Razões olímpicas
Tribuna Livre é um espaço de opinião em A BOLA, esta da responsabilidade de Diana Gomes, antiga atleta olímpica e candidata da Lista B a secretária geral do Comité Olímpico de Portugal
O Comité Olímpico de Portugal passou a ser uma das minhas moradas vitalícias em 2004, quando me qualifiquei para os Jogos de Atenas. Era muito nova, e até hoje permaneço ainda como a mais jovem de sempre.
Esta é uma relação que nasceu cedo e que, durante estas mais de duas décadas, se foi adensando e intensificando. Fiz, pela primeira vez, parte da direção da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) logo em 2009, após a minha segunda participação nos Jogos Olímpicos, em Pequim, porque já na altura tinha interesse pelos assuntos que estavam por trás da acção do atleta, pelos processos que se viam superiores e inatingíveis aos atletas. Por esses tempos, a CAO era uma entidade recentemente criada, no seio do COP, por implementação imposta pelo COI.
E, na altura, nós, atletas, éramos ainda algo incómodos. Lembro-me de nesse mandato, fruto de muito trabalho e persistência, se ter alcançado uma identidade e um posicionamento da voz do Atleta sem precedentes. Foi nesse mandato que nasceu o Gabinete de Apoio ao Atleta Olímpico, integrado na estrutura orgânica do COP, e ali foram dados os primeiros passos para a implementação de medidas de apoio à transição de carreira.
Recordo também que foi durante esse mandato que se viveram momentos duros, pelos quais os atletas se viram duramente prejudicados na sua preparação para os Jogos Olímpicos de Londres, fruto do corte orçamental nos contratos-programa em 2011, especialmente as modalidades que mais eram financiadas e que mais cortes receberam. Curioso período temporal este que agora vivemos, em que quem executou esse mesmo corte é hoje candidato a presidente do COP, prometendo às federações aumentos, os quais hoje, ao contrário da época em que exerceu funções governativas, já não dependem da sua decisão ou poder de influência privilegiado.
A minha colaboração com a CAO manteve-se ao longo do tempo. Mesmo enquanto terminava o meu mestrado e dei início à minha vida profissional e empresarial, mantive sempre vivo e ativo este gosto pela defesa firme dos atletas, ainda que de forma externa às direções.
Em 2022, e acredito que fruto da minha presença constante nas matérias que aos atletas diziam respeito, fui eleita pelos meus pares para a direção da CAO. E, pela direção, fui designada para o cargo de Presidente da Comissão de Atletas Olímpicos. A partir desse momento, dediquei-me a esta missão em pleno. Nada quis em troca do Comité Olímpico. E tudo assumi, com esforço e diletantismo, o mesmo que traz a maior satisfação e regozijo puro. Abracei assim o que considerei uma causa em prol de todos quantos se esforçam e lutam por bem representar Portugal.
Com José Manuel Constantino, tive o privilégio de muito aprender em várias vertentes do dirigismo e condutas necessárias ao mesmo. Assumi compromissos de alta responsabilidade, como o de adida aos Jogos Olímpicos de Paris, que teve como único ponto negativo o falecimento do nosso querido presidente, o meu terceiro treinador, como já tive oportunidade de o carinhosamente nomear.
Nestes últimos três anos, lançou-se o Programa de Mentoria, foram feitas diversas formações de literacia, assim como outras tantas iniciativas Powertalks, de sensibilização sobre diversos temas. Realizaram-se Fóruns de atletas e assegurou-se, finalmente, a independência para a formalização de protocolos entre a CAO e entidades. Realizaram-se reuniões com duas Secretarias de Estado, às quais se apresentaram diversas propostas, algumas que com orgulho pudemos ver publicadas no âmbito da igualdade de género.
Findo este ciclo, os olhos viraram-se para a sua continuidade. Não o meu caso, porque pensava ter concluído uma missão e estava atenta a outros domínios que mantenho ativos na minha vida. No entanto, o apego à causa e a proximidade das pessoas, levaram-me a aceitar o convite de uma candidatura que julgava ser, pelo menos, a tentativa de fazer como José Manuel Constantino.
Mas eis senão quando, sem consulta nem aviso prévio, esse projeto morreu por si, porquanto estavam convictos os seus mentores de que não tinham qualquer hipótese de vencer. Verifiquei, assim, que o objetivo não era um projeto para o Comité Olímpico! Era simplesmente para vencer! Depois, logo se veria… E a solução encontrada, na linha dessa estratégia, foi subordinar-se a uma candidatura adversária.
Como muitos fariam, afastei-me, já que nem a minha opinião quiseram ouvir. E ainda bem, porque me inteirei a seguir de muita realidade. Tanto agradável, quanto desagradável.
E começando pelo plano desagradável, seleciono apenas uma, que por muitas equivale. Está ligada a quem, dentro e fora do Comité Olímpico, afirmava peremptoriamente garantir isenção e equidade perante qualquer candidato.
A pessoa em questão, tristemente e em desespero por qualquer indício de que algo não estava a correr como contava, na sua fingida tranquilidade, veio a terreno vociferar!
Em sentido oposto, a vertente agradável, teve início em setembro de 2024, quando Fernando Gomes me convidou para uma conversa informal, após ter recebido o desafio das diversas Federações para se candidatar à presidência do COP.
Nessas conversas quis inteirar-se, em detalhe, do status quo do Atleta e do que eu achava que eles mais precisavam. Tudo partilhei, com o maior agrado pelo interesse manifestado. Mais tarde, em janeiro de 2025, o meu telefone tocou de novo e pude conhecer, então, um projeto que me foi apresentado, genuíno, capaz, sólido — não só promissor, mas com garantias de execução, pela experiência, pela capacidade e pela notória vontade, aquele diletantismo que encontro em mim, ali espelhado. Todas as partilhas feitas meses antes, encontravam-se ali consideradas e complementadas pela mão de quem já deu provas que sabe, de facto, fazer.
Na comissão de Atletas Olímpicos, pugnei pelo Atleta. E no futuro cargo de Secretária-Geral, caso sejamos eleitos, pelo Atleta continuarei a pugnar. Porque o Atleta é a razão de ser de todos os Clubes, de todos os Treinadores, de todas as Associações e de todas as Federações.
O Atleta que é a prioridade do projeto de Fernando Gomes.