ENTREVISTA A BOLA «É preciso criar mais fábricas de campeões»
A BOLA entrevistou os dois candidatos à presidência do Comité Olímpico de Portugal. Laurentino Dias, antigo secretário de Estado da Juventude e do Desporto - que vai a votos com Fernando Gomes -, é o primeiro
Laurentino Dias, 71 anos, secretário de Estado da Juventude e Desporto entre 2005 e 2011, vai disputar, com Fernando Gomes, a presidência do Comité Olímpico de Portugal, em eleições que se realizam no próximo dia 19 de março. As razões da candidatura e as linhas de ação que se propõe desenvolver ficam claras na entrevista que se segue.
- O que é que o levou a disputar estas eleições para o Comité Olímpico de Portugal (COP), que se realizam no dia 19 deste mês?
- Foi uma vida inteira relacionada com o Desporto. Desde pequenito, fui jogador de futebol, de voleibol, de várias coisas; depois, quando prossegui a minha vida académica universitária, na Académica de Coimbra, fui jogador de voleibol; a seguir, fui dirigente da secção de voleibol. Na carreira política, o meu tema central de atividade foi sempre o Desporto, quer como deputado, quer depois como secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Portanto, é uma vida por onde o Desporto passou todos os dias. Ao chegar a esta fase, pergunto-me se não há ainda mais um pouco para dar. E não falo de um sacrifício, mas de um gosto. E assim, associando-me a pessoas, encontrando parceiros para este caminho, sou candidato ao COP. Foi isso que me moveu, mas também houve algo mais, que confesso com toda a sinceridade.
- Deixa-me curioso...
- Em Agosto de 2024, nos Jogos Olímpicos, vi os nossos meninos ganharem as medalhas de ouro e de prata, naquela coisa fantástica que foi o ciclismo de pista, que me dizia muito, porque estive na construção das instalações de que resultaram aqueles campeões.
- Está a falar do velódromo de Anadia, que na altura foi considerado um elefante branco...
- Pois, e agora veja lá! Não ouvi chamar nomes a esse velódromo, foram só elogios, e na altura, como disse, era um elefante branco. Foram precisos 15 anos para que o velódromo desse resultados. O que significa que houve um tempo, pelo menos, na vida político-desportiva nacional, em que se trabalhou a médio e a longo prazo. Houve um tempo, pelo menos, e se calhar foi o meu tempo, em que se construíram coisas não a pensar o dia seguinte, mas a pensar nos anos seguintes. Houve um tempo em que houve paciência e determinação para enveredar por esse caminho e criar condições para que os nossos atletas, os nossos treinadores, as nossas modalidades tivessem infraestruturas iguais às melhores da Europa e do Mundo. E conseguimos criar uma rede de Centros de Alto Rendimento (CAR).
- Não teria feito sentido que houvesse um acordo de regime, para que estas políticas fossem continuadas e não se alterassem cada vez que há um novo ciclo político?
- Não era preciso acordo de regime, bastava a convergência de procedimentos, a convergência de metas a atingir. E aquilo que nós fizemos foi fazer aquilo que não havia. Estive recentemente no Jamor, e encontrei um conjunto de pessoas que têm já muitos anos de dedicação ao atletismo, e disseram-me que, se não tivessem sido construídas as instalações desportivas do CAR do atletismo, nós continuávamos ainda hoje a ser um País do fundo e do meio fundo, ou seja, um País das grandes corridas dos 10 mil metros, das maratonas, onde é preciso o quê? Sapatilhas, coração, pulmões e vamos embora. (4:27) E bons treinadores, como Moniz Pereira. Mas não tínhamos nenhuma condição para ir à luta, nos Europeus, nos Mundiais e nos Olímpicos, nas modalidades técnicas. Não haveria Nelson Évora, não haveria Naíde Gomes, não haveria Patrícia Mamona e outros, que vão - no comprimento, no triplo salto, na vara e noutras modalidades técnicas -, competir ao nível dos melhores.
- Está a referir-se, só para situar, ao período 2005/2011 em que foi secretário de Estado da Juventude e Desporto...
