Rodri sempre, excesso de jogos nunca mais!
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Rodri sempre, excesso de jogos nunca mais!

OPINIÃO06:30

Jogadores alertam que o calendário vai trazer consequências – para os próprios e para o espetáculo. O futebol, como desporto e sobretudo negócio, já se tinha esquecido de outros protagonistas…

Está a crescer uma espécie de movimento entre os jogadores contra o calendário excessivo, que lhes carrega nas pernas jogos de três em três dias como regra e não exceção. Em ano de mudanças nas competições europeias e com Mundial de Clubes a fechar, a tendência só será para ouvirmos mais queixas.

Compreendo que os jogadores, mais do que ninguém, querem estar sempre no seu melhor. E que são e serão as próprias competições a sair prejudicadas se assim não for (no Euro 2024, quantas das maiores estrelas estiveram bem abaixo do que se esperaria?). Acho até comovente que os protagonistas estejam a perceber que são trabalhadores (muito bem pagos) por vezes explorados para que o negócio dê mais e mais dinheiro. E é importante que falem da sua saúde (também a mental), do pouco tempo que passam com a família, que queiram ter mais vida. O mundo pula e avança.

Esta semana, o camarada Rodri ameaçou mesmo com uma greve. O médio é o porta-voz perfeito: um dos melhores do mundo, vencedor de tudo e mais alguma coisa no Man. City e campeão da Europa. Rodri é tão bom e tão inteligente a jogar que faz todo o sentido que também domine uma conferência de imprensa. E Rodri tem razão: se ninguém se preocupar com os jogadores, talvez tenham de ser eles a agir.

Há, no entanto, uma parte da equação esquecida: o futebol (tanto o desporto como o negócio, como lhe chamou Rodri) só rende muito porque tem público (tanto os adeptos como os clientes, como o marketing os quer chamar). E os jogadores só vencerão esta luta por um calendário mais simpático se tiverem o público do seu lado. Pelo que fui lendo nos últimos dias, e sem haver grande discordância pelos argumentos dos jogadores, há um problema saliente: as pessoas que gostam de futebol ganham muito menos do que as que praticam futebol ao nível de Rodri, Alisson ou Bernardo Silva (alguns dos que falaram sobre o assunto). E esse mesmo público foi explorado cada vez mais nos últimos anos, pelos preços dos bilhetes ou das camisolas dos ídolos que tiveram de deixar de comprar, ou pela experiência que lhes querem vender e que só está acessível a alguns. Não será um público fácil de convencer, portanto.

É bom que os jogadores falem e lutem por um futebol melhor. Mas quando vemos protagonistas do Man. City, onde quase tudo é dinheiro e atropelos que aumentam a desigualdade entre clubes e ligas, a expor os seus problemas, sem até agora terem estado muito preocupados com o que o tal negócio está a fazer aos adeptos, a revolução parece menos entusiasmante.