Os caminhos para a competitividade
«Será legitimo acreditar que é segregando as equipas mais fortes dentro da nossa competição e diminuído o acesso a jogos com as mesmas que vamos alargar o número de clubes capazes de competir externamente?»
ESTA semana, a Liga Portugal, através do presidente Pedro Proença, fez parte do painel de oradores do Sports Summit Brasil, em São Paulo, num dos maiores eventos de discussão sobre o Desporto no mundo. Ao longo de três dias, foram vários assuntos a serem debatidos, como a Centralização de Direitos Audiovisuais, transformação digital, utilização de data no Sports Management ou a entrada numa era em que os adeptos estão no centro das decisões.
A Liga Portugal foi uma das quatro ligas europeias presentes, com a La Liga, Serie A e Bundesliga, com o público, nomeadamente o sul-americano, interessado em compreender o modelo de negócio português, a transformação do produto espanhol, a inovação das transmissões alemãs ou o ressurgimento italiano nas provas da UEFA, capitalizado pelo modelo centralizado de vendas de direitos audiovisuais.
Fóruns como o Sports Summit ou o Thinking Football Summit (TFS), de agregação entre vários agentes, assumem crescente importância no panorama atual de transformação da indústria, com o futuro do futebol em causa. Duas das matérias debatidas são as da calendarização e da elevação do produto. Nenhum campeonato poderá evoluir e manter-se apelativo para adeptos e parceiros sem assegurar o fator mais importante: a competitividade.
Em Portugal, por exemplo, à entrada para as últimas cinco jornadas, tudo está por decidir. Na Liga Portugal bwin, seis pontos separam os três primeiros classificados (cenário único na Europa), a luta europeia e pela permanência estão em aberto, tal como nas últimas duas temporadas, onde o título foi decidido à penúltima jornada. As subidas e descidas na Liga Portugal SABSEG estão também ainda por definir, uma constante ao longo dos últimos anos.
Se olharmos para as dez primeiras ligas do ranking da UEFA, as contas do título estão quase encerradas em Espanha, Itália, França, Países Baixos e Escócia. Permanecem em aberto as ligas de Inglaterra, Alemanha, Portugal ou Bélgica. O formato das provas, não sendo linear em todas as geografias, adota o modelo clássico - todos contra todas, a duas voltas - em todas as principais ligas desenvolvidas da europa.
O novo modelo das competições da UEFA pós-2024 levou todas as ligas domésticas a refletirem sobre a adequação dos seus formatos internos ao aumento de datas ocupadas pelas competições internacionais. Com exceção da Liga Francesa - que reduzirá o seu número de equipas das atuais 20 para 18 - e de algumas necessárias correções no modelo competitivo das taças domésticas, todas as principais ligas de primeira linha da Europa - onde se inclui Portugal - optaram por não alterar o formato competitivo dos seus campeonatos.
No entanto, a recente confirmação da perda do sexto lugar do ranking da UEFA para os Países Baixos, viu ser semeada na opinião pública a já expectável narrativa de que tal facto será de certa forma causado pela não adoção de modelos competitivos inovadores e disruptivos por parte da Liga Portugal. Têm sido várias as opiniões e profecias recuperadas, com a curiosidade desses saltos ao passado nunca incluírem uma única palavra sobre a génese de criação da Liga Conferência e sobre o que esta provocou na desvirtuação do ranking da UEFA, isso sim, com real impacto na ultrapassagem dos neerlandeses através dos pontos conquistados na mais recente competição europeia.
Sejamos claros: nas cinco temporadas que contribuem para a construção do ranking UEFA, Portugal perdeu para os Países Baixos nas últimas duas. Épocas essas em que a prestação de quatro das nossas equipas foi muito meritória, tendo Portugal somado nessas mesmas temporadas em que foi suplantado pelos neerlandeses mais pontos que nas três anteriores, com a diferença de que o fez em patamares competitivos muito mais desafiantes que os adversários, uma meritocracia que infelizmente o ranking da UEFA hoje não contempla.
Assim sendo, resulta óbvia e inequívoca a obrigatoriedade de mais equipas serem capazes de contribuírem com pontos, para lá das 4 que nas últimas cinco temporadas conquistaram 91% dos pontos do ranking luso! É imperativo implementar mais condições para que os nossos clubes que habitualmente ocupam a 5.ª/6.ª vaga na Europa possam ter sucesso.
Algumas das soluções de quadros competitivos inovadores que têm sido (legitima e oportunamente) debatidas têm como base a otimização dos jogos entre melhores classificados da Liga, na premissa expectável (mas por comprovar…) que mais jogos entre as grandes equipas significa mais dinheiro do produto audiovisual e mais incremento do fator competitividade. Mas muitas dessas propostas contemplam também como consequência a redução do número de jogos entre todas as restantes equipas e o top 4. Será legítimo acreditar que é segregando as equipas mais fortes dentro da nossa competição e diminuindo o acesso a jogos com as mesmas que vamos alargar o número de clubes capazes de competir externamente?
A Liga Portugal, em conjunto com todos os seus clubes e demais agentes e instituições, continuará a estudar as melhores estratégias e ações para que o regresso ao sexto lugar seja conseguido a mais curto prazo possível, com a certeza de que só o caminho da melhoria do nível competitivo de todos os clubes da Liga poderá acelerar este desiderato.