Pavlidis: os deuses devem estar loucos!
Pavlidis vai ter de colocar uma vela no Santuário de São Demétrio quando regressar a Salónica. No dia em que marcou não um, nem dois, mas três golos ao Barcelona... o Benfica perde... Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassossego.
Quando, com o Benfica ainda a vencer por 4-2, ouvi trovões fortes em Lisboa, pensei sinceramente que era Zeus a congratular-se com os três golos do compatriota Pavlidis marcados ao Bercelona. Zeus, o deus maior da mitologia grega, deus dos céus, raios e relâmpagos que mantêm a ordem e justiça. No final do jogo, fiquei sinceramente na dúvida: ou até Zeus anda a zoar com o desafortunado Pavlidis, ou outro deus ainda mais forte congeminou um plano bem urdido para um quadro surrealista. Que poderíamos equiparar à Persistência da Memória (1931), de Salvador Dali.
Comecemos por Pavlidis. A prova de que cada homem é um ato de fé. Dele e, acima de tudo, de quem quer acreditar nele. E a prova de quem há sempre um Éder em cada um de nós. O mesmo Pavlidis que tem sido assobiado, de forma mais ou menos envergonhada, pela quantidade de golos que falha e que não esconde ansiedade. Do ponto de vista do adepto, elogiar Pavlidis, como Lage o tem feito, pelo muito que trabalha, pela dedicação, por abrir espaços para os colegas ou por desgastar os defesas é o equivalente, para um homem que conhece uma mulher pela primeira vez, dizer que ela é muito simpática… Se é que me faço entender….
Pavilis fez jus ao nome Evangelos – boa nova – e marcou três de uma vez. Guardou-os para um palco de excelência e cada golo foi celebrado nas bancadas em ritmos de festa e de surpresa. Os deuses devem estar loucos, dizia-se. E Lage deve ter-se sentido feliz. Proteger um dos nossos do ataque dos inimigos pode exigir coragem. Mas mais coragem é proteger um dos nossos do ataque dos nossos amigos. E Lage sabia que o um jogo destes haveria de chegar para Pavlidis. Mas, afinal, Pavlidis continua a ser um deserdado do Olimpo… No dia em que faz um hat-trick… o Benfica perde! Talvez quando regressar a Salónica, onde nasceu, deva colocar mais uma vela no altar do Santuário de São Demétrio… Surrealista.
Surrealista também ver Di María, cara a cara com o guarda-redes, falhar o 5-4. Tive de esperar pela repetição, não estava a acreditar. Di María?!!! Devia ser proibido um jogador com o talento e a história do argentino falhar um golo daqueles. Surrealista.
Surrealista também a vista grossa que árbitro e VAR fizeram à grande penalidade cometida sobre Leandro Barreiro e que, mesmo que falhada, daria para manter o empate.
Bruno Lage que me desculpe, bem percebo a frustração, mas surrealista é também afirmar «enorme orgulho pela exibição». Eu entendo que os jogadores fizeram coisas que são, de facto, motivo de orgulho. Mas não há orgulho em sofrer-se cinco golos. Mesmo do Barcelona. Porque é o Benfica. Só tem orgulho na exibição de um jogo em que perdeu e sofreu cinco golos em casa quem se considera bem mais pequeno do que o adversário. Sei que Lage não o disse por mal, não o disse por não valorizar a equipa, mas a perceção começa muitas vezes nas palavras que, juntas, ajudam a formar ideias. Não há grandeza que não comece na vontade de ser grande. Essa, de resto, foi a grande lição do igualmente surrealista, por outros motivos, jogo do Benfica em Munique…
O Benfica foi vítima da qualidade do Barcelona, de erros estranhos, de um golo falhado na cara do guarda-redes por Di María e de uma decisão errada de arbitragem. E se não vejo motivos de orgulho na exibição – repito, o Benfica perdeu, no Benfica a derrota nunca rima com orgulho! - também vejo muitas coisas positivas que devem ser capitalizadas no futuro.