- Foi o projeto que abraçámos durante esses seis anos, construímos uma rede interessante de CAR, que não esgotou aquilo que eram as necessidades que ainda hoje existem, e o que me choca um pouco é que de 2011 a 2025 não tenha sido construído mais nenhum. É preciso construir mais. É preciso dar a mais modalidades as mesmas oportunidades que estas têm. É preciso criar mais fábricas de campeões, como criámos a fábrica de campeões do ciclismo.
- Era por isso que eu dizia, precisamente, que não havendo sequência nas políticas...
- Mas essa culpa não é minha.
- Entre 2011 e 2025 o seu partido, o PS, esteve no poder oito anos e o PSD seis anos. Isto para dizer que não tem a ver com o partido A ou B.
- Não tem a ver com partidos. Tem a ver com programas, opções e decisões que é preciso tomar e orientações que é preciso acolher. Tenho pena que essas orientações não tenham continuado nestes últimos 14 anos. Ainda hoje vejo Federações e modalidades a pedirem a mesma atenção, as mesmas condições que nós demos, nessa altura, ao remo, à canoagem, ao triatlo, ao ciclismo, ao judo, às esgrima, ao ténis, ao atletismo, ao golfe, com o campo que fizemos no Jamor, e ainda ao hipismo, na Golegã, ao badminton, nas Caldas da Rainha, e por aí fora.
- O Governo acabou de cair, não sabemos o que vem a seguir e quem vem a seguir. Mas o que é facto é que este Governo cessante aumentou em cerca de 7% o orçamento do Desporto no Orçamento de Estado e, além disso, ainda disponibilizou uma verba de 65 milhões de euros para ser utilizada entre 2025 e 2028, 15 milhões pelo o Comité Paralímpico e 50 milhões pelo COP. Teme que com a queda do Governo, esta situação possa não se concretizar por questões burocráticas que podem ir de falta de vistos até à autorização do Tribunal de Contas?
- A ocorrência de eleições legislativas a 18 de maio vai perturbar um pouco os calendários que tínhamos previsto para a execução desse contrato. Esse contrato confia ao Comité Olímpico 50 milhões de euros para 4 anos. São 4 anos, já passaram 3 meses, e cada mês que passa é menos tempo para cumprir o contrato. Por isso, direi que as eleições perturbam um pouco a execução desse contrato. Mas, meu caro, é trabalho que é preciso fazer, é tempo que é preciso recuperar. Esses 50 milhões de euros são muito importantes para o próximo futuro do COP, que tem um orçamento de 7 a 8 milhões de euros por ano.
- Que triplica...
- O que significa uma enorme responsabilidade para quem estiver na gestão do COP, porque esse contrato diz quais são as medidas que devem ser executadas, no que toca a infraestruturas, recursos humanos, meios técnicos, e meios de apoio às Federações. Tudo isso vai envolver muito mais recursos humanos por parte do COP, que não estava preparado para isso, e mais até recursos dos dirigentes. Será um esforço enorme que vai ser preciso e pedido à direção do COP e uma grande unidade na vida interna.
- O próximo Governo, seja qual for a cor, deve manter esta dotação especial de 65 milhões?
- Com certeza, não estou à espera de outra coisa, seja que Governo for. No COP há que dar por assente que este contrato, que veio em boa hora para o olimpismo, está firmado e não é uma promessa eleitoral. É entre o Estado e o COP. Quando eu fui secretário de Estado, em 2005, herdei contratos assinados pelo Governo anterior, alguns com obrigações financeiras avultadíssimas - o Mundial de vela em Cascais, por exemplo – e honrei todos esses contratos. Portanto, não me passa pela cabeça que algum Governo, a seguir, seja do PSD, seja do PS, seja de quem for, ponha em causa esses 65 milhões. É para cumprir, e nós cá estaremos para sermos capazes de o executar, cientes de que vai ser uma tarefa muito difícil.
- Quais é que são as linhas mestras do seu programa eleitoral?
