Sem esplendor na relva

Sem esplendor na relva

OPINIÃO11.05.202306:30

Com uma final [de taça] entre dois clubes do Norte, o jogo disputar-se-á numa região próxima da localização onde ambos residem

ATaça de Portugal volta a ser o jogo da época. Trata-se de uma tradição única e símbolo do nosso futebol, porque coloca frente a frente equipas de diversos campeonatos a disputarem o jogo pelo jogo. E é aí que os resultados se concretizam e onde não há grandes nem pequenos, mas sempre os que conseguem vencer. Depois de ganhar em Famalicão, o FC Porto apurou-se para a grande final.

Azuis e bancos a toda a largura, tranquilos e com mais posse. Famalicão entrou com agressividade, defendendo em dois blocos juntos, para retirarem espaço aos dragões. A surpresa da Taça é inevitável e, assim, com intensidade e muita disputa pela bola, o Famalicão marcou primeiro. Passados uns minutos, o FC Porto empatou num penálti tão evidente que poderia dispensar o VAR. O ritmo do jogo aumentou e as surpresas deixavam indícios do que iria acontecer. Para o FC Porto seria importante não sofrer mais golos porque o campeonato vai entrar numa fase onde não é útil ter um desgaste físico intenso. Mas a Taça de Portugal traz sempre momentos inesperados. Entretanto o Famalicão, com velocidade, criava momentos com muita pressão. Na segunda parte, o Famalicão começou com mais posse e o jogo teve uma fase com muitas faltas por assinalar. Sérgio Conceição foi fazendo as substituições para reforçar a dinâmica da equipa.

Perto do fim, o Famalicão marcou e o resultado empatou a decisão de quem iria para a final. No prolongamento, na primeira parte, à medida que o tempo decorria, surgiram erros, imperfeições e muita emoção. FC Porto fez as substituições decisivas, com o Famalicão a vencer por 1-2 (igualando o resultado que os azuis e brancos tinham conseguido na primeira mão), a dois minutos para terminar o jogo e para se entrar na eventual fase da marcação das grandes penalidades. Entretanto, surgem dois lances geniais, um golo de excelência de Otávio e, no minuto seguinte, o golaço de Evanilson. Certamente que com uma final entre dois clubes do Norte, o jogo disputar-se-á numa região próxima da localização onde os dois clubes residem, evitando viagens longas e sem sentido. O resto que possa ter ocorrido não merece grande destaque, porque o jogo foi muito sofrido, mas acabou com a entrega total dos que lutam até ao segundo final.

Ficou uma sombra que deixou marcas lamentáveis, um descalabro comportamental, por falta de pulso e liderança do juiz da partida. Uma triste realidade que nunca deveria ter invadido o relvado, que deveria ter sido elogiado e acabou por não o merecer, porque houve momentos que nunca podem acontecer e que causaram um ataque muito infeliz à dignidade do futebol. Que sirva como aviso para o futuro que se pretende muito melhor. Insultos são sempre incapacidades não resolvidas, ausência de aplicação certa das leis. É indispensável uma profunda reflexão que fortaleça as virtudes e qualidades que o futebol possui e que é preciso preservar. Quem esteve no estádio, quem sentiu essa noite infeliz, que reveja o que aconteceu, que faça uma análise do que poderia ter sido evitado. As chamas, alimentadas por várias fontes, com clubismos e fóruns televisivos egocêntricos, a continuar assim, vão causar graves danos e o elevado custo a ter de suportar, será enorme e coletivo.

Formação de árbitros com o máximo rigor, procedimentos uniformes, arbitrando com eficácia e com apoio de VAR, que nunca pode errar (se o fizer de forma grave tem de ser expulso, porque os investimentos atingem milhões), assim como um protocolo de comportamentos que dignifique o jogo e Portugal. O erro pode sempre acontecer, por exceção e não por hábito e, desse modo, saibamos todos cumprir os valores, os quais temos de defender das constantes insinuações incendiárias. Que esse jogo da Taça seja também um exemplo para aprofundar o que pretendemos para o futuro. O futebol é um conflito assumido entre inteligência, estratégia e resultados, em função de cada clube e, como só um é campeão (além de outras classificações), o campeonato não pode aceitar favoritismos, nem influências, mas antes criar as condições para quem conseguir superar os adversários com toda a lealdade. Se assim não for, o futebol português, ninho de muitos talentos fantásticos corre o risco de se banalizar e nunca sair desse deserto de areias movediças. Oposição é salutar, ódio é inaceitável. Não é por dizer mal de um clube ou de um atleta que os resultados mudam. E se a mudança viesse também dos comentadores?


PREVISÃO CONFIRMADA

Adivulgação das equipas de arbitragem passou a ser outro campeonato. No jogo da Luz, no qual o Braga muito ficou aquém do esperado, o centro das atenções, mais uma vez, transformou algumas decisões de um árbitro, num desempenho com decisões e momentos evitáveis, que contribuíram para o desprestígio do jogo. Todos os jogos são decisivos na conquista de títulos e nas descidas de divisão. São consequências que já deveriam ter mecanismos de aperfeiçoamento. Enquanto os árbitros mantiverem influências inaceitáveis na classificação final, o nosso futebol dificilmente conseguirá credibilizar o jogo e vai caindo no ranking da UEFA. Nesta última jornada, duas decisões tiveram mais influência direta do árbitro do que o rasgo de talento de qualquer jogador, no Estádio da Luz. 

