Todos ganharam

OPINIÃO02.09.202107:00

O fecho do mercado deu-nos a sensação de que haverá equilíbrio na luta pelo título e mais abaixo há subida de qualidade. Bons sinais

TERMINOU anteontem o mercado de transferências na esmagadora maioria dos países europeus e um dos primeiros balanços que se podem fazer é o de que, pelo segundo ano consecutivo, houve contenção nos gastos. Um cenário esperado: a maioria dos analistas e atores principais do circuito previam a continuação do aperto, consequência da pandemia. Houve exceções com raiz nos clubes-Estado (os €117,5 milhões que o Manchester City Emirates pagou por Jack Grealish ou os €35 milhões de salário que o PSG Catar vai pagar por época a Messi), mas globalmente os clubes tiveram aquilo a que em linguagem comum se chama... juízo. Há menos dinheiro a circular, menos receitas de bilheteira e merchandising e por isso menos capacidade de investimento.
Transpondo para Portugal, país líder mundial nos lucros de transferências internacionais nos últimos 10 anos, apenas a transferência de Nuno Mendes nos fez recuar para o passado recente das grandes vendas. Receber €7 milhões  pelo empréstimo imediato mais €40 milhões em 2022 (forma contabilística de camuflar o bolo total) e ainda ver o PSG suportar o salário de Pablo Sarabia foi um excelente negócio  (e com essa novidade: não ter, desta vez, dedo de Jorge Mendes). Não se pode dizer que os leões ficaram a ganhar, porque o jovem internacional português tem tudo para ser um dos melhores do mundo na sua posição, mas no equilíbrio entre o plano desportivo (Rúben Vinagre está a adaptar-se bem e, no ataque, Sarabia vai acrescentar valor não só aos leões como ao próprio campeonato) e financeiro foi um golpe digno de campeão. Pelo segundo ano seguido os leões foram criteriosos no mercado, o que evidencia amadurecimento da estrutura liderada por Frederico Varandas - entre o Sporting de 2019 que fez chegar, no último dia de mercado, de Jesé, Bolasie e Fernando e o de 2021 vai uma distância difícil de medir. Aprender com os erros e o fator Rúben Amorim tem feito toda a diferença.
Também Benfica e FC Porto entraram em setembro mais reforçados. Comparativamente a 2020, o Benfica gastou muito menos mas tem um plantel mais equilibrado. A chegada de um lateral-direito internacional (Lazaro) era uma necessidade à vista de todos desde a saída de Nélson Semedo para o Barcelona em 2017 e com Meité e João Mário o meio-campo ganhou estrutura e espessura. Ainda assim, a águia parece carente de uma opção mais segura para o lado esquerdo da defesa, já que Gil Dias ainda não oferece alternância segura a Grimaldo. Ao nível dos centrais, partindo do pressuposto de que o 3x4x3 será o modelo predominante, não veio mais um defesa que Jorge Jesus pretendia, pelo que André Almeida está quase condenado a adaptar-se à linha de três  atrás e largar gradualmente a linha de quatro mais à frente e Ferro terá de reencontrar de alguma forma a segurança perdida - um caso de estudo sobre o elevador da fama dos jovens jogadores e como a força mental é tão ou mais importante que as capacidades físicas, técnicas e táticas.
No FC Porto, a permanência de Corona, Luis Díaz e Sérgio Oliveira foi uma boa notícia para Sérgio Conceição - ainda que péssima para a SAD, que vê o buraco financeiro aumentar e cujas consequências serão visíveis a médio prazo. O técnico dos dragões vai precisar de algumas semanas para fazer regressar à terra os internacionais mexicano e português, que se viram impossibilitados de dar o salto para uma liga mais competitiva, mas Conceição tem uma vantagem: aos azuis e brancos calhou um dos grupos mais competitivos na história do clube na Liga dos Campeões. Não há melhor estímulo para os jogadores, mesmo para Corona, que a partir de janeiro pode decidir o seu futuro, arriscando a engordar a lista dos craques que entraram no Dragão com alto investimento (€10,5 milhões, ainda na época da parceria com a Doyen) e que abandonam a Invicta a custo zero - mais um erro de gestão de Pinto da Costa abafado pelo enorme capital de confiança conquistado no passado.
Se a isto juntarmos um SC Braga reforçado e a uma ligeira melhoria global das equipas de média/pequena dimensão podemos acreditar numa competição mais equilibrada em 2021/2022. Haja algum otimismo.