Risco Funesto
GONÇALO RAMOS parece que será o mais recente futebolista emigrante português em Paris. E, contrariamente à imagem de tantos conterrâneos nossos do passado, ao menos não vai com uma mão à frente e outra atrás. E de lá sairá, certamente, com os bolsos mais recheados. Deseja-se-lhe tanta sorte desportiva quanto em euros. Merece-o pelos 107 golos em 238 jogos de vermelho com apenas 22 anos. Sou contra a corrente defensora dos 65 milhões a que podem acrescer 15 milhões por objetivos. Mesmo quando se tenta convencer os mais desatentos que os objetivos são “fáceis” de alcançar pois o PSG massacrou em 8 das últimas dez ligas. Ponto um, não sabemos se os objetivos limitam-se à conquista de troféus (nacionais ou internacionais) ou se dependem do desempenho de Ramos. Ponto dois, quem permite deixar passar a mensagem cá para fora tanto tempo (como o SLB permitiu) que está disposto a largar um atleta por 80 milhões quando o próprio tem uma cláusula de rescisão na ordem dos 120, sabe que “a pronto” não significa vender por 65 mais qualquer coisa. E esta ilação abstém-se de contemplar que tanto o atual como o seu ex-agente irão ganhar exatamente o mesmo cada um: 10% do valor da venda, ou seja, 6.5 milhões para aquele que Luís Filipe Vieira carinhosamente apelidou de táxi (há coisas que não mudam) e outra verba idêntica para um escritório sediado em Lisboa. Fica ainda a nota para o facto dos agentes cobrarem por base no fixo e não no variável. É legítimo retirar-se as seguintes conclusões: a SAD não considera Ramos suficiente para o projeto desportivo (não sendo sequer aposta futura para se vender mais caro) ou parece que necessitam de dinheiro (que atire a primeira pedra uma SAD que não careça). Goste-se ou não do estilo de Ramos, tenha-se em atenção que ele encarna uma garantia de golos (raro de se ver) e é o ativo mais valioso da SAD (com a sua saída, passa a ser António Silva). E isto sem tocar na sua mais valia que aumentará pela presença contínua e assegurada na seleção nacional. Merecia uma despedida ao mais alto nível com a supertaça mas nem isso se exigiu, certamente, pelo risco de lesão. Risco este como em todos os negócios. Ficava, recuperava e continuava a marcar...