- A primeira tem a ver com aquilo que nós consideramos dever ser o exemplo a dar pelo COP: transparência, integridade e clareza nas decisões. Onde tudo aquilo que sejam as grandes decisões, os grandes investimentos, os grandes compromissos, os compromissos com as Federações, as dívidas e os créditos, tudo aquilo que seja a vida do COP, não seja apenas publicitado, mas explicado. O outro dos objetivos é termos, na gestão do COP, a capacidade de olharmos as Federações como entidades que têm todas a mesma dignidade, apesar de expressões diversas. Ou seja, há Federações que são muito grandes, têm meios financeiros avultados, e dimensão nacional, e há Federações mais pequenas, de dimensão regional. Há modalidades que envolvem grande público, e há modalidades que envolvem pequeno público, há modalidades que são suscetíveis de ir aos Jogos Olímpicos e outras que não são e provavelmente nunca serão. Mas todo esse conjunto de modalidades desportivas e de Federações, que são no total 67, têm todas a mesma dignidade. Nós temos, tal como o Governo do País, a obrigação de encontrar soluções que permitam aplicar de forma justa e equitativa os meios financeiros.
- Em relação àquilo que vinha sendo feito por José Manuel Constantino, figura incontornável em todo o processo e que todos lamentamos que tenha desaparecido precocemente, que inovações introduzirá?
- A primeira das minhas preocupações é continuar aquilo que foi o trabalho de José Manuel Constantino, construindo uma equipa capaz de ter competências para manter o COP num nível de excelência a que o levou José Manuel Constantino. E eu acho que consegui essa equipa. Quando olho para a minha lista, e vejo lá o Presidente do COP, Artur Lopes, José Manuel Araújo, atual secretário-geral do COP, dois ainda vice-presidentes, Ulisses Pereira e Vicente Araújo, a própria Cecília Carmo, que trabalhou durante uns anos no COP, e outros mais, isto quer-me dizer o quê? Que tenho todas as condições para continuar o bom trabalho do José Manuel Constantino e fazer com isso homenagem àquele que foi um grande Presidente do COP. Porque estes foram quem trabalhou com o José Manuel Constantino, e nunca se zangaram com ele, nunca estiveram distantes e permaneceram ao seu lado do primeiro dia, há uma dúzia de anos, até ao último, quando ele infelizmente veio a falecer. É com esta gente que quero continuar esse trabalho. Com eleições à porta, sinto que não podia estar mais acompanhado para manter a excelência do COP de José Manuel Constantino.
- Vai aumentar o número de membros da Comissão Executiva?
- Faço questão disso.
- Porquê?
- Se neste último mandato a Comissão Executiva tinha, se não me engano, quinze membros, e numa alteração estatutária passaram para nove, ninguém estava a contar com este contrato. Agora temos um contrato para cumprir, que nos passa de seis, sete milhões de euros por ano para vinte, e temos de ter mais pessoas a trabalhar no COP. Os recursos humanos são escassos e cada um deles está focado nas suas tarefas clássicas, que tem de cumprir. Como é que agora vamos dar resposta a este contrato, que integra uma área de infraestruturas, onde é preciso decidir, priorizar, construir? Como é que vamos decidir na área dos recursos humanos, onde é preciso enquadramento técnico e profissional para distribuir pelas federações? O conjunto de medidas que estão no programa que assinámos com o Governo, tem de ter quem as interprete, quem se responsabilize por elas. Por isso, quando for a primeira Assembleia Plenária do COP após eleições, vou levar este problema à Assembleia para que nos seja permitido acrescentar mais quatro pessoas à Comissão Executiva, e a criação de algumas áreas de intervenção novas, a que estas exigências do contrato aconselham.
- Se ganhar as eleições não vai precisar de uma maioria qualificada para conseguir essa mudança, e não de uma maioria simples?
- Não sei se é assim mesmo.
- Eu penso que sim.
- Eu não creio. Não creio.
- Estamos a falar de alterações estatutárias...
- Mas eu não estou a falar de alterações estatutárias. Essas são para fazer adiante.
- Inferi que esta alteração era estatutária...
- Não, temos tempo de fazer as alterações estatutárias. Não acho, de forma nenhuma, que as Federações desportivas reunidas depois das eleições não concordem comigo que o COP do ano passado não responde, em termos de recursos humanos, e equipa dirigente, às obrigações dos próximos quatro anos. Nenhuma Federação vai pensar diferente, porque todos têm disso consciência, são elas quem têm de definir quais são as prioridades do contrato assinado com o Governo. Não serei eu a definir. Não sou um presidente providencial, o grande gestor, o grande estratega, o grande não sei o quê. Serei coordenador de uma equipe séria, competente e capaz que vai, juntamente com as todas as Federações, definir quais são as prioridades. É assim que se trabalha e é assim que as coisas podem aparecer de forma segura e sustentada.
