VAR(e) de nada
'Direito ao golo' é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro, advogado
Esta semana volto mais uma vez à arbitragem e ao VAR. Escrevo estas linhas antes de mais uma jornada, logo tudo o que aqui for escrito pode, ao dia de hoje, ser ainda mais corroborado com os erros que possam ter existido. E atente-se à primeira palavra que quero destacar, erros. Pensemos juntos: em campo temos um árbitro profissional, dois assistentes profissionais, um quarto árbitro profissional. Fora do campo temos um VAR e um AVAR profissionais.
Eu, o caro leitor, os jornalistas deste jornal, todos já errámos num determinado momento da nossa vida profissional. Tal como os árbitros. Mas todos nós tentamos, de uma maneira ou outra, apetrechar-nos com ferramentas que nos permitem corrigir e minimizar potenciais erros. E os árbitros também, com o VAR a ter à disposição inúmeros monitores, imagens de todos os ângulos, repetições infindáveis.
Voltamos então ao nós, já que todos podemos interpretar a mesma situação de forma diferente, logo, o árbitro e o VAR também. Mas vejamos: se alguém assalta outra pessoa e há imagens, isso é roubo. Não há interpretação possível dos factos. Se um defesa derruba propositadamente um adversário na área, se as imagens o comprovam, é penálti.
Deixo dois exemplos recentes: no Sporting-Santa Clara houve incompetência do árbitro no penálti não assinalado sobre Geny Catamo. Pior, o VAR que teve imagens, repetições, tudo à disposição, ficou calado. No Arouca-Benfica, que os encarnados venceram confortavelmente por 2-0, Otamendi pisou Ivo Rodrigues na sua grande área, num lance que não suscita qualquer tipo de dúvida, era penálti. O VAR, em mais um silêncio confrangedor, não auxiliou Luís Godinho. Por tudo isto, este texto acrescenta mais uma importante palavra: incompetência.
Sim, há quem lhe chame roubos, mas eu, sem provas, não acredito. Entenda, amigo leitor: se nós, com boas ferramentas, errarmos repetidamente no nosso trabalho, o mais certo é sermos despedidos. Se árbitros e o VAR, com treinos, aulas, leis bem definidas, imagens, repetições, não conseguem assinalar penáltis tão simples como clamorosos, têm de mudar de vida. E quem paga — e não é pouco — para ver futebol tem de saber, definitivamente, quais as consequências quando os videoárbitros cometem erros grosseiros. Não se pode aceitar, indefinidamente, que se continue a desculpar tudo.
Uma reflexão: onde está a classificação clara e percetível dos videoárbritros? Como são avaliados e por quem? Portugal seja no futebol, na política, nas empresas, tem de elevar os seus padrões de qualidade, de rigor, ou seremos sempre os pobres simpáticos do país do sol, da praia, do fado e dos erros que são apenas infortúnios da ocasião. Ainda há quem se espante de os estádios estarem vazios?