Sinais de alerta

OPINIÃO29.09.202107:00

O que se está a fazer é restringir condições e entregar a bola, que sempre foi espaço de liberdade, a grupo que a tenta explorar

ASSIM como as alterações climáticas provocam mudanças significativas, destruição de meios e questões importantes para a sobrevivência, também o futebol apresenta o seu enorme e perigoso buraco de ozono. Em vez de entendimento e sustentabilidade, uma elite de clubes pretende a fase do gigantismo, dos negócios milionários que um dia, qual vulcão acordado, transformará em pó muito do que se pensava indestrutível. Antes de ser negócio ou indústria, o futebol é um desafio de conservação de espaços e meios humanos, para o reforçar como linguagem comum e de surpresa de talentos. Aos mais atentos, basta revisitar a memória, para se encantar de novo com jogadores e jogadas que são irrepetíveis. O que se está a fazer, de forma leviana, é restringir condições e entregar a bola, que sempre foi espaço de liberdade, a um grupo restrito que a tenta explorar ao máximo, deixando-a reduzido ao mínimo. Como exemplo demonstrativo do egoísmo de quem ocupa cargos nas tutelas internacionais do futebol, continuamos a acompanhar o braço-de-ferro, pelo mundial de dois em dois anos, entre entidades que deveriam ser exemplares a cooperar: «A UEFA está dececionada com a metodologia adotada pela FIFA, que não partilhou a ideia para a discutir», segundo um comunicado da UEFA. Fica a dúvida: quem ocupa cargos nessas instituições, terá noção para onde vai? Ou a liberdade passou a estar cativa dos mais poderosos? É urgente identificar rumos que garantam a sobrevivência do jogo à escala global.
 

LIGA

OSporting e o FC Porto, em vésperas de Champions, venceram os seus adversários. Em Alvalade, o jogo teve 8’ de compensação e foi perto do seu termo que, após expulsão do guarda-redes do Marítimo, Porro decidiu o resultado numa grande penalidade, nos minutos finais. O FC Porto deslocou-se a Barcelos, começou a ganhar com golo espetacular de Taremi (9’), mas o Gil Vicente conseguiu empatar numa grande penalidade (24’). Sérgio Oliveira decidiu o jogo com fantástico golo de livre (89’), num jogo com 6’ de compensação. Ambos os jogos mereciam melhores arbitragens. Destaque para a vitória do Tondela, que conseguiu reverter resultado nos últimos minutos. Em Guimarães o Benfica venceu facilmente um Vitória que não se conseguiu organizar. Nos Açores o Braga marcou primeiro mas o Santa Clara, nunca desistindo, conseguiu o empate. O Portimonense e o Vizela empataram num jogo bem disputado. O Estoril, em quarto lugar é a equipa surpresa, até ao momento.
 

Sporting mostrou melhorias em Dortmund mas foi insuficiente para sequer pontuar


CHAMPIONS

Odesignado grupo da morte juntou equipas muito poderosas e com experiência de vitórias. Com investimentos muito superiores ao FC Porto, temos conseguido superar o poder económico, com grande qualidade de jogo. Na jornada do dia 28, no Estádio do Dragão, o FC Porto, no dia do seu 128.º aniversário da fundação, o resultado não foi feliz. Iniciou com a impossibilidade de Pepe, a lesão de Otávio aos 14’, golos sofridos com falhas incríveis que permitiram os golos do Liverpool, uma equipa de arbitragem que não esteve bem, um golo de Taremi e um resultado final de 1-5, num dia para recordar e corrigir. O Sporting foi à Alemanha jogar com o Dortmund, numa tarefa muito complexa, com um adversário muito forte, corrigiu falhas da primeira jornada e conseguiu equilibrar momentos do jogo. O Dortmund marcou na primeira parte e depois segurou o resultado perante um Sporting em crescimento internacional.
 