- Com eleições legislativas a 18 de maio,quando é que é perspetiva que possa começar a chegar o dinheiro?
- Não sou dirigente do COP, logo não estou a par da evolução do contrato. Aquilo que é o perspetivo é, depois do dia 19, na primeira oportunidade em que estiver com o Governo, perceber se há algum constrangimento na atual situação política, se houver, como se ultrapassa, e solicitar que se faça um esforço no sentido de, mesmo sendo um Governo de gestão, se encontrem soluções para que o COP receba as verbas que estavam no contrato, e que deviam ter entrado até 31 de dezembro de 2024. Foi o que disseram os responsáveis políticos, mas estamos em março de 2025, e (creio) o dinheiro ainda não chegou. Mas seguramente chegará porque, como há pouco disse, estamos perante um contrato que o Estado fez um com o COP, e que é para cumprir, com este ou com qualquer outro Governo.
- Que promessas é que pode fazer para o ciclo que vai desaguar em Los Angeles 2028? É daqueles que medem o sucesso do que foi feito pelas medalhas de ouro, prata, ou bronze?
- Como a história da minha vida, em termos de responsabilidade na área do Desporto, demonstra, não sou dos que pensam nas coisas para o dia da manhã. Portanto, essa preocupação de quantificar objetivos com medalhas, na minha cabeça, não existe. O que existe é uma preocupação de procurar fortalecer uma equipa olímpica, dar meios à missão olímpica para Los Angeles 2028, e criar com isso condições para que, tranquilamente e de forma séria e responsável, tenhamos mais atletas em condições de ganhar medalhas, do que aqueles poucos que habitualmente levamos nessas circunstâncias.
- Mas há muita gente que só ‘acorda’ na altura dos Jogos...
- Penaliza-me ver, quando se aproximam os Jogos Olímpicos, que a comunicação social, comece a olhar para o atleta A, B, C ou D, e estes passem a ser catalogados como aqueles que têm a obrigação de ganhar medalhas. Uns por querer, outros sem querer, fazem cair em cima dos ombros das atletas e dos atletas uma responsabilidade tremenda, que eles não têm a obrigação de cumprir. A obrigação está do nosso lado, e passa por dar-lhes condições. Quero tentar que a missão olímpica de Los Angeles 2028, mais do que o atleta A, B, C, ou D, seja um grupo mais alargado, que nos dê alguma sustentação. Chegamos aos Jogos Olímpicos e levamos alguém em quem apostamos as fichas todas. Se naquele dia lhe corre mal, dizemos que estamos perdidos, que já não vamos a lado nenhum. O que precisamos é ter dois, três ou quatro, em cada modalidade, para que aquele que parece ser o melhor e tem um dia mau, seja substituído por outro, que acaba por ser campeão.
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- Não é um desejo ambicioso, face à realidade?
- Não me esqueço que o Nelson Évora, nos primeiros Jogos Olímpicos, ficou em último. E quando foi para os Jogos seguintes, em 2008, comigo como secretário de Estado, ele continuava a pensar no último lugar dos Jogos anteriores. E sabe o que é que aconteceu? O João Ganço revelou isso há dias: vieram ter comigo e o João Ganço disse-me, «temos um atleta chamado Nelson Évora, que tem todas as condições para chegar aos Jogos Olímpicos e fazer uma grande prestação. Acontece que eu sou professor de Educação Física e treinador dele, dou aulas na margem sul do Tejo, e venho treiná-lo apenas quando posso. A continuar assim, não conseguiremos grandes resultados olímpicos.» Perguntei-lhe o que era preciso, e ele apenas pediu que pudesse treiná-lo às horas que entendessem. Fui, por impulso, ao Ministério da Educação, e pedi que arranjassem outro professor para substituir o João Ganço na escola. Oito dias depois estava arranjado outro professor e comuniquei ao João Ganço que podia ir à escola dizer que na segunda-feira seguinte estaria lá quem o substituiria. E lembrei-o da promessa que me fizera de uma grande prestação olímpica. E acabou por não ser só uma grande prestação Olímpica, mas sim uma medalha de ouro.
- Que conclusões devem ser extraídas desse episódio?
