Os bons e os maus exemplos!

OPINIÃO21.07.202107:05

Como balanço final, reconheça-se o que a arbitragem contribuiu para tornar mais espectacular o futebol do Euro-2020

O ritmo e a intensidade dos jogos do Europeu ficaram a dever-se a vários fatores, entre os quais o desempenho dos árbitros e do VAR, sem perdas de tempo. Por isso, e pela dinâmica em não permitir simulações, todos os jogos decorreram com velocidade. A prova da importância da influência da ação dos árbitros ficou demonstrada. Ao contrário das nossas competições internas, os árbitros foram essenciais e nunca se transformaram em protagonistas. Esse terá sido um dos aspetos mais em destaque e para exemplo futuro!
Com atuações que mantiveram ritmo constante, os árbitros contribuíram decisivamente para tornar o futebol mais espetacular. De forma natural, simples e segura, reduziram substancialmente as paragens prejudiciais e sistemáticas. Potenciaram a intensidade do jogo, sem dar nas vistas, acompanhando sempre na melhor posição para decidir, diferenciando o jogo bem disputado da excessiva dureza.
Quem mais beneficiou foram o público e os jogadores. Os treinadores tiveram também a oportunidade para pensar exclusivamente no jogo, nas dinâmicas, fazendo de cada partida um momento imprevisível, com mudanças sucessivas e muita exigência técnica, tática, física, psicológica e comportamental, ao serviço da equipa, a unidade essencial. Jogos sem casos (pequenas imprecisões são humanas) permitiram aceitar pormenores sem discussão e valorizar a entrega total ao futebol.
Para lamentar, no último jogo, o comportamento de quem não entende o desporto, de quem não sabe ganhar nem perder, assim como os insultos racistas e cenas de violência no exterior, como frustrações de ignorância e mesquinhez.
Gareth Southgate, selecionador inglês, esteve à altura dos acontecimentos. Se a Itália venceu a competição, superando espaço temporal de mais de cinco décadas desde o último título semelhante, o mister inglês foi quem deixou marcas civilizacionais inesquecíveis, mantendo posição crítica e procurando libertar os jogadores do peso da derrota, nas grandes penalidades.
Futebol assim é muito mais que vencer, empatar ou perder, é também contribuir para um tempo novo onde agressores e atitudes inaceitáveis não possam mais entrar nos estádios.
Tem a palavra o primeiro-ministro britânico que poderia ter feito e dito muito mais. Quem sabe se, com a sua forma de intervir, não terá dado mais um contributo para processos políticos de separação…
As lideranças competentes e solidárias criam caminhos sedutores e justos, que representam passos importantes para um mundo melhor e mais tolerante. A UEFA terá aprendido com o erro, pois não se pode fazer uma competição desta amplitude com tantas desigualdades.
Onze cidades de vários países para modelo de um Europeu que se queria inclusivo e diferente (decisão de Platini, anterior presidente da UEFA) foi mais uma triste aventura que não deveria ter avançado. Até as lesões aumentaram por via do esforço acumulado, em final de época, perdendo-se a possibilidade de uniformizar condições.
Fala-se agora do eventual aumento de seleções nesta prova; por isso se torna urgente analisar com competência o efeito sobre os jogadores, antes de pensar no aumento dos lucros (essa gente, alguma vez jogou futebol a sério?). Muda-se para evoluir e promover a qualidade do jogo, não com experiências ilógicas que intensificam a ideia da prioridade financeira. Será que o Mundial do Catar comprovará consequências para lamentar, desde a sua escolha?
Parabéns a todos, particularmente para a coragem das afirmações públicas do selecionador de Inglaterra, condenando a discriminação racial.
Outro aspeto que marcou este Europeu foi a coesão da Dinamarca em redor do seu companheiro Eriksen, com total apoio e proteção da equipa que teve de concluir o jogo nesse dia e passado pouco tempo.
O negócio atingiu valores elevados e em alguns estádios houve exagero da lotação. Há dirigentes que só vislumbram cifrões e continuam sem compreender a importância que o futebol comprova ao longo dos anos. Personalidades que chegaram à UEFA, sem bases indispensáveis que permitam entender o jogo, desconhecem o essencial da única linguagem global do nosso planeta: o talento em movimento.