TRANSFERÊNCIAS

OS clubes mais poderosos reforçaram-se com as maiores estrelas do firmamento do futebol. Porém, nem sempre isso é suficiente. A equipa que funcionar como um relógio sempre certo, onde cada peça é essencial para não se atrasar ou adiantar, acaba por vencer, pois o processo coletivo é mais importante do que a soma do valor de cada elemento. Grandes investimentos por vezes servem objetivos mediáticos, embora desportivamente fiquem aquém do esperado e dos milhões envolvidos. Outras vezes um jogador confirma-se como excecional, com muitos títulos coletivos e individuais, mantendo-se durante décadas num grande clube e quando decide mudar vai ter a certeza de que tudo se altera. Por exemplo, quando o treinador Pochettino substituiu Lionel Messi, o rosto do jogador foi claro e diferente!
Quanto mais jovens forem os jogadores maior envolvência necessitam. Os milhões são referências que encantam os adeptos, mas sem estruturas qualificadas para crescer podem tornar-se uma espiral recessiva. O que se passa com João Félix (um grande talento) pode servir para aperfeiçoar estratégias que defendam o investimento e valorizem o jogador. A forma como o jovem talento nacional se dirigiu a um árbitro, com o dedo em riste, revela a falta de acompanhamento específico para um crescimento global. Desde a escolha do clube, à cultura da equipa e aos métodos do treinador, tudo tem importância. Não será pelo valor elevado da transferência (mais de 120 milhões de euros) que os adversários vão facilitar, antes pelo contrário. Controlar as emoções, manter equilíbrio e confiança, acreditar nas capacidades e fundamentalmente integrar uma equipa onde o seu potencial possa fazer a diferença. Custa ver talento desperdiçado. O goleador das águias não desaprendeu, só falta equilibrar… e um apoio sustentável?
 

PUNIÇÃO FRÁGIL

POR manifestações de racismo dirigidas aos jogadores britânicos Raheem Sterling e Jude Bellingham e por atos de violência, em 2 de setembro em Budapeste, no apuramento para o Mundial, a FIFA condenou a Hungria a dois jogos à porta fechada, embora o segundo jogo fique suspenso por dois anos. Mais ou menos multa à Federação Húngara, é evidente a falta de rigor e de respeito pelos valores da Humanidade, contrariando a intenção da FIFA em adotar tolerância zero. Não bastam palavras. Na final do Europeu aconteceram situações lamentáveis e a FIFA não teve a dimensão para castigar com a devida medida. Trata-se de uma Federação com práticas repetidas que mostram que  castigos leves e ameaças não resultam. FIFA e UEFA empurram para cada lado, quando deveriam uniformizar penas duras sobre insultos racistas e violência. Aos jogadores e selecionador inglês foram atirados objetos. Em relação ao castigo de jogos à porta fechada, perante o que ocorreu no estádio, não seria mais adequado determinar uma suspensão ou jogarem duas vezes em casa do adversário, sem adeptos húngaros? Para quem repete sem emenda, é imprescindível mostrar quem tem o poder. Sejam frontais e entendam-se se querem mesmo defender o futebol! Em França, a ministra do Desporto quer maior exigência, identificação dos adeptos que ultrapassem limites e punições justas e céleres. A violência e o racismo têm de ser combatidos de forma integrada para contribuir para uma vida mais justa.


REMATE FINAL

— Bruno Lage, treinador do Wolverhampton, que após entrar a perder por 0-2 com o Tottenham conseguiu empatar e só foi eliminado na Taça da Liga por uma grande penalidade, afirmou no final: «Não acredito em azar, o que acredito é em trabalho duro e num bom planeamento de tudo para formar a equipa que quero formar, para jogar assim e ganhar mais jogos pelo clube». Na última jornada confirmou o que tinha dito anteriormente e foi vencer a casa do Southampton por um golo.

— Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia, afirmou: «Partilho plenamente as dúvidas das federações nacionais de futebol sobre a possibilidade de Mundiais bianuais. A Europa é o epicentro do futebol, temos o dever de preservar um modelo que respeite os adeptos, o bem-estar dos jogadores e a lógica do calendário desportivo, e não apenas os interesses comerciais.»

— No fim do jogo em que a Lazio venceu a Roma, Mourinho afirmou: «O futebol italiano melhorou muito desde há 10 anos. A qualidade, a abordagem ofensiva, a vontade de vencer, tudo melhorou. Mas hoje, aqui, infelizmente, o árbitro e o VAR arruinaram um jogo fantástico, pois não estiveram à altura desta partida.»

— Robert Lewandowski foi o primeiro polaco a receber a Bota de Ouro, por ter sido o melhor marcador dos campeonatos europeus, com 41 golos, ultrapassando o recorde de Gerd Muller, que em 1971/1972 tinha conseguido 40 golos.

— O Futebol Clube da Lixa elegeu como presidente da Direção, Luciana Monteiro, e como presidente da Mesa da Assembleia Geral, Cláudia Marques.

— Faleceu recentemente o lendário jogador e goleador do Tottenham, Jimmy Greaves, campeão mundial em 1966.