Rúben, o cavaleiro solitário

OPINIÃO15.10.202206:30

Rúben Amorim ainda não tem experiência de momentos como este que o Sporting vive. É tempo de não ficar exposto e de aparecer o presidente

É entendível a política de comunicação do Sporting. Não há discursos cruzados, quem fala sobre futebol e sobre a equipa é o treinador. Ponto final. Funciona muito bem do ponto de vista estratégico, evita permissibilidades externas, consolida a liderança, desperta um sentimento de responsabilização no qual se pode confiar mais.

Não me tem, aliás, passado despercebido a indiscutível coerência de Frederico Varandas, que se apaga na sombra dos bastidores, algo que, de resto, não é muito comum nos presidentes de futebol, em Portugal.

O problema surge quando nasce uma situação inesperada que altera os pressupostos essenciais.

Neste momento, e sobretudo depois dos jogos com o Marselha, o Sporting tem uma equipa psicologicamente afetada, descrente, diria, mesmo, assustada e até paralisada na sua capacidade de reação. Espera que lhe apareça uma luz na escuridão e fica globalmente ainda mais afetada, à medida que se vão crucificando jogadores, a título individual, como Adán, Esgaio, Pedro Gonçalves ou Paulinho. Um rio tumultuoso que inevitavelmente desagua nos ombros de Rúben Amorim.

Neste ponto, espera-se que funcione, em pleno, a estratégia delineada para a comunicação. Rúben é o homem forte e tem pela frente a missão de se impor, de resolver e de se fazer anunciar como um imperador que tanto pode levantar o polegar como baixá-lo e condenar quem entender.

Há, porém, um problema novo e inesperado. Rúben começa a ficar demasiadamente exposto e até pela sua inexperiência, que não se evita apenas com o seu talento, surge aos olhos de todos como um género de cavaleiro solitário a correr desenfreadamente na pradaria, não se sabendo muito bem para onde e para quê.
 

Rúben Amorim está sob pressão


Este é o momento exato em que o presidente tem de aparecer e de encontrar um pretexto, seja ele qual for, para falar aos seus adeptos, ao seu treinador, à sua equipa e, não menos importante, às equipas dos outros, manifestando uma serena confiança e uma indiscutível manifestação de solidariedade que não se dá por satisfeita com um comunicado ou com uma dica de informação institucional.

Rúben e boa parte dos jogadores do Sporting precisam de ajuda para arrumarem as suas cabeças, conseguirem respirar e pensarem na melhor maneira de darem a volta.

Muitos dirão, o que tem óbvios traços de realismo, que a administração leonina não pode querer o sol na eira e a chuva no nabal, ou seja, não pode dar uma clara prioridade à área financeira em detrimento dos objetivos desportivos. Ou por outra, pode ir por esse caminho, mas não pode surpreender-se pelo facto dos resultados serem piores. Dito isto, também é verdade que, com estes jogadores, o Sporting já fez muito melhor e, pelo menos, já mostrou ser capaz de ser uma equipa forte, competitiva e solidária, o que não é sinónimo de brilhante.

Esta paragem no campeonato é um bom momento para encarar o problema de frente e dar sinais claros de que entre os muros de Alcochete e nos gabinetes de Alvalade ninguém está à espera que venha uma fada madrinha para resolver problemas que existem e que são, aliás, muito concretos.

E, sobretudo, não se pense que o indiscutível talento do treinador pode, em certas circunstâncias, resolver ou tapar inevitáveis carências próprias da sua juventude, da sua inexperiência e, portanto, da sua imaturidade. A juventude tem sempre a virtude da ambição, da tentação pela aventura, da paixão pela modernidade, mas é da condição humana que aprenda mais com os problemas do que com as soluções. 
 

DENTRO DA ÁREA – FESTA DA TAÇA MAGIA DO FUTEBOL 

Para muitos pequenos clubes a Taça continua a ser a grande festa do futebol. A oportunidade das gentes da terra verem grandes jogadores e grandes equipas ao vivo. São momentos de verdadeira promoção nacional do futebol e, ao mesmo tempo, servem de uma necessária descompressão das equipas que jogam em muitas frentes. Daí que, por vezes, surjam quase inexplicáveis surpresas e quando isso acontece, todos nós dizemos que acontece Taça, ou seja, acontece a magia do futebol que continua a atrair multidões. 
 

FORA DA ÁREA – E ESSA COISA DO COVID-19?

Houve tempo em que o país vivia em pânico - lembram-se?... não foi há muito tempo. Não podíamos tocar num corrimão sem depois nos desinfetarmos, não podíamos passear por um passeio marítimo e as lojas tinham quotas apertadas de clientes. A epidemia foi-se esfumando com a vacinação e ficámos todos com o direito a um verão em liberdade, mas com indicações de que o Covid-19 fora de férias, mas iria voltar. Não tem conseguido matar o suficiente para voltar às televisões e a verdade é que o SNS mantém-se num indolente silêncio.