Quem ganha e não ganha com JJ

OPINIÃO02.01.202003:00

O sucesso de Jorge Jesus no Flamengo, com a conquista do Brasileirão e da Libertadores, já teve a sua primeira consequência indireta: as portas do Brasil franqueadas para outros treinadores portugueses, igualmente experientes, casos de Augusto Inácio e Jesualdo Ferreira. E mais poderão ir a breve prazo. É curioso verificar como um único técnico (e a sua equipa) revolucionou a forma como Portugal e Brasil passaram a encarar os campeonatos dos respetivos países. Porque se é um facto que o tremendo sucesso de JJ fez os dirigentes dos clubes brasileiros olharem de outra forma para os técnicos lusos, dificilmente veríamos treinadores portugueses aceitarem trabalhar no outro lado do Atlântico com esta facilidade, receando a instabilidade, a falta de meios e a falta de proteção para quem vem de fora. Lembro-me de, apenas a título de exemplo, José Peseiro recusar treinar não há muito tempo o São Paulo. Talvez hoje isso já não acontecesse.

É pena que a Liga não consiga capitalizar este momento de maior interesse do Brasil pelo futebol português. Fossem os direitos televisivos do nosso campeonato vendidos como um todo e teríamos um mercado de mais de 200 milhões de potenciais clientes para dar um valor acrescentado para um dos melhores ramos da economia nacional que tem apenas um grave problema: cada um pensa por si. E para si.

Perde-se assim uma oportunidade histórica. Porque, não esqueçamos, ainda é grande o distanciamento dos brasileiros relativamente a tudo o que é produto cultural português (disso se queixam vários agentes das artes). Nunca me esqueço quando, no Euro-2004, enquanto passava um plano das bancadas, um narrador brasileiro se mostrava surpreendido por existirem «tantas mulheres portuguesas bonitas». Há todo um mundo por mostrar além do mister.