Superar obstáculos

OPINIÃO19.01.202305:30

O nosso futebol carece de uma refundação competente que defenda o que nos distingue e preserve heranças e talentos reconhecidos

OS países procuram equilibrar tradição com modernidade, nas diversas áreas. Uns conseguem melhores resultados do que outros, em função da capacidade para manter os objetivos de progressão. O futebol, como manifestação de emoções e comportamentos, torna-se um universo de descobertas, mas também de enganos e retrocessos. A concentração com que se vive o jogo, seja um protagonista ou um adepto, em momento de criação intensa, envolve-se para cumprir um desígnio: lutar para tentar vencer, como se cada partida fosse um simulacro de combatividade que vem das origens ancestrais. Por isso, tudo o que for prejudicial ao jogo, tem de ser enfrentado com eficácia para se poder ambicionar mais qualidade, atração e dedicação.

Nos últimos anos, um determinado árbitro conseguiu errar sistematicamente, prejudicando sempre a mesma equipa, quer na marcação de grandes penalidades, quer nas expulsões. E quem age dessa forma deveria, a devido tempo, sair do jogo, evitando mais suspeições que ferem o desporto no seu destino essencial. Contudo, após atingida a idade de não mais poder apitar, foi selecionado para a função de VAR: prémio, quando deveria ser castigo! Naturalmente, ninguém muda tão radicalmente e, assim, continuou a acrescentar erros, curiosamente sempre prejudicando o mesmo clube, por animosidade, ou outra razão inconfessável. Será alergia às cores do equipamento (azul e branco)? Basta recorrer às imagens televisivas para verificar falhas imperdoáveis, que lhe permitiram manter-se a desvalorizar o jogo na sua essência: erros de 2017 a 2022 como árbitro - 7 grandes penalidades, 6 expulsões; como VAR - 3 grandes penalidades, 4 expulsões.

O facto de Portugal não ter um único membro da nossa arbitragem no último Mundial, poderá não ter sido apenas por incapacidade, mas também por outras eventuais decisões. O nosso futebol carece de uma refundação competente, para defender o que nos pode distinguir e preservar heranças e talentos que o mundo reconhece. Com tantos e importantes erros, alterou classificações finais, quer nos títulos, quer nas descidas de divisão. A questão que se coloca é: como pode continuar a sua carreira com sucessivas marcas, mantendo as tendências? Casos desse teor são um risco para o prestígio do nosso futebol e, curiosamente, quem o convidou deveria ter uma capacidade de análise mais rigorosa, para evitar escolhas similares que não são únicas, ou haverá algum acordo? A imparcialidade não pode servir como capa que esconde situações infelizes, quer por competência ou por outro motivo qualquer, mas subvertendo a matriz do jogo.

Errar é humano e compreensível, desde que se assumam os casos infelizes que se devem corrigir. Interferir no jogo, não só com erros incríveis, aplicando decisões contraditórias, até com sinais a dar impressão de atitudes provocatórias dirigidas a jogadores, não é atitude admissível. Neste caso, há sempre quem se esqueceu que muitos ouvem bem e que existem especialistas que sabem interpretar linguagem labial e gestual. Qual a razão para esse tipo de comportamentos? Será alergia, falta de liberdade, inimizade ou incapacidade? Retirar as funções exigentes a quem não revela equidade, só tem uma alternativa: «convidado a sair».

Não queremos ser a «Jangada de pedra» que se afasta do desenvolvimento, mas antes parte ativa do desenvolvimento global, ao qual estamos ligados pela ação dos nossos cientistas, artistas, população em geral e também pelo futebol. O mundo vive uma conjuntura complexa, com riscos intensos e, portanto, tudo o que permita entendimento e remar para o mesmo destino, é imprescindível. Mas isso começa em cada um, na sua forma de construir diálogos, de aceitação das diferenças, na tolerância que racionaliza e na capacidade em conseguir acordos que travem os abusos e as prepotências.

Com um esforço de todos e as escolhas bem pensadas, Portugal beneficia e pode ser exemplo, desde que cada um cumpra a sua parte, com diálogos abrangentes e justiça sustentada. É este futebol que atravessa a fase de construção das candidaturas próximas, que podem criar futuros que unem, evitando jogos de poderes e alianças que, normalmente, prometem «a terra e o céu» e acabam por se tornar em paladinos da desgraça e controladores do que pertence ao país e não a um núcleo restrito que está sempre pronto para o usar como entender. Promessas, acordos restritos e também silêncios prolongados podem ser indícios simbólicos para disfarçar insuficiências e manterem-se na onda. O futebol, como o país, merece muito mais!
 

LIGA PORTUGAL

AS diferenças pontuais, nu- ma época atípica, podem não ter a influência habitual. Há clubes que vivem alguns conflitos internos, questões de tesouraria e soluções urgentes para vender jogadores com lucros que permitam manter expectativas num patamar elevado. O problema é sempre a pontuação adquirida e essa questão ainda vai ter muitos momentos inesperados. E se há clubes envolvidos na eventualidade de transferências por verbas muito importantes, num percurso com riscos e com pouca margem de retrocesso, outros apostam mais na formação e qualificação dos seus grupos de trabalho, procurando tirar partido das capacidades e até desenvolvê-las a níveis que só grandes treinadores conseguem.

