Questões práticas
As jornadas anteriores foram férteis em situações que importa aqui trazer, no sentido de prestar os devidos esclarecimentos. Não se tratam apenas de questões de caráter mais técnico. Do jogo propriamente dito. Uma delas já aconteceu esta época e deixou, para o exterior, dúvidas na forma como foi solucionada. Isso pode induzir as pessoas a conclusões precipitadas e potencialmente injustas e não é isso que se deseja, de todo. Vamos por partes então:
1. Pontapé de canto na sequência de um pontapé de baliza.
- Aconteceu nos minutos iniciais do Benfica-SC Braga: o guarda-redes Matheus executou um pontapé de baliza diretamente para fora, pela sua linha de baliza. Antes a lei dizia que a bola só entrava em jogo quando saísse da área de penálti para dentro de terreno de jogo. Agora mudou e refere expressamente que a bola entra em jogo assim que seja tocada e se mova claramente. Foi o que aconteceu nesse lance. Quando muitos esperariam a repetição do pontapé de baliza, Artur Soares Dias esteve bem ao indicar o pontapé de canto favorável aos encarnados.
2. Recarga do executante após pontapé de penálti devolvido pelos ferros da baliza.
- Aconteceu no Belenenses SAD-Farense. Um pontapé de penálti, à Panenka, voltou da barra para os pés do executante, que fez a recarga (o guarda-redes defendeu). O árbitro, de imediato, assinalou um pontapé-livre indireto contra a equipa que beneficiou do castigo máximo. Fez bem. Porquê? Porque o executante do pontapé deu dois toques consecutivos na bola - o remate e a recarga posterior - sem que ninguém a tocasse entretanto. É um lance que passa despercebido com muita facilidade, por ser raro e atípico. No caso, não escapou ao escrutínio da equipa de arbitragem.
Nota - Há uns meses, Cristiano Ronaldo fez a recarga a um pontapé-livre que o próprio executou e que foi devolvido pela barra da baliza: ninguém em campo se apercebeu e só não foi golo porque não calhou.
3. Golo obtido após o tempo de compensação.
- Perto do intervalo do FC Porto-Portimonense, Mbemba empatou o jogo após um pontapé de canto. O golo foi marcado para lá dos dois minutos de desconto concedidos pelo árbitro da partida, o que motivou naturais protestos. Importa esclarecer que o referido pontapé de canto foi assinalado quando o cronómetro marcava os 46 minutos e 46 segundos, ou seja, quando não estava esgotado o tempo de compensação previsto. É esse o raciocínio que deve prevalecer: quando a bola sai do terreno antes do prazo ter terminado, o árbitro deve permitir sempre o respetivo recomeço/conclusão da jogada para só depois terminar o jogo. Diferente seria se a bola saísse para pontapé de canto após os 45+2’. Aí o recomeço não devia ser autorizado.
4. Testes Covid-19 positivos entre árbitros, com decisões diferentes.
- Recentemente um 4.º árbitro e um árbitro assistente da I Liga testaram positivo para o Covid-19. No primeiro caso procedeu-se à substituição de toda a equipa de arbitragem. No segundo à substituição do elemento infetado. A razão é simples: o 4.º árbitro teve contacto direto (físico) com todos os colegas com quem ia atuar antes de saber o resultado dos testes. Além dele, todos os outros tiveram que ficar em isolamento profilático; o árbitro assistente não teve com nenhum colega de equipa entre o momento que realizou o despiste e a hora em que soube do seu resultado. Apenas ele ficou impedido. Por vezes, é importante explicar estas coisas para que não se confunda algo bem avaliado com qualquer tipo de prática suspeita. Neste caso, foi tudo cumprido com rigor e coerência, como tem sido sempre.