Recordes sem obsessão

OPINIÃO07.04.202107:00

No futebol ao mais alto nível não se podem permitir ansiedades redutoras para o coletivo quando se procuram marcas individuais

T ODAS as obsessões podem bloquear a razão e a liberdade criativa. Querer fazer mais e melhor é desafio natural e imparável; transformar essa vontade em fixação constante, pode ter resultado contrário. Torna-se mais eficaz viver o momento com a máxima entrega e disponibilidade.
É inegável que Cristiano Ronaldo atingiu uma dimensão única no futebol mundial.
No Luxemburgo marcou o 103.º golo ao serviço da Seleção Nacional, ultrapassando o deserto de quatro jogos sem golos validados, o que estava a provocar falta de confiança e de inspiração.
Quer frente ao Azerbaijão, quer na Sérvia (onde lhe anularam um golo legítimo), não marcou e somente contra o Luxemburgo CR7 obteve o segundo golo de Portugal na vitória por 3-1.
Ronaldo não falhou um único minuto dos três jogos (como Anthony Lopes e Rúben Dias) e ficou a seis golos de diferença do iraniano Ali Daei (o recordista mundial de golos em seleções, com 109).
Quanto a golos para Mundiais, Cristiano leva 38 marcados (incluindo fases de qualificação e final) e tem condições para ultrapassar o guatemalteco Carlos Ruiz, que totalizou 39 golos, apenas mais um do que CR7.
Ronaldo estreou-se no futebol sénior ao serviço do Sporting a 14 de agosto de 2002 (19 anos ao mais alto nível).
São números extraordinários, reveladores de uma capacidade única, contudo o futebol é desporto no qual a equipa tem sempre de ser a prioridade máxima. Com inteligência, talento, colaboração e empenho, os recordes podem ser superados, mas sem obsessão e com a naturalidade das grandes exibições, sem ansiedades redutoras para o coletivo.
 

«É inegável que Cristiano Ronaldo atingiu uma dimensão única no futebol mundial»

Liga

OPortimonense foi à Madeira golear o Nacional que luta para fugir à descida de divisão. O FC Porto recebeu o Santa Clara e, no Dragão, o jogo foi equilibrado, com o visitante a disputar a posse da bola com personalidade e os azuis e brancos a vencer nos últimos momentos. O Rio Ave recebeu o Gil Vicente, num jogo intenso, e a expulsão de Filipe Augusto (73’) acabou por penalizar os vila-condenses e o Gil venceu: 2-1. O Belenenses SAD foi derrotado por um Boavista com empenho e confiança, conseguindo três pontos preciosos, mesmo jogando só com dez, a partir do minuto 66’. O Tondela foi a Guimarães derrotar o Vitória, marcando cedo, cedendo empate na primeira parte mas, na segunda parte, González bisou e decidiu o jogo. Chicotada psicológica e Bino passa a ser o novo treinador do Vitória. O Famalicão, com excelente subida de rendimento, venceu com todo o mérito o Paços de Ferreira. O Farense sofreu golo do SC Braga, empatou ainda na primeira parte, mas a equipa minhota, nos minutos finais, marcou o golo da vitória. O Benfica recebeu o Marítimo, último da classificação, vencendo por 1-0, golo de grande penalidade. O Moreirense sofreu golo do Sporting, a meio da primeira parte, mas desta vez foram os visitados a empatar no final do jogo: 1-1.
 

Talento e eficácia

N A Eslovénia, Portugal entrou bem na fase de grupos do Europeu de sub-21, vencendo a Croácia por 1-0, no dia 25 de março. A equipa tem jogadores talentosos, que disputam campeonatos internacionais exigentes, incluindo a nossa Liga principal. O golo da vitória foi da autoria de Fábio Vieira, do FC Porto, com assistência de Dany Mota, do Monza. Contra a seleção inglesa, no dia 28, Portugal controlou o jogo, com futebol apoiado, veloz, com organização defensiva e construindo lances de perigo junto à baliza inglesa. As substituições permitiram a Portugal manter a posse de bola e marcar dois golos, por Dany Mota e Trincão, liderando o grupo. No dia 31, Portugal venceu a Suíça, por 3-0, sem sofrer golos, controlando o jogo. Jogadores de muita qualidade que encaram os desafios com coesão, eficiência, velocidade, alegria e vontade de vencer. Na primeira parte, um cruzamento preciso permitiu ao central Diogo Queirós inaugurar o marcador. Na segunda parte, Trincão e Francisco Conceição (com 18 anos, o mais jovem atleta a marcar golo na seleção de sub-21) colocaram o marcador em 3-0. Portugal apurado para os quartos de final (três jogos, três vitórias, seis golos marcados e nenhum sofrido) para defrontar a seleção italiana, a 31 de maio. Para o selecionador Rui Jorge, as felicitações por um trabalho consistente e excelente. Muitas felicidades para o que falta jogar.
 

