Pressão alta

OPINIÃO04.05.202306:30

As últimas jornadas potenciam emoções elevadas. Quem falhar perde a possibilidade de conseguir um grande resultado

APESAR do tempo ser uma convenção internacional, não há dúvidas de que uns dias e até meses são muito mais longos do que outros, com a ansiedade a marcar ritmos. Essa diferença é uma das rotinas inquestionáveis, que remontam a passado longínquo. Também o futebol, como tantas outras atividades, tem especificidades que assumimos como naturais e umas mais interessantes do que outras. 

E aí começa o poder da conquista dos pontos e das vitórias, como fatores decisivos, aos quais se acrescenta o universo à volta do jogo, com as equipas, os árbitros, o VAR e os adeptos. Apesar de ser fácil escolher uma ação imediata, que pode dar origem a uma jogada infeliz ou brilhante, num ápice tudo se transforma, as emoções vão de um extremo a outro, com euforia ou prostração, numa alternância imparável, por vezes até depressiva. O futuro é a dúvida persistente e que tudo pode mudar. 

Nesses momentos de fragilidade emocional, é muito útil o reforço comportamental individual e coletivo porque aproxima ou afasta as vitórias que mudam as perspetivas e alimentam esperanças. Alguns designam a sorte ao que nada mais é do que trabalho consistente, constante, sem parar. E todas as semanas, novas aventuras, novas estratégias, a procurarem o encantamento da vitória ou a tristeza da derrota, numa alternância efémera em renovação constante. As últimas jornadas, porque decisivas, potenciam emoções muito elevadas. Quem falhar perde a possibilidade de conseguir um grande resultado. 

Convém não esquecer que este campeonato foi atípico, dividido em duas partes: uma antes o Mundial e outra após o que impediu manter a melhor qualidade possível, com riscos de acrescidos de eventuais lesões e perdas de ritmo. E num lance, tudo pode aproximar a frustração, mas também conseguir alcançar o limite máximo, sempre desejado e presente em cada jornada. 
 

LIGA 

Aincerteza é constante e, de um jogo para outro, surgem surpresas e um esforço intenso para alcançar o título, os lugares europeus e evitar a descida de divisão, esta última com consequências graves e sem os apoios que as Federações das Big Five prestam nos anos seguintes aos clubes que descem de divisão, para conseguirem recuperar e não como em Portugal, onde a palavra descida pode aportar um destino que pode ocasionar o princípio do fim, num percurso muitas vezes sem retorno. 

O jogo que concentrou mais atenção foi o de Barcelos, no qual o Gil Vicente defrontou o Benfica, numa partida muito disputada, durante a maior parte do tempo e, que na fase final,  o Benfica conseguiu marcar dois golos (o segundo golo nasceu de uma grande penalidade erradamente assinalada). Foi um jogo equilibrado, com a equipa da Luz a pressionar alto, tentando segurar a posse e o Gil Vicente com circulação muito apoiada, mas faltando o passe decisivo que poderia mudar o resultado. 

Depois do jogo, nada mais há a acrescentar e a avaliação do desempenho do árbitro a ser feita pelos respetivos comentadores, por vezes com opiniões completamente díspares. O Paços de Ferreira foi uma das surpresas da jornada, ao vencer o Vizela, fora de casa, numa luta muito forte e constante. O Chaves e Rio Ave alcançaram vitórias valiosas e o Arouca nesta jornada não conseguiu pontuar, uma surpresa. O Guimarães foi vencer à Madeira. O Braga goleou o Portimonense, mantendo uma perseguição constante à liderança do campeonato e logo com vitória folgada.
 
O Estoril goleou o Santa Clara, cada vez mais difícil de conseguir fugir à despromoção. O Sporting venceu o Famalicão num jogo muito disputado e sem casos de arbitragem. O dérbi da cidade do Porto, disputou-se no Dragão: FC Porto entrou com intensidade na procura do golo, num jogo controlado pelos azuis e brancos que circulavam em velocidade para procurar abrir espaços de finalização, mas o Boavista, bem organizado defensivamente, com blocos muito juntos, desmarcações rápidas e marcações em cima. Jogo emocionante, com ataques sucessivos e aos 57’ o jogador do Boavista faz falta dura, dentro da sua área sobre André Franco: grande penalidade que Taremi converteu no único golo do jogo. 

Perto dos 70’, Marcano não conseguiu dominar a bola e como um jogador do Boavista ia isolado, com a sua experiência fez falta antes do adversário entrar na área do FC Porto evitando a grande penalidade, mas sendo expulso. Os últimos 30 minutos, mudaram completamente o jogo, obrigando a substituir Martinez para entrar Fábio Cardoso, e Taremi para entrar Grujic, para conseguir reforçar a organização defensiva do FC Porto. Boavista com mais um jogador, teve mais bola, avançou no terreno, mas mesmos assim o FC Porto, em contra-ataques ainda desperdiçou duas excelentes oportunidades. 

Jogo num ritmo muito forte e o FC Porto a não perder pontos nesta altura, porque a luta pelo título continua aberta. Muitas vezes critica-se o árbitro, contudo, neste jogo de grande emoção, Rui Costa esteve exemplar, o que obriga a sermos justos. Nestes jogos que decidem muito, é imprescindível evitar excessos e valorizar resultados dentro das quatro linhas, porque a este nível, os jogadores só pensam no jogo. 
 

