Surpresas e realidades
No futebol, não se podem separar os intervenientes; todos têm de assumir a respetiva responsabilidade
MAIS importante do que aumentar as polémicas que criam conflitos, é imprescindível perceber os sinais que as jornadas nos indicam. Algumas vezes o início da época para uns, é um sonho concretizado para outros, uma surpresa inesperada, um momento de desequilíbrio ou um começo com muitas dificuldades.
Claro que para muitos as emoções subvertem a racionalidade e as contrariedades acontecem. Todos os intervenientes no jogo têm de assumir as inerentes responsabilidades e também o mérito de arranque venturoso. Terá havido qualidade, descuido ou impreparação para iniciar a nova época?
As guerrinhas e provocações acabam sempre por ter alguma influência e também aumentam o clima de violência. Por estes dias, no ranking europeu, já estivemos atrás dos Países Baixos, depois numa jornada com bons resultados, voltámos a ocupar o 6.º lugar, e num momento voltámos a descer. No futebol, não se podem separar os intervenientes: todos têm de assumir a respetiva responsabilidade. A arbitragem continua a não atingir o patamar que se exige. Os erros são muitos e alguns decisivos: o pontapé de canto, nos derradeiros momentos, do FC Porto, nos Açores, deu origem ao golo de empate com base num erro inaceitável: a bola saiu pela linha lateral, logo seria lançamento com as mãos e nunca pontapé de canto. Quem falhou? Como e porquê? São estes pormenores que afundam equipas para os lugares de risco, assim como as exibições eficazes que levantam a moral e a confiança.
Todos os treinadores pretendem elevar o nível qualitativo dos seus jogadores, construir planos de jogo com eficácia e uma equipa coesa, forte e com entrega total. O espetáculo que o futebol também constrói tem de ter as melhores condições e o ritmo mais intenso para encantar os adeptos. A imprevisibilidade do jogo determina as tendências, em função da qualidade de prestação dos jogadores.
A última semana foi um bom exemplo. E se o líder respira vitória e confiança, os clubes que disputam o título não conseguiram ligar o jogo, manter intensidade, deram muitos espaços livres e não construiram lances para golo: por vezes a descontracção e a falta de humildade impedem a qualidade. Nos 90 minutos, tudo tem de ocorrer com determinação. O Arouca, em casa, conseguiu vencer pela primeira vez o Sporting, com uma forte aplicação e o cumprimento do plano traçado.
Por outro lado, o jogo e as competições sofrem ataques sistemáticos, não para fazer golos, mas para penalizar o futebol, de forma grave e com suspeições que se antecipam às realidades, cujas consequências, algumas vezes, acabam no enorme fosso do esquecimento… mas as dúvidas são sempre pedras no caminho.
Um antigo delegado da Liga, esclareceu pseudónimos utilizados para designar árbitros e não só, o que originou a chamada de um árbitro no ativo, ao tribunal. A notícia é um não-romance, embora as personagens sejam mencionadas com nomes artísticos. Foi convocado um outro, como testemunha, para contribuir para «a descoberta material da verdade». Divulgam-se nomes de código de vários intervenientes e assim se atacam não as balizas mas a credibilidade do futebol. Que a verdade seja breve e transparente para se erradicar completamente esta suspeição que nos desprestigia.
Estamos num momento de viragem: ou mantemos esta dúvida persistente de eventuais influências nos resultados, ou finalmente conseguiremos substituir quem já deu provas de que não tem contributo de valor para acrescentar, bem pelo contrário.
A transparência não evita falhas humanas, mas há erros que são naturais e fazem parte da nossa vida; esses aprendem-se a corrigir e contribuem para um futebol mais competente e sedutor.
E porque de negócio se fala mais do que do jogo, a entrada no capital social da SAD do Braga pelo fundo Qatar Sports Investments, poderá ser um dilema inquietante: e se o fundo do Catar pretender comprar mais ações, a SAD fica mais poderosa e o clube como pode ficar? O futuro ditará a sua sentença!
Por outro lado, antigas glórias do nosso futebol pedem o regresso de Rafa à Seleção Nacional, como se se tratasse de um desentendimento. O que se passou foi um abandono intencional da convocatória e, portanto, a Seleção Nacional não pode ser uma estalagem em função de apetites. Trata-se da nossa Seleção, que o atleta não quis integrar. Criar uma novela e manter a análise serena dos factos, não pode permitir a desvalorização da Seleção, porque opção unilateral e pensada. A equipa de todos nós não pode aceitar pressões e vontades pessoais perante decisão confirmada, após o que se passou. Os jogadores são adultos e sabem bem o que fazem. Não acredito que Rafa pretenda regressar à Seleção, porquanto foi categórico na sua resolução e certamente manterá a coerência de uma atitude refletida. Com a Seleção, não está em causa um ou outro jogador, mas a posição perante as opções livremente escolhidas para o nosso País.
UEFA E LIGA
Aderrota do Braga, na Alemanha, numa grande penalidade, foi ingrata e injusta para os bracarenses. Como o Saint-Gilloise venceu na Suécia, apurando-se para os oitavos de final, ao Braga resta vencer o Malmo em casa e esperar por uma derrota ou empate do Union Berlin, para conseguir disputar o play-off com uma equipa da Champions ou transitar para a Conference League: o que um penálti muito discutível causou!
