Porque o futebol de ataque veio para ficar

OPINIÃO21.08.202004:00

A nova anormalidade e a nova ordem europeia

Seja quem for o vencedor desta atípica Liga dos Campeões, uma coisa parece certa: mudou-se de ciclo. Não pelas circunstâncias, já de si tão insólitas, que caracterizaram esta fase final da competição, com qualificações decididas a uma só mão, sem a presença de adeptos e em campos neutros de um só país. Não pelo facto de nenhuma equipa espanhola ter atingido as meias-finais, quando ainda há pouco tempo três delas o conseguiam com alta frequência. Também não pela particularidade de, seja qual for o resultado da final, ser sempre um técnico alemão a suceder a outro da mesma nacionalidade que até então ostentava o título de campeão. Sim, porque o futebol de ataque veio para ficar. Bem, para ser mais exacto, para ficar até outro distinto vingar. E pensar que Fukuyama já havia proclamado o «Fim da História»…

Quando não está em causa o meu FC Porto, tenho por natureza e hábito torcer sempre pelas equipas mais fracas, ou menos favoritas, em suma, por aquelas a que os ingleses chamam underdogs. Com uma excepção: jamais apoio equipas com donos, sejam estes chineses, americanos, indianos ou russos. E neste caso em concreto está em causa uma equipa que admiro desde há muitos anos e que goza de uma idiossincrasia única - o Bayern de Munique! Um clube, não uma empresa, em que é impensável alguém deter o poder sem ter previamente combatido com as armas bávaras ao peito.

O nosso aspirante e o novo soberano das 2 rodas - João Almeida

O ciclista português João Almeida foi o segundo classificado no 103.º Giro dell’Emilia, assim conquistando o segundo pódio da temporada, depois do terceiro lugar na Volta a Burgos. Se nada de anormal suceder será - porventura já nesta temporada, que só agora está a começar, quando, em condições normais já deveria estar a meio - reconhecido como um dos maiores corredores nacionais de sempre, quem sabe mesmo se não como o número um depois do imortal Joaquim Agostinho. Para já, integra aquele conjunto que se afigura como sendo o melhor do mundo para o conduzir a tal estatuto: os belgas da Deceuninck-QuickStep. Ou seja, precisamente a mesma equipa de Remco Evenepoel, o qual, aos vinte anos, já é reconhecido, de modo praticamente unânime, como o novo Canibal, o verdadeiro sucessor de Eddy Merckx. O mais espantoso ainda é que só ingressou na modalidade há meros três anos. Até essa viragem radical na sua carreira, Remco praticou futebol nas camadas jovens de prestigiados clubes europeus, como o Anderlecht e o PSV, tendo chegado a internacional pela selecção belga. Em 2018 sagrou-se duplo campeão mundial: em estrada e em contrarrelógio. E neste ano de 2020 venceu todas - todas! -  as provas em que participou (nove), incluindo a Volta ao Algarve, façanha não conseguida por qualquer outro ciclista.

Esta semana um horrível acidente atirou-o de uma ponte para uma ravina de dez metros de altura. A época ficou assim imediata e precocemente concluída. Quem viu não pode ter deixado de temer o pior. Mas eu acredito que ele nasceu para ser o melhor. Com a ajuda preciosa de João Almeida.

Do relativamente absoluto

Benjamin Disraeli (1804 -1881) e Winston Churchill (1874-1965) foram ambos Primeiros-Ministros do Reino Unido. Ambos por duas vezes. E ambos foram também escritores. A diferença está em que o primeiro dizia que quando queria ler um livro bom escrevia-o, ao passo que segundo foi galardoado com o Nobel da Literatura.

Em plena II Guerra Mundial, um membro do próprio Governo de Churchill questionou-o sobre se seria preciso reduzir as verbas da Cultura face ao imparável reforço financeiro militar. Resposta lapidar deste: «Evidentemente que não! Então para que serviria travarmos esta guerra?”