Simples!

OPINIÃO31.07.202004:00

Definitivamente, Jorge Jesus vai ser apresentado na próxima segunda-feira como treinador do Benfica. A expectativa é elevada, por todas as razões e mais uma, e o impacto garantido. Trata-se do maior clube português, do mais carismático e elogiado treinador português do momento, e da história de amor mais discutida e controversa do futebol português.

Ninguém sabe, ao certo, que revolução vai ou não fazer Jesus no Benfica, se pequena, se grande, e se vai ou não fazer realmente uma revolução. O que podemos presumir é que vai voltar a revolucionar muito do futebol encarnado, dentro e fora do campo, e creio que lhe bastará ser igual a ele próprio, trabalhador, contundente, intransigente, exigente, motivador, formador e determinado.

E simples, como ele é! Porque, sendo o mais difícil, é a simplicidade das coisas, no futebol como na vida, que faz muitas vezes a diferença.
Recordo, a propósito, a forma simples como Jorge Jesus começou por dirigir-se aos jogadores do Flamengo, tão simples que parece tê-los conquistado de imediato, mesmo jogadores de futebol de um país que julga (ou julgava) saber tudo sobre futebol e que todos os outros, os do lado de cá do Atlântico, não sabem nem o suficiente para lhes chegar aos calcanhares.
«A primeira qualidade de um jogador - disse Jesus logo nos primeiros contactos no relvado com os jogadores do Flamengo - é saber pensar o jogo; a segunda é saber decidir; só depois vem a capacidade de execução. Para eu executar bem tenho de saber decidir e saber pensar. A execução em primeiro lugar? Isso não existe!»

«Primeiro têm de pensar o jogo, entender o jogo; depois, têm de saber decidir a quem passam a bola e só depois é que executam!»
É simples. Mas deu o genial resultado que deu. Simples!

TERÁ alguém compreendido a decisão do interino treinador do Benfica, Nélson Veríssimo, de deixar, no jogo com o Sporting, o atacante Vinícius no banco quando era ele quem lutava, com Pizzi, pela BOLA de Prata de melhor marcador do campeonato? A justificação do treinador deve ser tão científica que ninguém, cá fora, deve ter estudos para a descortinar.

Já agora, terá alguém compreendido a decisão do interino treinador do Benfica de atirar o jovem Gonçalo Ramos para a bancada (no mesmo jogo com o Sporting) depois do jovem Ramos ter feito dois golos, no jogo anterior, na Vila das Aves? Veríssimo não deu sequer ao promissor Ramos o prémio de o levar para o banco num jogo tão carismático como é um derby, mas lá está, cientificamente, deve ser essa a gestão emocional que ensinam alguns treinadores a fazer com os jogadores.
Nós é que não o compreendemos!

JOÃO NORONHA LOPES, de 53 anos, reputado gestor com formação jurídica, sócio 5001 do Sport Lisboa e Benfica, que acompanhou Manuel Vilarinho quando este, em 2000, se lançou e venceu as eleições para a presidência, já veio dar a cara e apresentar a intenção de vir formalmente a ser candidato à liderança encarnada nas eleições de meados de outubro.

Depois de ter começado como suplente na direção de Vilarinho, recordo que João Noronha Lopes se tornou vice-presidente efetivo no verão de 2001, ocupando o lugar do então demissionário Mário Negrão, que era vice-presidente para a área financeira e saiu por não concordar com a construção do novo estádio.
Exatamente pela mesma razão vieram, ainda em 2001, a demitir-se João Carvalho (agora apoiante de Noronha Lopes) e Fonseca Ferreira, presidente e vice do Conselho Fiscal, respetivamente, já depois, porém, de também Luís Nazaré (que recentemente se demitiu da presidência da Assembleia Geral) se ter demitido da liderança daquele mesmo Conselho Fiscal, igualmente por discordar do processo para a construção do novo Estádio da Luz. Foi o que ficou na história.
Agora, quase vinte anos depois, Noronha Lopes volta a aparecer. Mas não pode propriamente  dizer-se que tenha começado bem, ao mandar avisar os meios de comunicação apenas umas horas antes de falar no Centro Cultural de Belém.

Pior ficou, certamente, com esta embrulhada de apresentar como seus apoiantes campeões europeus como Mário João e Fernando Cruz e algumas horas depois ver-se desmentido por Cruz, que diz apoiar Vieira, e Mário João, que se pôs à margem de candidatos.
Uma coisa chata!

NENHUM adepto merece passar pelo que estão a passar os adeptos do histórico Vitória de Setúbal e os adeptos de um Desportivo das Aves que ainda há dois anos foi o vencedor da Taça de Portugal. Se não fosse trágico seria comédia premiada o que têm sucessivamente vindo a viver, e a sofrer, os adeptos dos dois clubes, sobretudo os do Vitória sadino, na sequência da gestão desastrosa de sucessivas equipas diretivas, incapazes de inverter o caminho do abismo.

Depois do lamentável espetáculo criado à volta da SAD do Desportivo das Aves e da sua principal equipa de futebol, o que parecia realmente difícil era evitar o triste fim esta semana anunciado pela Liga de atirar o emblema da Vila das Aves - e, agora, também o V. Setúbal - diretamente para… o Campeonato de Portugal, ainda que nestas coisas, nada como aguardar pelos recursos, não vão as entidades julgadas competentes transformar, como na Europa aconteceu com o Manchester City, decisões corajosas e indispensáveis em multas para continuar a enganar o pagode.