No nosso FC Porto, a mística é essa e, com Sérgio Conceição, atingimos um projeto imparável que cada dia permite o crescimento e valorização de cada jogador, para níveis muito elevados. O Braga recebeu o Boavista que equilibrou o jogo, mas o golo do clube minhoto (que nasceu de um erro individual) logo na entrada após o intervalo, acabou por ser decisivo, reforçando a confiança do matador oficial: Vitinha. A presença do novo selecionador de Portugal foi notada nesse jogo, na sua tarefa de recolher elementos. O Paços, finalmente, alcançou a sua primeira vitória, vencendo em Vila do Conde. Vizela deu um salto classificativo ao derrotar o Marítimo que não conseguiu reagir porque aos 5´ já perdia por 2-0. No dérbi de Lisboa, sempre um clássico, um jogo equilibrado, muito disputado, o Sporting marcou sempre primeiro e o Benfica empatou sempre. Na segunda parte, os encarnados aproveitaram os enormes espaços sem marcação e conseguiram controlar o jogo, enquanto os leões perdiam rapidamente a posse da bola, embora desperdiçando uma oportunidade fantástica, nos momentos finais. O FC Porto entrou forte, decidido, organizado e marcou 4 golos na primeira parte (Galeno 2, Otávio e Taremi), controlando o jogo. Na segunda parte, o Famalicão procurou jogar com mais intensidade, objetividade, conseguindo subir mais no terreno e obtendo um golo, nunca desistindo de tentar equilibrar, mantendo o seu modelo de jogo. Mas o FC Porto teve sempre o domínio do jogo. O Estoril venceu o Casa Pia e o Gil Vicente derrotou o Guimarães.
 

RUMOS 

Aligação dos jogadores e das jogadoras de futebol aos clubes, pode perder-se a grande velocidade e acima da lealdade para com o clube. Hoje os milhões de adeptos, modificam a tradição, porque em vez de se reforçar o clubismo, a competição extravasa para um confronto de campeonato de seguidores de ídolos. Os fãs acompanham o ídolo seja em que clube estiver. Esse novo campeonato para ver que jogador tem mais seguidores nas redes sociais, adulterou o futebol.

Há anos a máxima era «Pensar global. Agir local». Porém, a dinâmica social e as tecnologias passaram a agir global, acompanhando o ídolo sempre para onde for e, assim, o clube perde algo imprescindível, o envolvimento do clube como família. Por vezes, a ligação dos jogadores aos clubes perde-se a grande velocidade. Atualmente, os milhões subvertem a tradição e, em vez de reforçar o clubismo, a competição extravasa o confronto para vencer quem tem mais seguidores, nas redes sociais.

Fica a impressão de um estilo de canibalismo, para criar uma eventual, mas fictícia, pertença de mordomias de outro mundo, que agregam milhares com a ilusão de uma amizade e uma transferência virtual. Já não se privilegia o clube, mas antes o ídolo que se adora, seja em que clube esteja. Essa eventual amizade virtual tem algo de encantatório, mas nada de real. O sonho de conhecer os paraísos e as somas astronómicas que os ídolos arrecadam, facilita a identificação por osmose. Quem tem mais seguidores impessoais a nível mundial deveria vencer, para alegria dos fãs, o troféu sonho de ouro.

Curiosamente, até as amizades se tornam efémeras e tecnológicas. Saudemos os clubes que têm adeptos reais e não mudam de camisola quando o craque vai para outras paragens: respeita-se a saída do jogador transferido, mas só o clube é uma realidade que une e faz sentido. A palavra amigo vai perdendo significado, correndo-se o risco de tornar-se num vocábulo fora de uso.

Por outro lado, há intervenções públicas vindas da FPF que misturam silêncios profundos e impercetíveis com exagero de egos que não deveriam conhecer-se e ainda viagens para tentar remediar o inevitável: receio, vaidade ou dependência! E assim seguem os futuros interessantes que muitos aguardam…
 

REMATE FINAL

— O Dragão, antes do jogo com o Famalicão, foi palco de uma excelente notícia sobre Carlos Secretário, antigo jogador azul e branco, após ter recuperado de problema de saúde, no regresso ao estádio azul e branco e ouviu-se uma mensagem importante: «Sê bem-vindo de volta à tua casa». Nesse momento, o colega Domingos entregou-lhe uma antiga camisola com o seu nome. Após o jogo, Conceição manifestou satisfação pela recuperação do amigo. «Vi-o numa situação muito complicada e tive o prazer de o ver com outro estado de espírito e em grande recuperação. Aqui está em casa, estamos todos a apoiar». O FC Porto divulgou nas redes sociais imagens de momento de confraternização entre o antigo lateral e Conceição.

— Após várias décadas, José Maria Pedroto «passou o troféu» de recorde de vitórias a Sérgio Conceição que, no último jogo, já alcançou os 301 jogos com 217 vitórias, sempre com a presença do Presidente Pinto da Costa, que até acrescentou: «Sérgio vai continuar a ganhar títulos». A partir de agora, Sérgio vai ampliar esses recordes…

— Em recintos desportivos, espaços de concentração de adeptos e festejos de vitórias, será punido quem tiver na sua posse, distribua ou use pirotecnia, com crime de 5 anos de prisão, ou multa até 600 dias. Demorou, mas lá conseguiram aperfeiçoar a legislação. Finalmente!