O título desejado

OPINIÃO02.02.202305:30

FC Porto conquistou troféu que lhe faltava no museu. Vitória merecida pela unidade e estratégia

Aconquista da Taça da Liga, que alguns designam como Campeão de Inverno foi preparada ao pormenor. O conceito, a estrutura e as decisões de promoção desta competição foi um excelente exemplo de enquadramento do futebol como uma grande festa, que atraiu as atenções. Tudo foi pensado para um jogo memorável. Nos jogos da Liga poder-se-iam aproveitar alguns desses pormenores, lançando em cada partida iniciativas que encham os estádios, valorizando o futebol e criando ambientes de fair-play (mediante sorteios através do número do lugar, para receber uma bola de um jogador ou ter o direito a selfie, com o seu atleta preferido). Tudo estava pronto para um grande jogo. Infelizmente, a pirotecnia não deveria ter entrado no estádio e a lei tem de ser cumprida, caso contrário o futebol caminha para situações intoleráveis e de elevado risco.

O encontro começou com intensidade máxima, muito disputado e calculista. O golo de Eustaquio aos 10’ criou dinâmicas contrárias: FC Porto cedeu iniciativa ao Sporting, que se lançou em força para ocupar o meio-campo do dragão e criar oportunidades, sempre com pressão elevada. Os dragões fecharam linhas, uniram setores e conseguiram aguentar a intensidade do Sporting, sem correr grandes riscos.  Na segunda parte, depois de alguns lances com perigo junto à baliza do FC Porto, os azuis e brancos foram avançando em função de estratégia definida. Jogo duro, com agressividade, com exageros que o árbitro procurou controlar de imediato (tarefa muito difícil, mas que cumpriu dentro do possível). Os jogadores profissionais de grandes clubes nunca podem ter atitudes que penalizam o clube, com egoísmos e lances inaceitáveis.

A expulsão do avançado do Sporting foi mais um momento triste, que um profissional tem sempre de evitar. Reduzido a 10, os leões lutaram sempre até ao fim. Destaque para Pedro Porro, que joga sempre nos limites, mas que soube manter uma relação profissional exemplar com os adversários: que seja feliz na sua nova aventura em Inglaterra. Perto do fim, João Mário abriu o livro, isolou Pepê que assistiu Marcano, no lugar certo e obteve o segundo golo azul e branco: a experiência é uma mais-valia. Sucederam-se substituições, mas manteve-se o resultado.

O árbitro teve tarefa muito complexa, mas conseguiu preservar a dignidade que o jogo impunha. O FC Porto de Sérgio Conceição conquistou o único troféu que faltava no Museu do Dragão. Não foi um grande jogo em termos de qualidade, mas uma vitória merecida pela unidade, entrega e estratégia. Saber vencer é mais fácil, mas saber perder é imprescindível para se valorizar o fair-play. Ambas equipas jogaram nos limites do equilíbrio comportamental, com o FC Porto mais contido e unido e o Sporting a perder-se em lances que não servem o jogo. Rúben Amorim divulgou que os seus jogadores se sentiam revoltados e, por isso, foi forçado a obrigá-los a irem receber as respetivas medalhas, o que nunca se pode aceitar. As personagens mais importantes, em termos hierárquicos (os presidentes), têm de passar os princípios que nunca se podem desvalorizar.

Mais do que os títulos conquistados por Sérgio Conceição, o mister tem uma mentalidade de lutar sempre para a vitória e de tirar as ilações de eventuais e raros insucessos. Sérgio ultrapassou todos os antecessores em recorde de títulos (9, ultrapassando o de Artur Jorge, com 8 títulos), uma prova evidente da qualidade do seu trabalho. O presidente do FC Porto mantém a sua vontade diária de querer conquistar sempre mais, o que é uma importante lição para os mais novos.
 

OS VÍRUS QUE CONTAMINAM 

Seja quem for, não parece leal e correto lançar publicamente suspeições antes que seja divulgado o que está em causa, de forma clara, oficialmente com factos provados, para impedir injustiças, porque são um obstáculo complexo para o apuramento da verdade. Os inúmeros remates aos postes só complicam a possibilidade de a transparência vencer a mentira. A dúvida permanente é sempre um golo na própria baliza, na medida em que um falhanço não tem de ser sempre elemento de desconfiança, mas algo natural. A investigação criminal tem de ser célere e impedir o nascimento de constantes suspeições, assim como eventuais esquemas financeiros, que o cidadão comum não consegue entender. 

O Benfica confirma que a SAD e os administradores foram constituídos arguidos. Foi divulgado num comunicado do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol a instauração de um processo disciplinar à SAD do Benfica, sem divulgar o motivo, o que é um paradoxo que ainda cria mais desconfiança. O futebol nacional carece de credibilidade, porque sistematicamente se envolve em ambientes de suspeição para se esclarecerem as dúvidas, graças à investigação judicial, competente e imparcial, para evitar atropelos à verdade. Foram constituídos arguidos alguns membros do Conselho de Administração do mandato 2016-2020 ainda em funções. Era necessário divulgar sem explicar? Em análise está um processo de investigação, com o objetivo de evitar prescrições, tanto mais que não houve interrogatório algum. Como diz o povo: «Quem não deve, não teme.»

