Os milhões do Chelsea
Multimilionários são multimilionários, independentemente dos países de origem, ‘vide’ sucessor de Roman Abramovich
A indústria do futebol movimenta milhões. E fá-lo de forma pouco discreta e quase sempre sem perguntas sobre a origem do dinheiro que a alimenta. O exemplo do Chelsea é mais do que paradigmático. Os blues, na preparação de 2022/2023, já sob o controlo do consórcio liderado por Todd Boehly, investiram nada menos do que 281,99 milhões de euros e contrataram, entre outros, Wesley Fofana (80,4 milhões), Marc Cucurella (65,3), Raheem Sterling (52,6), Kalidou Koulibaly (38) ou Pierre-Emerik Aubameyang (12). No arranque da temporada, londrinos campeões nas transferências! Ninguém gastou mais!…
Muita parra, pouca uva. Até ao momento, temporada modestíssima e bastante aquém das expectativas dos adeptos dos blues. Mesmo depois da mudança de treinador (o inglês Graham Potter, de 47 anos, sucedeu no cargo ao alemão Thomas Tuchel, de 50), o Chelsea é apenas 10.º na Premier League, totalizando só 29 pontos em 20 jogos. Assim, título impossível: o líder Arsenal soma mais 21! Ainda assim, o clube continua em ação na competição de clubes número 1 na Europa — Dortmund como adversário nos oitavos. Talvez por isso os londrinos pretendam, também, sagrar-se campeões de transferências no mercado de inverno!
Aparentemente, em Stamford Bridge, a fonte do dinheiro é inesgotável, mesmo depois da mudança de era, com norte-americanos no comando das operações, após 19 anos de domínio russo! O proprietário dos Los Angeles Dodgers, da liga profissional norte-americana de basebol (MLB), de acordo com a informação conhecida, não mantém relações com a Rússia, muito menos com o Kremlin ou Putin...
Os números arrepiam... Apenas este mês, de acordo com o Transfermarkt, investimentos na ordem dos 178,5 milhões de euros. Os londrinos contrataram Mikhailo Mudryk (100), Benoît Badiashile (38), Noni Madueke (35), Andrey Santos (12,5), David Datro Fofana (12) e João Félix (11). Os blues, escreve-se em Inglaterra, ainda não desistiram da compra de Enzo Fernández ao Benfica, mas o negócio, por exigência do presidente das águias, Rui Costa, pressupõe o pagamento da cláusula de rescisão inscrita no contrato do argentino (120 milhões). Paralelamente, também estão de olho em Moisés Caicedo, do Brigthon, e Malo Gusto, do Lyon.
O futebol é negócio que precisa de dinheiro, dinheiro que tem de circular de mãos para mãos para colocar a indústria em movimento. Em junho de 2003, por 164 milhões de euros, Roman Abramovich proprietário do Chelsea. O oligarca próximo de Putin recusou sempre esta ideia, mas conta-se que a operação teve como objetivo principal aumentar a influência e melhorar a imagem da Rússia no Reino Unido, quer próximo das elites, quer do povo. Já a venda realizou-se em maio, depois da aplicação de sanções ao oligarca pela relação de proximidade com o Kremlin. Valor da operação: 5000 milhões de euros!
Nesta dimensão do futebol, clubes portugueses fora de jogo, com ou sem centralização dos direitos das transmissões televisivas. A dimensão do nosso mercado não suporta (muito) mais. Sem intervenção que contribua para a promoção da competitividade e do espetáculo, sobretudo dos organismos com capacidades reguladores, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.