Na 6.ª jornada da Champions, Benfica e FC Porto já tinham confirmado o apuramento para os oitavos de final. O Sporting esteve a vencer, na segunda parte perdeu o jogo e segue para a Liga Europa. A nível nacional, o Marítimo conquistou 3 pontos vencendo em Paços de Ferreira, os dois clubes ocupam os últimos lugares da classificação. O FC Porto deslocou-se aos Açores, marcou nos primeiros minutos, não conseguiu ligar o jogo e acabou sofrendo o empate nos últimos momentos, num lance com erro grave de arbitragem, como já foi referido: coincidências? Os dragões ocupam a terceira posição na classificação. O Benfica recebeu o Chaves, marcou cedo, controlou o jogo e goleou: a moral está elevada, lidera com mérito, mas nunca há certezas absolutas e com garantia duradoura. O Arouca, jogando em casa, lutou bastante, muito unido e conseguiu finalmente vencer o Sporting, que passou para a sexta posição. O Braga venceu em Barcelos e isolou-se no segundo lugar. O V. Guimarães venceu o Famalicão e subiu para a quarta posição, com os mesmos pontos do Casa Pia. O Sporting ocupa a sexta posição, mas a Liga ainda está num terço da prova e muita água vai correr debaixo da ponte.
Numa grande competição, que se destaca por ser atípica (com polémicas nunca esquecidas) vai acontecer uma paragem significativa das provas nacionais e não só (entre Novembro e Dezembro: Mundial-2022); será imprescindível analisar as consequências desse Mundial do Catar para o futebol e não só, a nível planetário, identificar as principais conclusões, avaliações e responsabilização das eventuais consequências diretas, para o presente e futuro.
REGRESSO DO CAMPEÃO
NÃO é importante descobrir as razões do afastamento de CR7. Imprescindível é contribuirmos para uma nova fase de sucessos. O nosso campeão, melhor jogador e o maior marcador de golos do mundo, tendo atravessado uma fase menos feliz, regressou e certamente vai voltar a dar grandes alegrias a Portugal. A memória não pode ser curta e, para além do entusiasmo que uns possam ter e outros não, CR7 será sempre um ícone do país. Por vezes, até os fantásticos têm momentos infelizes. Com a reentrada no Manchester United e com golo, poderá ser a fase de reencontro com as exibições memoráveis, não esquecendo que se aproxima o Mundial do Catar, onde será peça imprescindível a todos os níveis. Não sabemos a estratégia motivacional do treinador do United (Ten Hag, tem revelado dimensão humana e profissional sem abdicar de princípios essenciais) contudo, pelo que se conhece do seu trabalho e competência, desejamos que o mister o consiga motivar. A fase menos boa parece estar a desanuviar e esperamos o regresso do campeão ao seu melhor nível. O futebol português precisa da sua presença, mas como elemento decisivo e líder de uma seleção com vários jovens a quem ajuda a crescer com confiança. Na vida de todos nós, há momentos menos felizes; por isso aguardamos com expectativa o reaparecimento do craque em grande forma.
RESPOSTA À PORTO
DEPOIS do último jogo, na liga, que nunca se deve esquecer pelo desequilíbrio, apatia, falta de intensidade, o FC Porto regressou à sua qualidade, velocidade, dinâmica, competência e ligação de todos os jogadores, com espírito notável de entrega ao jogo, com uma circulação eficaz, uma organização eficiente e alternando ritmos, construiu ataques envolventes que criaram diversos lances de golo. Foram dois mas poderiam ter sido mais, pois não faltaram oportunidades. Jogo muito duro do Atlético, mas os dragões foram firmes, lutando com consistência e determinação. Excelente prestação que colocou os azuis e brancos como primeiros do respetivo grupo.
REMATE FINAL
– Finalmente aprovado pela FIFA, o regulamento de Clearing House vai permitir a transparência, centralizando os procedimentos entre clubes, compensações e clareza das transferências e muito mais. Eis uma medida urgente.
– Iniesta só agora divulgou o impacto sofrido pelo falecimento de Dani Jarque, aos 26 anos, ocorrido há mais de 10 anos. Esse acontecimento trágico causou dor tão profunda que o marcou ao ponto de ter sofrido depressão. Procurou apoio clínico, sentiu-se mal e teve de ser medicado. «Perdi a vontade de viver… não sentia nada». Iniesta, apesar do tempo passado, manteve a terapia. «A vida ensina-te que a depressão e as doenças mentais podem afetar qualquer um. Não recuperei disso, a recuperação é no dia a dia». A coragem de um craque ao partilhar a nossa condição humana, que muitos adeptos confundem apressadamente com semideuses, quando afinal todos somos idênticos.
– Jorge Paixão, treinador do Al Yarmouk, do Koweit, salvou a vida do jogador Nasser, do Burgen SC, e a imprensa elevou-o a herói: «Estava em paragem cardiorrespiratória e não hesitei em ajudá-lo», disse Paixão. Nas 24 horas anteriores, soubera da morte do treinador de futsal, Rui Guimarães, de 37 anos, que também trabalhava no Koweit, vítima de paragem cardiorrespiratória. Lamentável a ausência de cursos associativos de primeiros socorros e suporte básico de vida… Erro que pode ficar muito caro!