portas de saída e de entrada de contingentes anuais) a visar o mercado interno, o que é boa estratégia. Os clubes que conseguem maiores recursos económicos procuram escolher com inteligência, economia e oportunidade. Claro que nem sempre tudo corre como se deseja, porquanto as adaptações a novos clubes, treinadores e dinâmicas de jogo demoram tempo a ser ajustadas. Por outro lado surgem ilusões ou aventureirismos que tentam estratégia de valorização das ações dos clubes nos mercados internacionais, tendo como finalidade aumentar capital para criar equipas com o mesmo nome e padrão, para competirem em diversos países, como supermercados internacionais liderados por donos de clubes ou de quem detém a maioria do capital. Do topo ao fundo, muitas vezes, vai só um pequeno mas decisivo passo.


CONSTRUIR EQUIPA VENCEDORA

C OM tempo, reflexão e conhecimento, o FC Porto conseguiu manter uma estrutura forte e competitiva. Pepê, do Grémio, Fábio Cardoso, do Santa Clara, o regressado Bruno Costa (Paços de Ferreira), mais alguns regressos de jovens que tinham estado emprestados para ganhar ritmo e aperfeiçoamento e outros em perspetiva. Marko Grujic, que no clube teve uma evolução fantástica, voltou a ser emprestado pelo Liverpool, garantindo a coesão que Sérgio Conceição sempre privilegia. Grujic afirmou: «Fiz tudo o que podia para voltar ao FC Porto e estou muito feliz por este dia ter chegado (…) e voltar ao FC Porto era o mais importante para mim.» Para além de reforço para colmatar eventuais saídas, o FC Porto continua muito forte e com Luis Díaz com confiança em alta pelas exibições e excelentes golos na Copa América. Ainda faltam ajustes e o caminho está bem definido. Os adversários procuram o mesmo e quer o Sporting, o Braga, o Benfica e todos os outros clubes perseguem o melhor para alcançarem os objetivos definidos. Até ao fim do prazo das transferências algumas surpresas poderão acontecer. A formação tem sido um universo valioso de oportunidades em função da qualidade e da exigência do Sérgio Conceição. O modelo utilizado por alguns clubes, que dispensam e contratam muitos jogadores todos os anos, precisa de alterar-se, com maior controlo e investimento adequado na formação. 


O MENINO QUE VEIO DA GUINÉ

R OGER tinha um irmão de 18 anos a jogar num clube da AF Portalegre. O irmão mais velho, ex-jogador de futebol, continua na Guiné e exerce Medicina na capital do país. Roger só treinava na equipa B do Braga porque não possuía documentação. Hoje com 15 anos, em função do período de isolamento de Galeno, Carlos Carvalhal integrou-o no grupo da pré-época pelo talento que revela. Assim nascem as estrelas desde que existam olhos que saibam detetar talento… Por vezes há quem consiga saltar do futebol de rua para a genialidade do futebol nos estádios! Aguardemos com atenção. Caso jogue pela equipa principal minhota, antes de fazer anos em 21 de novembro próximo, será o mais jovem de sempre na principal competição do nosso futebol. Carvalhal desvendou o processo de observação de Roger: «Ele não foi ver o Barcelona ou o Liverpool. Estudou o posicionamento de quem joga na sua posição.» No jogo de preparação com o Moreirense, destacou-se e marcou o primeiro golo, na vitória por 4-0, a dias de assinar contrato como profissional, com cláusula de rescisão certamente valiosa. 


FRONTALIDADE INDISPENSÁVEL

C INCO federações desportivas foram ouvidas em conjunto na Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto, da Assembleia da República, alertando para a necessidade de apoios para enfrentar a crise, apontando carências não contempladas no Plano de Recuperação e Resiliência, uma «grande penalidade desperdiçada», como destacou Luís Sénica, líder da Federação de Patinagem, que estava acompanhado por representantes de outras federações: andebol, basquetebol, futebol e voleibol. Essas entidades representam mais de 60% dos atletas federados e, além de contribuinte, o desporto tem de ser encarado como decisão estruturante. Uma das tarefas imprescindíveis é criar condições para o regresso dos atletas jovens. O mais importante é construir uma visão integrada, alargada, eficaz e competente, pelas mais-valias que cria e também pelo exemplo de atração para os mais jovens que reforçam aspetos indispensáveis: definir metas, cumprir planos, objetivos e meios suficientes. 


REMATE FINAL

Emanuel Medeiros, CEO da Sport Integrity Global Alliance (SIGA), defende maior transparência, rigor, verdade e integridade no futebol, atendendo ao elevado grau de exposição que o desporto-rei tem na sociedade, concluindo: «O futebol, pelo papel que assume na sociedade, tem de estar acima de todas as dúvidas.»

Silvestre Varela assinou contrato com o FC Porto para ser o capitão da equipa B, numa estratégia de reforço da formação do Ser Porto, afirmando: «Aquilo que me pediram e que vou fazer é passar a minha experiência e tudo o que aprendi aos mais jovens (…) Quero fazer-lhes ver que nem sempre é fácil chegar ao topo, mas com trabalho e sacrifício tudo é possível. É uma responsabilidade enorme (…) Estou muito feliz por me darem esta oportunidade e vou fazer tudo para cumprir o que me pedem (…) Estou muito feliz.»

O triatleta olímpico João Pereira afirmou: «O desporto em Portugal é bastante difícil, as condições são bastante duras, vivemos muito com base só no resultado. O amanhã é sempre imprevisível, é um ponto que temos de mudar a todo o custo, para dar melhores condições aos atletas.» Para quando mudar?