«Quem é esse Bruno Magalhães?»
Bruno Guimarães, médio internacional brasileiro do Newcastle (Foto Imago)

«Quem é esse Bruno Magalhães?»

OPINIÃO14.09.202410:00

Torcedores canarinhos perderam a conexão afetiva com a maioria dos jogadores da seleção do Brasil, mesmo os já consagrados, como Bruno Guimarães ou Gabriel Magalhães. JAM sessions é o espaço de opinião do jornalista João Almeida Moreira.

Quem assistir num boteco a um jogo da seleção do Brasil ao lado do torcedor canarinho comum, aquele sem conhecimento excecional do longínquo futebol europeu, arrisca-se a ouvir perguntas do tipo: «Onde joga esse Bruno Magalhães?», «de onde apareceu esse Gabriel Guimarães?», confundindo um capitão do Newcastle com um pilar do Arsenal, por exemplo.

Mudando de assunto, ou talvez não, após meros 20 jogos e três golos no Brasileirão pelo Grêmio, o atacante Gustavo Nunes trocou, por estes dias, o tricolor pelo Brentford por 12 milhões de euros.

Nunes, 18 anos, foi apenas o último: antes dele, Endrick, Estêvão e Pedro Lima cruzaram (ou cruzarão) o oceano: o primeiro foi contratado pelo Real Madrid ao Palmeiras aos 16 e integrado no plantel após completar 18; o segundo, de 17, também do clube de Abel Ferreira, já é do Chelsea mas ainda não está no Chelsea, aonde chegará em 2025; e o terceiro, ex-Sport Recife, de Pepa, desembarcou em Wolverhampton apelidado de novo Cafu.

Lucas Beraldo, 19, e Gabriel Moscardo, 18, um ex-São Paulo e outro ex-timão, já são dos quadros do Paris Saint-Germain, e Luís Guilherme, de 18 anos, trocou o verdão pelo West Ham.

Uns anos antes, o Real Madrid levou Vinícius Júnior e Rodrygo aos 18 para Valdebebas. E há muitos outros casos de emigrantes teen, como Marcos Leonardo e Vitor Roque, só para citar dois que agitaram o mercado de verão português.

A moda, entretanto, é recente: Romário já era ídolo do Vasco quando foi, aos 22, para o PSV Eindhoven, Rivaldo já era craque do Palmeiras quando, aos 24, saiu para o Deportivo da Corunha, Ronaldinho Gaúcho já era estrela do Grêmio e Kaká, um ícone do São Paulo, quando, aos 21, rumaram ao PSG e Milan, respetivamente.

Thiago Freitas, que é o COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gere as carreiras de atletas como Endrick, Vinícius Júnior e Lucas Paquetá, explica que «os europeus hoje negoceiam com atletas antes dos 18 para integrá-los às suas estruturas assim que atingem a idade legal porque o futebol na América do Sul ainda está muito abaixo do europeu em treino e exigências».

«E para um jogador de elite limitar o seu desenvolvimento ao cenário sul-americano já não é vantajoso», completa.

Mas Fábio Wolff, especialista em marketing desportivo e sócio-diretor da Wolff Sports, adverte sobre a falta de conexão dos jogadores com o país — e do país com eles: «Esse fenómeno das transferências cada vez mais precoces impede que os atletas alcancem o status de ídolos e o reconhecimento pleno dos torcedores nos seus países de origem...»

Ou seja, daqui a um ano ou dois o torcedor canarinho comum vai perguntar, entre duas geladas no boteco durante o jogo da seleção, «afinal, quem é esse tal de Gustavo Nunes?».