Futebol com memória

A S duas mãos da eliminatória entre FC Porto e Chelsea, dos quartos de final da Champions, serão jogadas em Sevilha, no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán. A primeira mão já hoje, a segunda mão no próximo dia 13. A este nível, todos os pormenores podem ser decisivos. Em 2002/2003, em Sevilha, o FC Porto conquistou a Taça UEFA, vencendo o Celtic (por 3-2) num jogo fantástico e emocionante, no Estádio Olímpico dessa cidade. Memória para refletir e motivar!
A decisão de se disputarem ambos os jogos em Sevilha tem a ver com as limitações à circulação de cidadãos entre Portugal e Reino Unido, devido ao Covid-19, porque a suspensão dos voos entre esses países perdura até 15 de abril.
 

Até quando?

Opresidente da Liga, Pedro Proença, afirmou que o VAR é financeiramente insustentável, nas competições abaixo da I Liga. Confirmou os elevados gastos com a remuneração dos árbitros e que o VAR tem custos «muitíssimo elevados».
Reforçou que as despesas com a tecnologia são incomportáveis para se poder usar nas outras competições. Se o VAR possibilita um serviço de excelente qualidade para a verdade desportiva, então deveria alargar-se!
Quando o presidente da Liga faz depender a dimensão da nossa competição em função da nova Champions, não será uma cedência da nossa liberdade?
Por outro lado, a confiança que manifesta sobre a redução do rácio entre os clubes, a propósito das verbas atribuídas, em função da centralização dos direitos televisivos (a entrar em vigor apenas em 2028/29), não será demasiado otimismo?
Valorizar a marca e internacionalizá-la são metas interessantes e importantes, mas faltam estruturas sólidas e mantém-se a instabilidade das relações entre clubes e tutelas, o que não ajuda muito. Quanto à afirmação de não diminuir as verbas dos clubes grandes e aumentar as receitas dos mais pequenos, cria perplexidade, a não ser que Portugal consiga fontes de receitas inovadoras. Talvez esteja para breve o maior patrocínio de todos os tempos… Será mesmo, ou apenas um momento de exaltação?
 

Contradição

Q UANDO se aprovam decisões para todas as competições, não podem existir exceções. Referimo-nos às condições dos estádios e à presença de tecnologia exigida para que as competições tenham os mesmos meios. Se não conseguirem cumprir essas obrigações não podem competir nessa prova. Cristiano Ronaldo ficou a pedir o golo legítimo com que Portugal venceria a Sérvia. Nesse momento do erro crucial, o mundo inteiro ficou a saber que nesse estádio e nessa competição (apuramento europeu para o Mundial do Catar) não havia VAR, nem tecnologia de linha de golo, ou seja, o básico que a competição exige. A FIFA quer as mesmas condições para as respetivas competições mas, paradoxalmente, deu às confederações o poder de decisão final? Que entidade é esta que permite não uniformizar as regras?
Pior ainda é a FIFA saber que há países sem a tecnologia que as provas impõem, mas deixar correr, porque a prioridade são as receitas de milhões, mesmo sem os investimentos decisivos. Afinal, para que servem os altos cargos nas maiores instituições globais do futebol? Aguardemos reação da FPF! 
 

Remate final

O presidente do FC Porto, numa entrevista, afirmou: «Prejuízos de cerca de 27 milhões de euros num ano. Num clube de futebol isso é trágico. Este ano pagámos à Segurança Social 42 milhões de euros, mais sete milhões de encargos que pertencem ao FC Porto (…) O governo continua sem nos pagar a devolução do IVA que nos é devido e que devia ter pago no ano passado. E são alguns milhões que nos fazem falta para cumprir com as nossas obrigações (…) Não tivemos nenhuma facilidade de pagamento de impostos. Pelo contrário. Parece uma tentativa de nos asfixiar, não devolvendo o que é nosso (…) É lamentável que o Governo dê como prioridade, sem ouvir os clubes, uma decisão para 2028 (a centralização dos direitos televisivos), como se os clubes não tivessem de viver até lá. É o país e os governantes que temos.»