Promoções de supermercado

OPINIÃO14.08.202306:35

Clubes não querem o bem maior, apenas o seu e, se possível, com o bónus do mal dos outros

HÁ mais de um milhão de portugueses ou franco-portugueses a viver em França, 47 mil só em Paris. Já o Reino Unido, segundo os últimos censos, organizados em 2021, alberga 268 mil cidadãos lusos. Depois de a gaulesa RNC ter desistido, é agora a britânica TNT Sports que confirma que vai deixar de transmitir a Primeira Liga. Nos Estados Unidos, onde residem mais de 1,2 milhões de emigrantes e descendentes - cerca de 0,4% da população -, a GOLTV deixou de passar jogos. Aqui mesmo ao lado, em Espanha, o fecho da BeIn Sports Spain em 2018 reduziu a oferta a zero.

Se o interesse já não era muito, pode agora estar muito perto de se perder por completo. Façam o exercício. Coloquem tudo na balança: num dos pratos o talento, gerado pela formação ou cativado pelos principais emblemas; no outro, os estádios-fantasma, de tão vazios, descoloridos e silenciosos que se apresentam, a qualidade de jogo, o preço dos bilhetes, a inimputabilidade dos prevaricadores, as acusações de corrupção, o ruído doentio no pós-derrota e a falta de competitividade num campeonato completamente desajustado da realidade. O que acham que pesa mais? Mesmo que este seja o país de Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Bernardo Silva, João Cancelo e de tantos outros...

Há dias, Pedro Proença citou estudo que valoriza os direitos da Liga entre 275 e 350 milhões de euros. Resta saber para quem. Provavelmente, sentiu mais uma vez necessidade de acalmar clubes que se querem devorar para que se mantenham unidos no caminho da centralização, o Santo Graal que, para ele, acabará com todas as amarguras do mundo. Contudo, não basta e o pressuposto é errado. A Liga é dos clubes, e os nossos não querem o bem maior. Olham para si e, se possível, com o bónus do mal dos outros. Acreditar noutra coisa é como fazer fé em promoções de hipermercado.