O FUTURO

PEDRO PROENÇA, presidente da Liga Portugal, no Sports Summit, numa grande entrevista deixa indicações para o desenvolvimento: conclusão do processo de centralização dos direitos audiovisuais (vai iniciar-se em 2028), internacionalização da Liga, redução de custos no universo do futebol profissional, importância dos adeptos. 

É urgente subir na cotação, com um futebol mais sustentado, no ranking da UEFA, porque a influência dos pontos atribuídos na Conference League foi prejudicial ao nosso futebol. Tem como objetivo essencial, criar condições para definir quadros competitivos que permitam às nossas equipas jogar nas provas europeias, com possibilidades de ir sempre mais além, coordenando com as competições internas. Procurar conseguir, utilizando cimeiras periódicas de presidentes, com os 34 clubes do futebol profissional, não para analisar casos e casinhos, mas antes para discutir os problemas e limitações que influenciam o nosso futebol. O presidente da Liga fez uma afirmação muito importante: «Não nos conformamos que a discussão no futebol seja mais passional do que racional». 

Findo o jogo, os clubes passam a ter de cuidar o futebol como negócio comum. Ficou a impressão de a Taça da Liga poder internacionalizar-se, a partir de 2024, noutros Continentes. Finalmente a questão mais importante, ou seja, será que o presidente se vai recandidatar? A essa questão respondeu afirmando que, no momento oportuno, vai esclarecer a sua posição. 
 

REALIDADES 

OBraga, engloba a participação da Qatar Sports Investments (QSI) na percentagem de 27,67% do capital da SAD, como estratégia para colocar o Braga ao nível do Leipzig, segundo a Comunicação Social. O clube minhoto fica também com o encargo de descobrir talentos na Europa e na América do Sul, para os enquadrar com valor competitivo para colocação numa bolsa de transferências. Para isso, será criada plataforma de desenvolvimento entre as duas entidades. O Braga a crescer em termos globais. Será aposta com futuro, ou dependência futura?

Para discussão global, no ténis, a Associação de Tenistas Profissionais (ATP), decidiu aplicar o olho de falcão a partir de 2025, deixando de existir os juízes de linha humanos e passando a existir somente tecnologia eletrónica. No futebol, os diálogos do árbitro com o VAR, deveriam ser ouvidos no estádio, com o uso de microfones, e desse modo se reduziriam as polémicas. No râguebi, utilizam a spider-cam que capta o lance nas diversas trajetórias e permite uma visão sem dúvidas. 
 

O COMBATE

UM Estado deve criar sistematicamente formas de defesa, do sigilo, da integridade e do combate à corrupção. Para isso, há países que contratam especialistas, porque se trata de um combate desigual que favorece atividades criminais.

Assim, se o país tiver gente com essa capacidade para combater a corrupção, dentro de normas muito rigorosas e controladas sistematicamente, com mecanismos oficiais, poderá impedir crimes graves, circulação de verbas sem limites, envolvendo instituições do futebol.
 
Membros da FIFA, anos atrás, foram sancionados e com penas de prisão. A justiça carece de meios e estratégias, devidamente controladas por juízes. O direito ao sigilo é essencial, contudo, quando o que se transmite, com descuido, configura casos inaceitáveis, devem ser atribuídas responsabilidades a quem praticou os atos, porque só assim se consegue combater a eventual corrupção.
 
Não será tempo para criar entidade especializada, dotada de meios e competências para detetar os autores dos crimes e do eventual dano causado ao futebol, aos clubes e não só? Os segredos circulantes, se configurarem violação das leis, são por si só um eventual crime que tem de ter castigo adequado, porque prejudicam a verdade dos factos. Com justiça, é urgente preservar a transparência e penalizar sem escape possível. O importante é vencer o combate à corrupção. 
 

REMATE FINAL  

Sérgio Conceição afirmou: «A expulsão do Marcano é de um jogador maduro, que não pensou nele e que se prejudicou em prol da vitória (…) Os jogadores que estiveram em campo têm qualidade, não vi a bola a queimar (…) Após a expulsão, vimos a nossa entreajuda, solidariedade e agressividade no jogo». Petit ficou contente com a qualidade do jogo do Boavista, embora triste pelo resultado e afirmou: «Fomos uma equipa muito competitiva, sabendo que o FC Porto era muito forte a jogar em casa (...) A partir da expulsão de Marcano, tomámos conta do jogo e arriscámos com a entrada de mais um avançado».

Num jogo do campeonato alemão, o árbitro e o VAR erraram ao não assinalar grande penalidade existente, prejudicando o Dortmund (a disputar o título com o Bayern), num resultado de 1-1, no jogo com o Bochum. O Bayern aproveitou esse empate, vencendo o Hertha e voltando a liderar a classificação. O árbitro errou e, posteriormente, lamentou-se dessa decisão. O Dortmund revelou estar furioso com esse evidente erro que pode impedir a conquista do título, mas o seu diretor-geral afirmou à imprensa que «estamos claramente furiosos com este erro flagrante (…) mas não podemos tolerar qualquer hostilidade contra o árbitro (…) Temos de aceitar que os erros acontecem».

Bruno Fernandes marcou o único golo do Manchester United contra o Aston Villa, num eventual regresso à Champions. 

O selecionador nacional ficou muito agradado com a qualidade do português André Almeida, que joga no Valência, e de Jota, que joga no Celtic da Escócia.