Os princípios no futebol

OPINIÃO27.06.202306:30

No futebol o que não faltam são exemplos de pessoas que nos desiludiram

COMO desporto que arrasta multidões, há muito que o futebol é mais do que um mero entretenimento.
O seu crescimento começou há décadas e acentuou-se muito nos últimos anos, fruto da sua tremenda capacidade em gerar receitas.

Os valores de transferências e das cláusulas de rescisão dos seus mais valiosos ativos são bem elucidativos da dimensão galática que o jogo mais apaixonante do planeta conquistou nos dias de hoje.

Algo assim, tão poderoso e transformador, é atrativo para muita gente. Para gente que vê uma oportunidade de ouro para se promover e chegar mais longe, algo perfeitamente normal dentro da ambição pessoal e profissional de cada um.

Mas essa veia sedutora atrai também quem não tem escrúpulos e é intrinsecamente mau. Gente sem caráter, que nunca olha a meios para atingir os seus fins. Ali pelo meio, moram muitas almas boas que acabam por render-se, por conformar-se com determinadas práticas, acabando elas próprias por embarcar em voos demasiado arriscados para os seus valores.

É assim aqui como em qualquer outro setor de atividade onde dinheiro e poder andem de mãos dadas.

No futebol o que não faltam são exemplos de pessoas que nos desiludiram, quer pela evidência de crimes cometidos, quer pelo à vontade com que esmagam quem os rodeia.

Estou no entanto em crer que a maioria daqueles que estão na indústria são homens e mulheres honestos, competentes e bem intencionados, que dão o melhor de si semana após semana, época após época. Devem ser esses, precisamente esses, a ocupar os lugares de maior relevo. Devem ser eles a ficar com cargos de responsabilidade, mesmo que aos olhos de outros não tenham o perfil adequado.

Quanto ao jogo em si, deve nortear-se de um conjunto de princípios importantes. Princípios que devem saber fomentar e promover, de forma a garantir a sua imagem e bom-nome, no presente e futuro. Deixo aqui apenas quatro:

1. Jogo limpo (fair play dentro das quatro linhas, elevação, educação e seriedade fora do terreno de jogo). Todos os agentes desportivos têm a obrigação regulamentar e moral de se respeitarem mutuamente. Muitos não só não o fazem, como estimulam o exato oposto. Os intervenientes diretos no espetáculo deviam ser os primeiros a promover o desportivismo, por saberem a importância que as suas palavras e ações têm nas emoções e gestos de milhões. Quando não o fazem, deviam ser chamados à atenção, castigados ou afastados. Por essa ordem;

2. Competitividade. Qualquer prova que seja disputada até à última, tem mais interesse e admiradores. É fundamental que a indústria ofereça a todos a oportunidade de competir em pé de igualdade, dentro do possível. Um campeonato equilibrado e com vencedor indefinido pode não ser perfeito aos olhos de alguns, mas é mais justo e apelativo para o adepto. É assim em qualquer modalidade;

3. Trabalho de Equipa. O futebol não é um jogo individual nem em campo nem cá fora. Todos os seus profissionais devem trabalhar em equipa, com um só objetivo: conseguir o melhor para as cores que defendem. Isso vale para clubes e para as estruturas que gerem o jogo. A paz podre é o pior dos inimigos, que pode servir a pessoas, mas não ao espetáculo. E as pessoas só estão lá para servir o espetáculo, não para se servir dele. Convém relembrar isto com frequência;

4. Igualdade e integridade. Para lá do fair play, é fundamental que a indústria e os seus agentes continuem empenhados em combater ferozmente toda e qualquer manifestação de intolerância (de género, racial, xenófoba, religiosa, etc.) e fenómenos como o da violência, viciação de resultados/apostas ilegais e, já agora, o do tráfico de seres humanos. Esses são pilares fundamentais que garantem (ou não) a credibilidade ao desporto mais jogado do mundo.