EDITORIAL Rui Costa e a crítica a Schmidt
Ninguém está acima da crítica. Há que ter a humildade dos homens e não o poder de deuses
Rui Costa decidiu tomar partido no vibrante confronto entre adeptos do Benfica e o seu treinador. Fê-lo em nome da estabilidade da equipa de futebol e dos interesses económicos do seu clube. Percebe-se a intenção, mas, de facto, não foi tão hábil quanto deveria ter sido. O presidente do clube é, essencialmente, o representante executivo dos sócios e dos adeptos e se deve solidariedade e apoio institucional a todos os funcionários do clube, inclusive ao treinador, não deve menos aos benfiquistas que maioritariamente criticam Roger Schmidt pelos resultados apresentados na sua atividade profissional, sim, mas, muito, pela sua afirmação de soberba e superioridade. Não é aceitável que um funcionário do clube aconselhe publicamente os adeptos e os sócios a não irem ao estádio se não gostarem do que veem. Muitos milhares de sócios pagam com as dificuldades das suas vidas severinas para gostarem de ver a sua equipa jogar bem, dar espetáculo e, se possível, ganhar. Se a equipa jogar mal ou não ganhar, a solução para que os jogadores e o treinador não sintam a pressão nos seus deveres profissionais não estará num estádio vazio. E sejamos claros: os sócios de qualquer clube têm o direito de criticar os jogadores, o treinador e até o presidente. Mesmo que não tenham razão, pagam para isso, enquanto os outros recebem vencimentos suficientemente generosos para poderem aprender a aguentar críticas.
Eu sei que outra questão diferente é a do respeito, ou da falta dele. Evidentemente, que nem mesmo no futebol, palco de emoções menos racionais e proporcionadas, se deve consentir a falta de respeito para com qualquer profissional, que faz o que pode e o que sabe, mesmo que não seja o expectável. Mas essa é uma questão que se deve colocar num outro plano. Esses sócios, ou adeptos que faltam ao respeito ao treinador, aos jogadores ou ao clube, como aconteceu, por exemplo, em San Sebastián, devem ser punidos e até expulsos dos estádios e, nesse aspeto, até penso que a reação de Rui Costa tem sido demasiado condescendente e tolerante. Porém, não é falta de respeito pelo ator fazer uma pateada no teatro, ou sair a meio do filme. Ninguém, num país livre e democrático está acima da crítica e todos os que são criticados têm de saber ter a humildade dos homens e não o poder ilimitado dos deuses.