Somos o que fazemos, não o que dizemos
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Somos o que fazemos, não o que dizemos

OPINIÃO21.12.202309:11

Em 27 possíveis apuramentos para as eliminatórias da Champions, o FC Porto conseguiu 18: é obra!

A coerência é uma das capacidades que nos ajuda a manter equilíbrio saudável, contribuindo para limitar excessos de alegria e afundar em tristezas. Por vezes, castigamos treinadores e jogadores, com vernáculo infeliz, quando podemos analisar com clubismo, mas sem cair no mais profundo insulto, mesmo que efémero.

Em 27 possíveis apuramentos para as eliminatórias da Champions, o FC Porto conseguiu 18: é obra! Curiosamente, com toda a polémica que envolve a relação de clubes, acaba por ser curioso que a vitória dos azuis e brancos contra os ucranianos tenha possibilitado a entrada dos encarnados no Mundial de Clubes, em 2025, a seguir aos dragões. Não é preciso agradecer, pois os azuis e brancos cumpriram mais uma vez a sua tarefa, com brilhantismo. Ambos poderão fazer um encaixe de muitos milhões de euros, só como entrada.

Sérgio Conceição conseguiu cinco presenças nos oitavos de final da Champions, fez anos, concretamente, 50, do falecimento de Fernando Pascoal das Neves, conhecido como Pavão, ocorrido no dia 16 de dezembro de 1973. No jogo das Antas contra o Vitória de Setúbal, o FC Porto venceu por 2-0, mas numa tragédia anunciada quando Pavão, na 13.ª jornada do campeonato e ao 13.º minuto, fez um passe em profundidade e caiu inanimado. Transportado de urgência ao hospital, faleceu passado pouco tempo. Somente passados vários anos se conseguiu identificar a causa da sua morte, com a identificação desse desenlace como lesão congénita... e a fatalidade aconteceu. No vizinho Hospital de S. João foram tentadas todas as opções. Nos centros de medicina, eram efetuados os exames obrigatórios, controlo de urina, tensões arteriais e pouco mais.

A partir dessa data, muitas mudanças aconteceram, especialmente no cuidado em analisar as condições físicas dos atletas. O drama que tirou a vida ao craque exemplar obrigou a mudança que se tornou essencial para a salvaguarda das condições físicas dos atletas.

O seu funeral encheu as ruas da cidade do Porto, com muitos milhares de pessoas, numa união sentida e silenciosa. Para além da evolução que os exames médicos tiveram, também os métodos de treino foram questionados para se criarem modelos mais adequados e com contributo dos especialistas do esforço físico, mas também as mudanças na evolução tática. Havia jogadores que nesses dias confessavam que iam para o relvado com receio de treinar. O tempo e a entrada de métodos, exames mais adequados, com a tecnologia mais avançada e especialistas do esforço, provocaram uma alteração substancial qualificada, ao longo do tempo.

Hoje, as condições são completamente diferentes, embora haja sempre uma margem de risco, particularmente em termos de paragens cardíacas e não só. A enorme carga emocional aliada a competições exigentes e constantes são sempre áreas que são controladas com as mais recentes tecnologias. Por isso, se devem penalizar as simulações de lesões para evitar desvalorizar aquelas que podem ser graves.

O futebol só ganha com lealdade, seriedade e rigor. Desse modo, porque o universo do futebol é muito sensível e facilmente se incendeia com situações que fomentam confrontos de violência, o jogo tem de ser transparente e cada um deve fazer a sua função e não provocações. O futebol, e ainda com mais intensidade o profissional, tem de ser defendido com a aplicação das regras sem tolerância, em todos os casos em que se ultrapassam os limites da sustentabilidade.

Por isso, a arbitragem também tem de evoluir na mesma velocidade, para que os jogos sejam um espaço de criatividade e emoção e nunca um palco de violência e de confrontos. A nível da Europa (e não só) há casos graves, com consequências dramáticas que têm de ser impedidas e controladas sem hesitação.

