Supertaça Cândido de Oliveira

OPINIÃO30.12.202003:00

Para entender o simbolismo da Supertaça, é imprescindível referir breves notas sobre quem a FPF homenageia com essa competição. Cândido de Oliveira, um dos grandes protagonistas do nosso futebol: aluno da Casa Pia, jogador, treinador, dirigente, jornalista... Foi um dos fundadores do Clube Atlético Casa Pia, jogou no Benfica, foi capitão da Seleção Nacional no primeiro jogo internacional da Equipa das Quinas (1921), nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, foi selecionador e treinador da nossa Seleção, escreveu vários artigos para diversos jornais, foi treinador do Sporting (no tempo dos Cinco Violinos), campeão nacional, treinou o Flamengo no Brasil e após o regresso a Portugal treinou o FC Porto e a Académica de Coimbra. Juntamente com Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, fundou o jornal A BOLA. Antes de falarmos do jogo, é justa esta referência sobre quem dá o nome ao troféu.

No passado dia 23 do último mês do ano, jogou-se mais um título: o primeiro da época 2020/2021. Um clássico e mais uma vitória do FC Porto. Jogo com qualidade (que alguns teimam em desvalorizar) que colocou frente a frente duas grandes equipas e dois grandes treinadores. FC Porto conseguiu ser melhor. Em relação às estratégias, opções táticas, posicionamentos, organização defensiva, controlo do corredor central e ataque objetivo, respetivas dinâmicas, atitude competitiva e concentração, a equipa de Sérgio Conceição esteve melhor e foi um digno vencedor. O trabalho de casa, mais uma vez, foi muito bem feito.
Jogo intenso, bem disputado, emocionalmente exigente, com a coesão e a garra da equipa do Norte a criar espaço para a criatividade. Jogo digno de duas grandes equipas com vitória justa. Destaque para o capitão Pepe, num regresso que exigiu capacidade de sacrifício para todos os jogadores que concretizaram o plano de jogo, oferecendo ainda um brinde de Natal: a jogada do golo de Luis Díaz!

Liga

A jornada 11 trouxe algumas surpresas: Gil Vicente, na sua primeira vitória fora, foi vencer a Famalicão e o Nacional derrotou o Tondela (onde param as exibições do Dragão?). Farense empatou com Paços de Ferreira. Belenenses SAD, no melhor jogo da época, perdeu por 1-2 com o Sporting (mais um triunfo tangencial), desperdiçou uma grande penalidade e cinco oportunidades com jogador isolado. Rio Ave perdeu 1-3 com Marítimo e o Boavista perdeu em casa perante um SC Braga muito forte. Na Luz, Benfica ganhou pela margem mínima ao Portimonense (2-1). Moreirense venceu Santa Clara (1-0). Em Guimarães, o jogo teve uma importância acrescida para além do resultado final. Num jogo fantástico e emotivo Vitória perdeu por 2-3 com o FC Porto, mais uma vez com as mudanças eficazes de Sérgio Conceição. Foi um reencontro que se deseja sempre entusiasmante mas pacífico, para permitir curar feridas injustas, manter desportivismo e reencontrar Quaresma. Para isso, nada melhor do que um jogo bem disputado que honrou condignamente, até ao fim, as camisolas de cada clube.

Substituições adicionais por concussão cerebral

A partir de Janeiro, o IFAB (International Football Association Board) vai testar a substituição adicional. Sempre que um jogador sofra pancada violenta na cabeça, deve ser retirado do campo para avaliação clínica, porquanto os efeitos podem revelar-se não no imediato mas após algum tempo. Essa substituição visa salvaguardar a saúde do jogador. Procura evitar-se uma segunda pancada que coloque em risco a sua integridade física. Uma concussão cerebral não pode ser subestimada por constituir um grave perigo. Especialistas da arbitragem defendem a substituição permanente, em alternativa à substituição adicional, porque a pressão sobre o jogador pode levá-lo a forçar o regresso com perigo. Essa nova lei para o futebol é indispensável. Pelos riscos que podem acontecer, a substituição permanente parece a mais adequada. É preferível tirar do jogo um atleta após pancada violenta na cabeça, do que lamentar-se mais tarde as consequências de uma má decisão.