Seria mais útil averiguar com rigor, mas sem criar polémicas antes de se conhecer as realidades: evitar casos que ninguém sabe o que acontece, porquanto se criam dúvidas constantes, sem provas concretas e decisões fundamentadas. Exige-se uma ação célere e competente, sem pontas soltas, que acabam sempre por servir para distração de suspeitas que penalizam o futebol e se tornam sementes de ódios, que devem ser esclarecidas e resolvidas sem margem para dúvidas. Recorrer ao passado, na procura dos anteriores casos lamentáveis que prejudicaram o futebol, aos eternos fantasmas, é uma obsessão doentia. Os clubes são entidades que lutam por vitórias com os meios disponíveis, e investem na busca de casos que nunca foram completamente resolvidos. A culpa não pode morrer solteira e quem falha deve assumir o erro, com dignidade, porque é assim que se consegue um futebol acima das constantes suspeitas, que vão minando a confiança no jogo.

São urgentes as arbitragens que mantenham o jogo numa intensidade que valoriza o jogo. Assim como se falham golos incríveis, também se podem falhar decisões de arbitragem (embora com o apoio tecnológico do VAR sejam mais fáceis de corrigir). As arbitragens contribuem para a evolução do jogo, desde que haja humildade em reconhecer os erros e tentar evitá-los. Assumir falhas é o passo mais importante para se tornar a arbitragem num setor que nos orgulhe. Fanatismos dividem entidades e criam polémicas que impedem diáogos imprescindíveis.
 

A LIGA 

Asegunda volta da Liga Portugal vai ser decisiva a vários níveis e, por isso, é fundamental o máximo rigor e tempos de recuperação dos esforços equivalentes. A antecipação do jogo entre Paços de Ferreira e Benfica (que as águias venceram por 2-0) ficou a dever-se a dar tempo de preparação alargada ao Benfica que vai à Bélgica defrontar o Club Brugge, a 15 de fevereiro, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Espera-se o mesmo tratamento em casos idênticos.

O Vizela sofreu golo no final da primeira parte do Rio Ave, mas após o intervalo respondeu com 3 golos. O Casa Pia venceu o Santa Clara com um golo no tempo de compensação. O Boavista com 4 golos e mais oportunidades superou o Portimonense que só conseguiu 2 golos. O Famalicão, num jogo muito disputado com o Estoril, conseguiu o golo da vitória. O Vitória de Guimarães venceu o Chaves, num jogo equilibrado e com final imprevisível no tempo de compensação. O Paços de Ferreira, com calendário difícil, sobrecarregado, mas confiante, venceu o Gil Vicente. O Arouca não conseguiu ligar o jogo e o Benfica marcou 3 golos sem resposta. Na Madeira, o FC Porto venceu o jogo por 2 golos sem resposta, com arbitragem inaceitável, permitindo excessiva dureza e prejudicando nitidamente os azuis e brancos, que souberam resistir a tudo. O Sporting goleou o SC Braga com resultado expressivo: 5-0.  Há arbitragens que acabam por ter influência na classificação final e logicamente nos títulos e descidas de divisão: com o VAR isso não pode acontecer! O fator casa continua a ter muita influência nos resultados e há relvados que impedem melhor futebol.
 

ESCLARECIDO OU NÃO?

Em 2019, um jogador do Marítimo declarou ter sido aliciado de tentativa de suborno por um empresário, pelo valor de 30 mil euros, para não rematar à baliza de um clube grande da capital e fazer um jogo sem qualidade. Segundo o presidente do Marítimo, o assunto está encerrado e o jogador, como testemunha de acusação, tem obrigatoriamente de manter sigilo. 

Portugal, onde nascem talentos todos os anos, foi o país do mundo que mais jogadores de futebol estrangeiros importou no ano 2022, um total de 901 jogadores de futebol de outros campeonatos: surpresa que contraria a afirmação de que os nossos clubes estão em crise! O Brasil foi o mais exportador de jogadores . Em 2022, Portugal foi o quinto país que mais dinheiro obteve com as transferências internacionais: 532,8 milhões de euros.

A Direção do International Football Association Board (IFAB) está a refletir na eventual alteração da regra do fora-de-jogo: impedir que um jogador em clara posição irregular, não possa a ficar em jogo logo que um adversário toque a bola. Lamentavelmente, foi vetada a possibilidade de inclusão das substituições temporárias, após uma concussão: a defesa da vida ainda não é reconhecida como obrigação.

APROXIMAM-SE ELEIÇÕES

AFederação Portuguesa de Futebol e a Liga Portugal já devem estar a projetar antecipadamente a estratégia para cativar os eleitores com projetos e intenções inovadoras. A todos os clubes é garantido o mesmo tratamento. A realidade, depois das votações, pode apresentar cenários contraditórios.
 

REMATE FINAL 

—«Entramos sempre com respeito pelo adversário, mas para tentar ganhar.  Foi um jogo tranquilo, pena o envio daqueles very-lights que podia ter consequências graves, felizmente não aconteceu», afirmou o presidente do FC do Porto.

— Sérgio Conceição (o treinador mais titulado de sempre do universo Porto) após a conquista da primeira Taça da Liga, pelo FC Porto, deixou no ar afirmações que revelam também o seu caráter: «Tudo ficou mais fácil após a expulsão de Paulinho (…) Eu e Pinto da Costa somos obcecados por títulos. Ele tem ainda um brilho no olhar.»  

— Diogo Costa afirmou que o guarda-redes «Cláudio merecia jogar. É um companheiro excelente, muito trabalhador».

— Dos quatro primeiros classificados, três fizeram negócios avultados com as transferências de jogadores para clubes europeus, o FC Porto mantém a sua exigência competitiva.