- Temos de apostar seriamente naqueles que nos aparecem à frente como sendo potenciais campeões. E não deixar de apostar neles, mesmo quando eles têm uma prestação pior. O último classificado nuns Jogos Olímpicos podia ser alguém que o Desporto português saudasse quatro anos depois como campeão olímpico.
- Portugal não tem sido visto como um país de Desporto, e na maior parte das alíneas estamos na cauda da tabela europeia. Ultimamente o Governo cessante disse que ia inverter o paradigma. Para si, o Desporto é o quê? É um investimento ou uma despesa?
- O Desporto é um investimento na formação plena do cidadão, algo que deve fazer parte da sua vida desde pequeno. E também significa, a outro nível, a representação do País. Todos ficamos felizes quando alguém, vestindo a camisola da seleção nacional, seja ela de que modalidade for, consegue um título europeu, mundial ou olímpico. Um País em festa é também o que o Desporto oferece. Mas há também o que o Desporto representa, o trabalho e o esforço individual, o trabalho e o esforço em equipa. Tudo isto são tudo ferramentas e instrumentos importantíssimos para a valorização do País.
- Mas até agora não houve condições por parte dos Governos para fazer o que este fez agora, que foi, ok, vamos investir mais, e vamos, segundo afirmaram, alterar o paradigma.
- Esses chavões não me levam.
- Não estamos a falar de chavões, mas de dinheiro em cima da mesa....
- Os chavões da alteração do paradigma não me levam. Estou muito satisfeito com esse contrato que o COP assinou com o Governo. Disse na altura que era um bom momento para o Desporto. Também disse que preferia que esse contrato tivesse sido previamente conversado com o COP e com as Federações para corresponder melhor às suas necessidades e às aspirações. Isso não aconteceu. Foi um contrato que nasceu de um dia para o outro. Ainda bem que o Primeiro-Ministro ficou feliz quando esteve em Paris e teve oportunidade de privar com o Iuri e com o Rui e de fazer todas aquelas selfies e festejar com eles, porque acho que isso o motivou. O nosso ainda Primeiro-Ministro, é um homem do Desporto e eu tenho disso conhecimento. Foi, aliás, como eu, jogador de futebol e voleibol. Temos isso em comum.
- Sem dinheiro, pouco se faz. A lei do mecenato no Desporto não deve ser alterada no sentido de equipará-lo, pelo menos, ao que existe com a Cultura?
- Quando ouvi o primeiro-ministro dizer que estavam a rever a lei do mecenato, fiquei muito satisfeito, até pela oportunidade que isso me dará, depois das eleições, de lhe lembrar essa promessa porque, de facto, a lei do mecenato não tem sido boa para o Desporto, não tem trazido dinheiro nem de particulares nem de empresas.
- Porquê?
- Porque a percentagem de contrapartidas que está lá definida é muito pequena, mais pequena do que outras áreas de atividade.
- Nomeadamente a Cultura...
- Precisamos que o benefício para os particulares ou empresas na lei do mecenato seja maior, para que os clubes, as federações e o COP, tenham acesso a mais meios financeiros. Temos muito pouca tradição de mecenas. No futebol, os únicos mecenas voluntários eram, historicamente, os presidentes de clubes. Agora já nem isso.
- Mas, provavelmente, se vencer as eleições, essa reunião deverá ser com o Primeiro-Ministro do próximo Governo porque este, em gestão, agora já não deve poder fazer nada...
- Não. Temos que fazer uma reunião com este Governo.
- Mas entrará em gestão já. Não poderá fazer as leis.
- Mas pode. São questões de gestão que são relativamente fáceis de resolver. Estou a contar com este Governo para resolver já algumas das questões que se nos colocam. Depois, será uma questão legal ver-se se pode ou se não pode. Mas, de qualquer forma vamos a jogo, para ver se é possível.
- Depois de abandonar a Secretaria de Estado em 2011, não voltou a ter nenhuma experiência dirigente no Desporto?
- Não, não, não.
- Passou a seguir para outro tipo de política, como Chefe de Gabinete do Grupo Parlamentar Socialista?
- Sim, mas as minhas funções de natureza política foram, não direi na totalidade, porque isso não era verdade, mas na sua maioria, relacionadas com a atividade desportiva.
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