O Vitória Europeu
Vitória venceu, fora, o St. Gallen, por 4-1, e nesta quinta-feira recebe a Fiorentina também para a Liga Conferência (Foto: IMAGO)

O Vitória Europeu

Sentido de pertença é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, associado do V. Guimarães, jurista e empresário

1 — Escrevo esta linhas no intervalo entre dois jogos absolutamente decisivos para as aspirações europeias do Vitória: o jogo fora em Sankt Gallen, na Suiça e a receção aos italianos da Fiorentina. Estamos, definitivamente, de volta aos grandes palcos e aos grandes jogos. E que bem que sabe voltar a ver o «Vitória Europeu» que Dino Freitas escreveu e cantou em 1986, após a eliminação do Atlético de Madrid.

Em Sankt Gallen o Vitória venceu categoricamente por 4-1. A quarta vitória em 5 possíveis na fase de liga. A décima vitória em 11 possíveis nesta edição da Liga Conferência. Uma coisa magnífica. Que coloca o Vitória em 2.º lugar na Liga Conferência, imediatamente atrás do líder Chelsea e à frente do seu adversário desta quinta-feira, a grande Fiorentina. Um jogo absolutamente magistral, de futebol perfumado, com um meio-campo com um rendilhado a fazer recordar os nossos melhores tempos.

2 — Não me revejo num certo frentismo que alguns adeptos do Vitória assumem contra os órgãos de comunicação social, embora estejam cobertos de razão: não há equidade no tratamento aos clubes portugueses e na televisão, então, isso é absolutamente gritante. Não obstante, após a vitória na Suíça A BOLA dispensou-nos o título «Assim nasce um gigante português na Conferência!». E o Público: «Vitória goleia na Suíça e continua a passear classe pela Europa». Sabe melhor não termos de ser nós a dizê-lo. Era importante que os órgãos de comunicação social não vissem estas exigências de equidade como um menino de mão no ar a pedir que lhe prestem atenção, mas antes como um crescimento social que proporcionam no fenómeno futebolístico e nas suas próprias audiências. É importante para todos que o campeonato português não seja sempre uma sueca jogada a três. O Vitória e o Braga há muito têm feito por o justificar e merecer.

Exemplo disso mesmo é o artigo de Luís Mateus, Editor Executivo d’A BOLA, dedicado em exclusivo ao Vitória — o que também é preciso registar — onde sob o título «Os pontos da Liga Conferência» escreve que a «Fantástica campanha do Vitória de Guimarães na UEFA, (é) um exemplo perfeito de uma equipa muito bem construída, trabalhada e com química para jogar muito bom futebol». Um subtítulo que resume tudo.

3 — Quero complementar esta ideia de Luís Mateus com o contributo objetivo que o Vitória tem dado ao futebol português. Em primeiro lugar, o Vitória é — de longe! — a equipa que se apresenta com mais jogadores portugueses. Na Suíça, por exemplo, apresentou-se com oito portugueses no 11 inicial sendo que dos cinco que entraram, 4 eram portugueses. Um contributo para o futebol nacional a que deve ser dado o devido crédito.

E o forno da nossa Academia continua a dar-nos razões de orgulho. Três jogadores quero destacar: Manu Silva, português, 23 anos, um trinco à moda antiga descoberto no Feirense e que se vai tornar um caso sério de equilíbrio defensivo e visão ofensiva. Alberto Baio, português, 21 anos, atleta do Vitória desde os 11 anos que está a cumprir o sonho de qualquer adepto e que se apresenta como um lateral de velocidade e condição física assinaláveis com uma técnica e uma verticalidade muito acima do habitual. Oscar Rivas, espanhol, 24 anos, defesa central contratado na 3.ª divisão espanhola e que vai ser um caso sério no futuro próximo. Três atletas de quem pouco ou nada se ouvia falar há muito pouco tempo. Pegaram de estaca e afirmaram-se numa equipa já de si com imensa qualidade o que, creio, diz tudo do equilíbrio e das soluções do nosso plantel e diz ainda mais da qualidade imensa do Rui Borges, o melhor treinador do nosso campeonato.

4 — Obviamente não pretendo ignorar o empate com o Rio Ave. Que grande jogo fez o Rio Ave! Que grande jogo fez o Vitória! Um campeonato que apresenta jogos disputados e com imensa qualidade é um campeonato que só pode melhorar. Apesar do resultado não ser o que esperávamos temos de reconhecer valia ao adversário e louvar a entrega e a qualidade dos nossos jogadores.

Agora, esta quinta-feira recebemos a Fiorentina no que esperámos possa vir a ser mais uma grande noite europeia. Uma equipa duma cidade esplendorosa de cultura e património, berço de figuras incontornáveis da Humanidade como Dante Alighieri, Leonardo da Vinci ou Michelangelo. Estar na Europa é tudo isto, é viajar, através do futebol, pela História do continente que integrámos. O recorde do Vitória foi ter atingido os quartos de final da Taça UEFA, em 1986/1987. Fomos eliminados pelo Borussia Monchengladbach após termos eliminado grandes equipas como o Sparta Praga, o Atl. Madrid e o Groningen.

De modo absolutamente contra cíclico (por nos encontrarmos talvez na pior fase financeira da nossa História), temos uma possibilidade real de conseguir obter o apuramento para os oitavos de final, que só jogaremos em março… O Vitória tem de continuar a aliar o seu querer à sua humildade. Se me for permitido, apelo a que recebamos os rapazes de Florença com uma enchente histórica em Guimarães, para podermos voltar a dar significado à quadra com que comecei este texto e que Dino Freitas escreveu em 1986:

«Desta vez é que é de vez, o Vitória da nova era,

Sai do berço português, tens a Europa à tua espera!»