O AUTOGOLO DA AMBIÇÃO

O grupo tinha tradição valiosa, embora nos últimos tempos a união fosse mais imagem promovida do que realidade sentida. As divisões cresceram como cogumelos selvagens e tóxicos. Todos conheciam os diversos problemas, as decisões, os abusos da fuga para a frente.
Uns fingiam não ver, outros criticavam duramente pelas costas. A paixão pelo clube revelou oportunismo para obter avultados lucros e subidas na hierarquia. Todos desconfiavam de todos e, por isso, nasceram grupos para obter poder e posições. Mudou o paradigma. Tudo estava dividido e, por isso, se desfez em pó, desconhecimento e pouco mais.
Defender instituições que prestigiaram o nosso país, no desporto e não só, confirma transformações radicais que colocam os adeptos no último degrau, ao mesmo tempo que transporta para a fama personagens ocasionais e não equipas: uma contradição destrutiva.


O OUTRO LADO DO ESPELHO

N ÃO de trata da história de Alice no país das maravilhas, mas realmente o início do novo campeonato mantém fantasias, vícios e tiques que confirmam a incapacidade de melhorar.
O tempo não pára e por isso temos a obrigação de aperfeiçoar o que não serve e inovar com segurança e sustentabilidade. Cláusulas antirrivais e outras espertezas, no século XXI, num momento em que já existem empresas de excursões ao espaço, parece filme do tempo em que eram mudos.
Nova época e nada de novo com significado. Os mesmos procedimentos, os mesmos princípios e promessas, as acumulações de funções que trazem sempre água no bico e o pior de todos: a incapacidade para dialogar com abertura e aceitar a discordância. Entretanto, do lado de cá do espelho, permanecem sombras sinistras que são especialistas em alimentar fogueiras...


REMATE FINAL

Luís Filipe Vieira enviou cartas de demissão de presidente ao clube e à SAD do Benfica. O seu braço direito poderia ter ocupado o poder como presidente interino, até se conseguirem criar condições para um novo ato eleitoral. O que os unia poderia não ser unicamente a paixão pelo clube. Após cerca de 18 anos a liderar, o Vieirismo caiu com uma rajada de vento instantânea. Luís Filipe Vieira fez obra de muitos anos, engrandeceu o clube, mas perdeu-se e destruiu-a. Que sirva de exemplo, de orientação e de combate cerrado, sem pausas nem ódios, para não mais esconder as realidades e iludir os adeptos. Os que tentavam sentar-se junto do presidente, agora são sombras da noite para não serem reconhecidos e desertam a grande velocidade, procurando regressos heroicos.

A nível nacional ou mesmo à escala planetária, não cessam as notícias escabrosas, impróprias, pouco edificantes. Desta vez vieram ventos tenebrosos de Espanha que espelha o seu autor: o presidente do Real Madrid. Rico e mediático, distinguiu-se de outros mais modestos, não pelas virtudes ou ações, mas pela ausência de princípios elementares da educação e do decoro. Inventar cenários, ir buscar às arcas do tempo exemplos torpes e manifestar caminhos de inveja, por não triunfar, produzindo informações em segredo (de passados fora de prazo) sem possibilidade de contraditório, mesmo sabendo que a opinião pública acabará por ter acesso a essas infelicidades, não é digno de ninguém, muito menos de um presidente. Calúnias e hipocrisias são jogos florais de magnatas que se acham acima de tudo, mas não assumem a coragem de o afirmar em público, por isso alimentam seguidores... Distorcer afirmações ou descontextualizá-las são estratégias de quem não sabe perder ou não consegue reconhecer que está ultrapassado. O tempo guardará sempre quem deixou marcas de genialidade. Os outros deverão evitar cair na indignidade que os apagará das memórias onde se poderiam manter.

O acesso dos adeptos aos estádios de futebol, que a Liga pretende o mais breve possível, aguarda decisão sobre a data, as regras e os procedimentos que forem acordados pela Direção-Geral de Saúde, bem como a dimensão da ocupação espacial (33%?). Aguarda-se informação do Governo, para se poder organizar com tempo e segurança. Os festejos do título deixaram marcas terríveis que não se podem esquecer e a imagem de uma incompetência diversificada.