Maior solidariedade para todo o futebol

A Associação das Ligas Europeias (EL) reuniu-se com a UEFA para discutir a distribuição mais solidária de receitas das competições do espaço europeu, para os próximos anos. A UEFA, a ECA (Associação Europeia de Clubes) e a EL vão procurar uma repartição de verbas mais justa. Pretende-se que todas as Ligas nacionais recebam não os €140 M mas o dobro. A ECA, apoiante da Superliga, com projeto para favorecer os clubes mais poderosos, certamente tentará travar essa alteração. A EL confirma que o atual plano de distribuição de receitas, aumenta a distância das condições competitivas e não ajuda a inverter as grandes dificuldades dos clubes que não integram as Big Five. Defender as Ligas Europeias, os clubes com acesso às competições europeias, é urgente, como forma de proteção do equilíbrio competitivo das ligas nacionais. Apoiar quem mais necessita e não somente quem se classifica anualmente para as provas europeias, garante a solidariedade tão falada, mas nem sempre cumprida. A duplicação da verba para cada liga nacional, será conseguida do orçamento da Champions. Solidariedade não pode ser somente uma palavra vã.

Futuros desafios do VAR

HÁ dias o Sporting organizou a sessão VAR Future Challenges. O Presidente do Conselho de Arbitragem da FPF afirmou: «As pessoas que estão no VAR sofrem pressão para tomar a decisão certa. Há situações de interpretação, o que para mim é claro em termos de um erro para outra pessoa não é. O stresse e a pressão são os principais problemas nas decisões erradas do VAR. Temos de treinar muitas horas, educar na implementação do VAR. Não temos de mudar muito as leis do jogo. Em algumas delas sim, ligeiras mudanças, mas temos é de trabalhar na linha de intervenção e no treino dos árbitros, dos que estão no terreno e no VAR.»
A tecnologia é usada em todos os jogos da Liga. A competência é essencial. Sem ela, não há tecnologia que valha. Se não possuem capacidade para controlar o stresse e a pressão, não podem ocupar esses lugares.
Um erro grave pode dar uma descida ou um título, com as inevitáveis consequências financeiras.
O VAR foi garantido como auxiliar precioso. Tem uma grande margem de acerto mas os erros, mesmo em percentagem muito baixa, são decisivos, alimentando desconfiança cirúrgica e potenciando suspeições e conflitualidade.
O árbitro de campo é um exemplo de gestão de stresse, caso contrário perdia-se no jogo. Quem não é competente como árbitro não o será como VAR. Tecnologia da Linha de Golo é infalível porque não há intervenção humana. Urge uniformizar critérios para evitar arbitragens díspares. Investir mais na formação de jovens árbitros, como alternativa para selecionar os melhores. Ver as imagens e ouvir a comunicação entre árbitro e VAR, nos ecrãs do estádio (como já acontece no râguebi) é um modelo de transparência que merece reflexão. 

Remate final 

Eduardo Oliveira, fisiologista do FC Porto, falou do treino como um dos processos essenciais para a prevenção de lesões, porque visa potenciar a robustez física, mantendo a consistência no decurso do período competitivo (treino de força, velocidade, melhorar a resistência aeróbia/anaeróbia): «A evidência científica demonstra claramente que atletas mais robustos têm menos risco de lesão e recuperam mais rápido das cargas de treino e de competição. Por outro lado, cada atleta tem um perfil fisiológico que está identificado e o treino/recuperação visa potenciar ao máximo as características individuais do jogador, enquadrado também no processo coletivo.» Convém recordar que o FCP foi a equipa nacional com maior carga competitiva durante Novembro e Dezembro. A ciência, ao serviço da inteligência e da cooperação, permite avanços fantásticos.