Já o Vitória de Setúbal, um histórico absoluto do futebol português, caído em desgraça há já um par de anos, não tem mais, pelos vistos, a possibilidade de se agarrar a qualquer das boias de salvação que o foram mantendo à tona. Apesar de algumas boas prestações nas Taças (de Portugal e da Liga), os últimos dez anos foram na maior parte das vezes de luta, muitíssimo sofrida, pela manutenção na Primeira Liga, sempre num sufoco até às últimas jornadas da competição.
Todos sabem como o Vitória tem vivido nos últimos anos situações dramáticas do ponto de vista financeiro, adiando permanentemente o cumprimentos de muitas das suas obrigações, ao ponto, por exemplo, de ainda esta semana o treinador José Mota der dito ao semanário Expresso que o clube ainda lhe deve, imagine-se, um ano de salários do tempo em que lá trabalhou, entre 2011 e 2014.

Vale a pena, aliás, recordar, com a devida vénia ao Expresso, as palavras de José Mota tornadas públicas no último sábado, verdadeiramente importantes, e até, de algum modo, decisivas, quem sabe,  para levar a Liga a tomar, finalmente, a decisão que tomou, cumprindo apenas… os regulamentos!
Recorda José Mota:
«Saio do V. Setúbal porque, mais uma vez, não pagavam, estou com um ano de salários em atraso que até hoje ainda não me pagaram.»
E conta:
«[o caso…] Está, está em tribunal. Entretanto entraram no PER, aquelas coisas todas, aquelas habilidades que os clubes fazem. Mas saio do V. Setúbal porque já lá estou há dois anos a fazer, penso eu, um grande trabalho, a valorizar esses jogadores e eles a venderem, mas os salários nunca regularizavam. Venderam o Rúben ao Valência, não regularizaram, venderam o Meyong para o Kabuscorp de Angola, não regularizaram, e era sempre assim e não havia dinheiro. E isto é uma frustração.»
Pergunta-lhe a jornalista do Expresso:
«Os clubes não são obrigados a regularizar os ordenados para poderem continuar a inscrever jogadores?»
«É essa pergunta que eu faço à Liga e a quem de direito. Como é que é possível? Antes de continuarem a vender têm de regularizar as dívidas que têm. A questão é mesmo essa: a Liga sabe perfeitamente os clubes que estão em dívida e porque é que continua a garantir que eles possam participar? Eu faço-lhe essas perguntas, eles sabem isso perfeitamente. A Liga é responsável. Agora vemos esta situação do Aves e outras situações. Porquê? Quem é responsável? Alguém tem de ser responsável no futebol português. Não pode competir, não pode competir, vá competir com quem é sério. Agora, continua a haver clubes a não pagarem, a não cumprirem com as suas obrigações e todos os anos a endividarem-se ainda mais e eles continuam a autorizar que esses mesmos clubes possam competir, portanto há aqui alguma coisa que não bate certo. A Liga sabe que o Vitória de Setúbal me deve dinheiro. O que é que eles fizeram até hoje? Nada, a mim e a muitos outros. É que estamos a falar do nosso trabalho… É o lado, o lado negro.»
Pois é, é o lado negro! Oxalá os que têm a responsabilidade de conduzir, escrutinar, regular e fiscalizar este nosso futebol português, tenham, de uma vez por todas, coragem de o tornar menos negro!

CARLOS XISTRA deixou a arbitragem, após 28 anos de carreira. A BOLA TV queria, naturalmente, ouvir o que o árbitro teria para dizer nesta altura em que pendura, também ele, as chuteiras e arruma o apito. A BOLA TV falou com Carlos Xistra já depois de Carlos Xistra ter falado para o canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol, e Carlos Xistra mostrou-se disponível para falar para A BOLA TV, apenas teria A BOLA TV de pedir autorização à Federação Portuguesa de Futebol. A BOLA TV pediu autorização à Federação Portuguesa de Futebol para falar com Xistra mas a Federação, através de um dos assessores para a comunicação, respondeu que Xistra não poderia falar.
Nem sei, sinceramente, o que dizer!

PS: Joga-se este sábado a final da Taça de Portugal, que a pandemia torna igualmente histórica, porque lhe tira a festa habitual, o ambiente popular, o carisma e a magia única daquelas finais de Taça de Portugal que nos habituámos a ver no Estádio Nacional, apesar das incontáveis, ásperas, desagradáveis e insolentes considerações que volta e meia levavam (e levam) o presidente do FC Porto a julgar que mais vale, afinal, ser engraçado do que cair em graça, e, pelo menos, meio País a elogiar-lhe a «habitual ironia», que serve há anos para justificar o modo como o senhor (apesar do direito que lhe confere, naturalmente, a liberdade de expressão) decide muitas vezes dizer o que diz, mesmo a mais deselegante, inconveniente e, naturalmente, criticável declaração como a que fez após ver a equipa portista sagrar-se campeã nacional, sugerindo, para ter público no estádio, a organização de «(…) uma tourada, mandamos vir os touros lá de baixo e faz-se aqui uma tourada e depois já que as pessoas estão dentro podem assistir ao futebol!»
Só desejo que o espetáculo deste sábado, em Coimbra, seja, no campo, tão nobre como tão pobre é, por vezes, fora dele!