Praticamente, confirmaram-se as dúvidas e num espetáculo lastimável, o árbitro foi perseguindo quem queria punir: que vergonha nacional e internacional. Portugal tem árbitros que deveriam abandonar o jogo, porque as confusões são tantas, desviando a concentração do foco prioritário: a cultura de imparcialidade. O futebol não pode ser um palpite de lotaria, com influências que podem subverter a verdade desportiva. O prestígio da nossa arbitragem está muito abalado e o CD da FPF tem noção das realidades e, certamente, aguarda pela inevitável mudança, nas próximas eleições. O jogo não pode ser universo de tendências, inclusivamente nas próprias nomeações em função dos jogos, quando temos alguns árbitros mais jovens a terem excelentes prestações, mas nunca nomeados para jogos que definem títulos.

Certamente que em 2024 teremos uma nova FPF, onde o rigor seja evidente, para se conseguirem mudanças estruturais que nos permitam voltar a ter equipas de arbitragem nacionais com talento, imparcialidade e qualidade, para apoiar o que temos e não é aproveitado. A prepotência, o historial de erros que decidiram campeonatos, até ao momento, deixam uma triste e lamentável imagem da arbitragem, sempre com confusões e casos, nunca com tranquilidade competente. Sucessivamente, ficam muitas dúvidas recorrentes, mas também algumas certezas. É urgente aperfeiçoar o modelo da arbitragem, porque só dessa forma poderemos contribuir para qualificar um setor que é origem de preocupação sistemática e de muitas dúvidas. Caso contrário, enquanto perduram as polémicas incendiárias, dificilmente a nossa arbitragem regressará a um Mundial. Que as próximas eleições federativas se transformem num salto qualitativo de transparência e excelência!

Depois de um árbitro, na meia-final da Taça de Portugal, ter afirmado que «Ouvi outra coisa, que não percebi» e da perseguição para sancionar elementos do Braga, usando métodos que no Dragão foram apelidados de guerra  inaceitável, será que na Luz foi diferente ou ainda pior? Futebol como jogo, arte e inteligência, com artistas predestinados para lances de excelência e beleza, não pode ter árbitros sem qualidade porque prejudicam a nossa evolução. Do Braga na Luz, vimos uma equipa que tem praticado um bom futebol, a surpreender por se tornar uma equipa insegura, apática e bloqueada, não conseguindo mostrar o seu potencial. Acontece a muitos! Claro que as confusões, junto aos bancos das equipas, deverão ter provocado efeitos nefastos e emoções não controladas. Árbitros assim não deveriam ser indicados para jogos dessa dimensão. Quem nomeou, merecia análise fundamentada para nunca mais repetir. O Conselho de Disciplina vai ter de agir perante atos com gravidade ocorridos no Estádio da Luz. As lamentáveis imagens dos acontecimentos não podem ficar impunes. Aguardemos pela decisão de quem as tem de aplicar.


LIGA

OSanta Clara, mantendo justificada esperança, venceu, nos Açores, o Gil Vicente. O Boavista mantém esperança de poder melhorar a classificação. O Marítimo não conseguiu mais do que um empate e o próximo jogo poderá definir o futuro.  O Guimarães conseguiu vitória folgada perante o Vizela.  O Sporting foi a Paços de Ferreira golear e manter esperança. O Famalicão, equipa coesa e forte fisicamente, desdobrando-se em velocidade, marcou primeiro; porém o Chaves, taticamente muito organizado, com eficaz circulação, conseguiu vencer. O Arouca, equipa com estratégia bem definida, pressionando alto, não conseguiu marcar ao FC Porto que, mais uma vez, circulou com eficácia, apesar do enorme esforço pela acumulação de jogos e mais uma vez com Marcano a fazer o golo da vitória, sempre em luta pelo título até ao fim. A importância da perda de pontos no início da prova, acaba, muitas vezes, por definir situações de perigo de descida de divisão, bem como de conseguir o título. A competição premeia regularidade das vitórias, sem resultados mais descuidados.


O CONVITE

Opresidente da APAF, terá sido eventualmente convidado para liderar o futuro Conselho de Arbitragem (CA), pelo presidente da AF Lisboa para integrar a sua lista, para as eleições da FPF, em 2024. Para já, confessou que está concentrado em realizar os objetivos da APAF para o seu desenvolvimento. Também aproveitou para elogiar o trabalho do atual presidente do CA e acrescentou que ele ainda tem muito a dar à arbitragem nacional. O nosso futebol precisa de uma evolução que mude paradigmas e consiga aperfeiçoar padrões de excelência, e isso é muito mais complexo!


REMATE FINAL

— Sérgio Conceição, completou o seu 500.º jogo como treinador de futebol mas, em vez de sentado no banco, foi obrigado a deslocar-se para um camarote, porque está suspenso preventivamente, após o jogo para a Taça de Portugal, tendo conseguido o apuramento para a final.

— Ao fim de 33 anos, o FC Porto, em hóquei em patins, voltou a conquistar a Champions.

— Guardiola sobre o seu jogador Haaland afirmou: «É incrível, e especial, e tem apenas 22 anos. Ainda tem mais cinco jogos da Premier League para marcar. Quantas vezes já o substitui com ele a já ter um hat trick em 60 minutos? Talvez tivesse marcado muito mais mas também se poderia ter lesionado. Ele é único…»