Liga

Os tempos evoluem e em vez de se considerarem os jogos somente entre três (FC Porto, Benfica e Sporting) já começa a ser tempo de integrar o SC Braga nessa dimensão. Por isso, esta jornada vai oferecer também dois momentos de grande emoção, que cativam ainda mais os interesses da competição, porquanto os 4 primeiros classificados disputaram esses jogos entre si: SC Braga-Benfica e Sporting-FC Porto, logo a seguir à jornada europeia. Essas quatro equipas, após conseguirem resultados positivos, uns melhores do que outros, vão continuar a jogar para competições internacionais.

O SC Braga, ao sofrer um golo no minuto três, por falha de jogador bracarense, teve influência decisiva na falta de organização da primeira parte, perdendo confiança, sem beneficiar do jogo em casa própria, mas tudo fazendo para tentar ultrapassar esse golo madrugador que deu ao Benfica a tranquilidade para jogar com eficácia. O futebol não perdoa erros decisivos. E foi assim que os minhotos perderam as possibilidades de um começo mais forte e motivante. O Benfica, sem fazer um grande jogo, no primeiro tempo limitou-se a aproveitar as fragilidades (inclusivamente emocionais) dos minhotos. Após o intervalo, o SC Braga dominou toda a segunda parte, mas numa noite de desacerto, embora tenha feito tudo ao alcance, não estava nem para empatar, por mais que os minhotos tentassem de todas as formas; o destino esteve no minuto três, esse início perturbador nunca permitiu ao SC Braga a segurança para concretizar lances e perigo. Curiosamente, o treinador dos encarnados, preferindo um futebol de ataque, desta vez valorizou a qualidade de defender e podia acrescentar um pouco de sorte para as suas cores! Ao SC Braga só faltou concentração total desde a entrada no estádio. O treinador dos encarnados, respondendo a uma questão dos jornalistas, provou que está muito diferente do ano passado e com menos fair play.

O FC Porto foi a Alvalade para tentar descolar e passar para a frente da Liga. Recorde-se que, na jornada europeia, o Sporting venceu por 3-0, controlando o jogo e procurando impedir o contra-ataque do Sturm Graz. No clássico, o FC Porto procurou controlar a construção do Sporting, fechando o corredor central, criando dificuldade à ligação dos leões. Na primeira oportunidade, Gyokeres marcou, com falhas da defesa azul e branca. Os azuis e brancos procuraram a profundidade, sem resultado. A pressão sobre os centrais do FC Porto foi decisiva. Sporting rápido na transição ofensiva e FC Porto com mais posse, mas sem criatividade. Expulsão de Pepe, no início da segunda parte, foi decisiva. Noutra transição, aconteceu o segundo golo dos leões. Arbitragem complicou bastante e perdeu tempo exagerado, com decisões infelizes, dando a ideia de ter perdido o controlo do jogo.

O Famalicão e o Estoril mantiveram um jogo intenso, com oportunidades para ambos, fisicamente muito forte, e o resultado foi um empate a um golo. O Moreirense, num momento de grande qualidade, com o resultado ainda em 2-2, foi alargando a dimensão da vitória, conseguindo mais três golos como um ciclone imparável, sem o Portimonense conseguir responder. O Farense cedeu um empate a zero perante o Estrela da Amadora. O Rio Ave e o Vizela empataram a um golo e a tentarem subir na classificação porque ocupam lugares de risco para despromoção. O Arouca poderia estar a perder na primeira parte, mas o Gil Vicente desperdiçou oportunidades e no segundo tempo o Arouca goleou com três golos sem resposta. O Boavista, vindo de mudança de treinador, com Jorge Couto afirmando que não se alterou muito, sofreu golo do V. Guimarães e assim se chegou ao intervalo. No recomeço, o jogo manteve-se intenso e dividido e, em cima da hora, uma grande penalidade permitiu aos axadrezados o empate no tempo de compensação. O Chaves luta em cada jogo como se fosse o último para tentar sair do lugar mais incómodo da classificação, como aconteceu na última jornada em que sofreu uma derrota perante o Casa Pia por 1-3.