Para memória futura

OPINIÃO02.12.202003:00

O futebol nunca é injusto, algumas pessoas é que tentam utilizá-lo para fins que o prejudicam. No passado dia 25 de Novembro, o futebol ficou mais pobre, com a partida de dois desportistas que nunca poderei esquecer. Reinaldo Teles, administrador da FC Porto SAD, exemplo de dedicação, persistência, lealdade e construtor de amizades. Lutador incansável, deixa uma sensação de gratidão em todos os que o conheceram.
Diego Maradona, um dos maiores génios criativos nos relvados, com arrancadas em dribles que terminavam em golos fantásticos, marcou gerações, superou impossíveis, ganhou títulos, milhões e mudou o futebol. Corpo e bola fundiam-se numa identidade que criava momentos inesquecíveis. Personagem controversa, fica a memória de um deus imenso que se esqueceu que era humano. De repente, partiu também o grande campeão e excelente treinador, o amigo Vítor Oliveira, deixando o nosso futebol mais pobre.

Champions

Em Marselha, o FC Porto conseguiu nova vitória que aproximou o apuramento para os oitavos-de-final. Vencendo por 2-0 (golos de Zaidu e Sérgio Oliveira) deu um grande passo. Sérgio Conceição definiu estratégia e dinâmica, fechando espaços à medida que o adversário tentava aproximar-se da baliza de Marchesín. O FC Porto venceu com eficácia na organização do jogo, na movimentação coletiva, no aproveitamento das oportunidades e no compromisso que caracteriza o seu destino habitual. No Dragão, ontem, empatou a zero com Manchester City, confirmando o apuramento para os oitavos-de-final, por mérito próprio, contabilizando já 10 pontos e o segundo lugar garantido no grupo. Jogo sofrido, dando iniciativa ao adversário e mantendo uma organização defensiva de betão. Alterações oportunas. Marchesín, um gigante.

UEFA

OBraga recebeu o Leicester e começou a vencer num jogo muito intenso. Os ingleses empataram de imediato, mas os minhotos voltaram a colocar-se na frente. Na segunda parte, o Leicester empatou e nos minutos finais, após Carvalhal mexer novamente, o Braga fez o 3-2 numa jogada de Galeno e Fransérgio. Nos descontos e para além do tempo indicado, o Leicester empatou, com sabor a injustiça. Leicester alcançou 10 pontos e Braga 7.
Na Escócia, Rangers e Benfica voltaram a defrontar-se. Escoceses a vencer desde o início e ampliando para 2-0. Nos 15 minutos  finais, e só com a entrada de Gonçalo Ramos e de Pizzi, o Benfica ganhou ligação e conseguiu o empate. Rangers revelou-se equipa unida, com força mas muito limitada e o Benfica lento, jogadores sem confiança, sem iniciativa. Faltou maior rapidez de decisão e uma dinâmica defensiva mais eficaz. O empate permitiu a ambos liderarem o grupo com 8 pontos. Amanhã, o Braga vai a Atenas para jogar com AEK e o Benfica recebe o Lech Poznan (se vencerem, apuram-se para a fase seguinte).

Liga

Ao terceiro dia, após o jogo de Marselha, o FC Porto viajou para os Açores para defrontar o Santa Clara (não poderiam ter trocado a ordem do jogo com a segunda volta?). A situação climática adversa acrescentou esforço físico, com poucas horas de recuperação. Primeira parte contra o vento, com os mesmos jogadores de Marselha (trocando Marega por Taremi), o FC Porto controlou, marcou o único golo da partida, num excelente cruzamento de Manafá e remate artístico de Luis Díaz no minuto 45+1. Após o recomeço, com mais esforço do que qualidade, o jogo condicionou estratégias e obrigou a novas dinâmicas. Não sofrendo golos, com organização defensiva muito forte, o FC Porto procurou sempre criar momentos de finalização. Sérgio Conceição geriu as substituições para manter atitude concentrada.
O Sporting, com um jogo por semana, entrou a perder com o Moreirense, mas de imediato empatou. Após o intervalo, mantendo confiança na procura da vitória, com maior volume ofensivo, conseguiu o golo decisivo, aproveitando com eficácia a infelicidade do guarda-redes adversário. O Moreirense, com novo treinador, procurou bloquear espaços e contrariar o Sporting. O Braga encontrou um Farense determinado a procurar surpreender, mas conseguiu dominar o jogo, mantendo uma circulação rápida da bola, volume ofensivo, utilização de estratégias diversificadas e conseguindo marcar o golo da vitória.
Relvado em mau estado na Madeira. O Marítimo colocou-se a vencer aproveitando falha defensiva, com golo de Rodrigo Pinho. Os madeirenses recuaram e o jogo decorreu junto à sua área. O Benfica insistia e Pizzi, aproveitando desatenção, empatou. O Marítimo não conseguiu ligar-se com eficácia, permitindo ao Benfica jogar com espaço. Everton marcou o golo da vitória dos encarnados. Os locais tentaram reagir mas sem organização, num jogo com muitos passes errados e perdas de bola.

À beira do abismo

Escalões jovens praticamente sem atividade desportiva. Dos árbitros e praticantes, aos clubes, uma tragédia também se abateu sobre o universo da formação desportiva. As dúvidas sobre as consequências são preocupantes. A paragem competitiva que o covid-19 causou merecia um fórum urgente para descobrir rumos de transição. Portugal, com percentagens muito reduzidas de desportistas federados, atingiu níveis mínimos: um abandono de cerca de 180 mil atletas; portanto cerca de 80% deixou de praticar desporto federado. Os clubes e o movimento associativo correm riscos de sobrevivência. É urgente promover uma reflexão profunda com apoio de especialistas de várias áreas, para combater paragens que poderão tornar-se abandonos com consequências nefastas. Há um conjunto de competências, capacidades motoras e psicológicas que poderão criar vazios irreparáveis à motricidade humana.
Aqui está uma área onde o IPDJ poderia revelar utilidade, ou será que ainda não entenderam o que se passa, para além de jogos de poder? Ministério do Desporto, uma inevitabilidade!

Será assim tão difícil?

Nos países das mais importantes ligas da Europa, a regra nos programas televisivos é não falar de arbitragem, mas de opções táticas, metodologia de treino, evolução de jogadores, comentários de jogos, estratégia, condição física, tempos e formas de recuperação, reforço emocional, gestão do plantel, análise do jogo e scouting… Até das tendências para o futuro. Em Portugal continua a colocar-se o foco da discussão na arbitragem e a partir daí manter um clima de suspeição (tipo campeonato paralelo), utilizando eventuais falhas para reforçar conflitualidade que relega o jogo para plano secundário; há declarações públicas de dirigentes que acabam por ter mais espaço mediático do que os jogos. Todos os dias há programas para discutir/acusar adversários em função da cor das camisolas. Temos a convicção de que há muito boa gente que ainda não descobriu que o passado já foi e que hoje a noção de clube grande entrou em órbita sem destino: as competições são entre clubes, nos relvados, e todos procuram vencer, seja onde for e contra quem for. Precisamos de dar um passo decisivo. Dessa escolha dependerá o futuro do jogo. Lembram-se de termos começado por Maradona?