O tempo da justiça
Este Europeu pode iniciar uma nova fase que marque a diferença entre um passado com erros inqualificáveis e um futuro justo e imparcial
C ADA vez mais, a Justiça carece de equipas fortes, coesas, a funcionar como um relógio perfeito. Centenas de peças, umas maiores, outras minúsculas, graças ao talento humano, durante muitos anos funcionaram na perfeição, porque cada uma cumpria a sua missão com profissionalismo, rigor, excelência e arte. Num país, a justiça é muito mais do que um relógio, é um universo que permite regulamentar a dignidade da vida humana em todos os setores. Por isso, tem de ser e de transmitir imagem de competência e justiça.
A FPF (e os respetivos CA e CD) tem de se afirmar pelo exemplo e coerência, como referências prestigiadas imparciais (TAD incluído) ou então o nosso futebol perde o comboio de alta velocidade e mantém queixas, suspeições, polémicas, contradições, que só trazem desprestígio nacional e internacional. Temos de sentir o conforto e a confiança na independência de quem aplica a justiça: tarefa grandiosa, muito exigente e que nunca pode ser subvertida.
O VAR (como apoio à justiça desportiva em campo) está incluído na arbitragem e pelo elevado valor investido, tem de dispor da tecnologia mais avançada que não falhe, porque sem interpretação humana. A transparência é a garantia que valoriza o jogo e reduz a violência associada ao futebol. Erros decisivos de arbitragem terão de penalizar os seus autores com sanção estipulada. O rigor acrescenta seriedade, confiança e essas, por sua vez, aperfeiçoam a justiça.
Este Europeu pode iniciar uma nova fase que marque a diferença entre um passado com erros inqualificáveis e um futuro justo, qualificado, motivante e imparcial. Quem não consegue manter a competência, terá sempre outras atividades à sua disposição, mas nunca a dirigir jogos. Até em qualidades físicas há muito a trabalhar com maior exigência. O futuro do nosso futebol passa também pela qualificação e independência da nossa arbitragem. Um juiz tem ser capaz de fazer cumprir as regras no imediato.
ANTECIPAÇÃO
A desmedida ambição de vários protagonistas que se julgam imortais, não passam de simples agentes comandados pela alta finança, eventualmente com atos de corrupção… há modelos que aprisionam o futebol por ambição desenfreada. O futebol não pode ter donos que pretendem transformar o planeta em espaço de diversão privada. O regresso do futebol à sua raiz pode ser uma miragem ou um sonho: miragem porque o deserto não é terreno de jogo com qualidade; sonho porque depende da capacidade de refundação e devolução dos clubes aos adeptos, a quem se deve a sua existência, como espaço de criatividade, de valorização humana e de liberdade, sem distinções a não ser pelo talento.
SURPRESA OU REALIDADE
D EPOIS da Superliga poderão surgir outras iniciativas, do género de arenas circenses, para garantir o essencial: as apostas desportivas: o “pão e circo” da antiga Roma imperial e com final provavelmente idêntico. O gigantismo crescente, viciado no infinito, de forma leviana e ignorante, destrói o privilégio do jogo que foi sonhado na rua... As tecnologias podem criar mundos de novas oportunidades, mas nunca uma trivela, um passe de letra, um pontapé de bicicleta, ou mesmo um voo único de um guarda-redes talentoso para agarrar a bola, evitando golo e sendo aplaudido por todos sem distinção clubística. Mas isso só é possível com humanidade, porque irrepetível.
ESPAÇO EURO-2020
C ONCLUSÃO da terceira jornada. No grupo E, a Suécia venceu a Polónia, num jogo muito disputado e com resultado incerto até ao fim. A perder por 2-0, a Suécia empatou e nos minutos finais permitiu o golo decisivo. A Eslováquia foi derrotada pela Espanha com um resultado que não deixa dúvidas 5-0.
No grupo F, a Alemanha empatou a 2 golos com a Hungria num jogo muito intenso. Portugal marcou primeiro, a França deu a volta ao resultado e passou a vencer mas a nossa seleção conseguiu o empate, com os dois golos de Cristiano. Jogo fantástico, Portugal mudou equipa e estratégia e jogando nos limites fez tudo para vencer, com a França a não conseguir superar a nossa organização. Diogo Dalot conseguiu a sua primeira internacionalização na Seleção principal. Para a história, Ronaldo bisou e igualou Ali Daei (109 golos) como melhor marcador ao serviço de uma seleção.
Oitavos-de-final
A 26 de Junho, em Amesterdão, a Dinamarca qualificou-se para os quartos-de-final, após golear a seleção do País de Gales por 4-0. Gales com ímpeto nem sempre muito ligada e Dinamarca poderosa, organizada e eficaz. Nesse dia, no estádio de Wembley, um dos grandes jogos deste Europeu: Itália - Áustria. Austríacos entraram a surpreender o adversário, com forte pressão, bloqueando espaços. Os transalpinos tentaram responder mas o jogo estava equilibrado. Segunda parte com a mesma identidade, jogo dividido e empate a zero, com necessidade de prolongamento. Mais 30 minutos entre duas estratégias diferentes. Aos 95’, Chiesa, recentemente entrado, fez o 1-0 e aos 105’, Pessina marcou o segundo golo e desfez as dúvidas. A Áustria ainda conseguiu reduzir para 2-1. Itália venceu mas a Áustria merecia mais. Jogo fantástico.
No dia 27 de Junho, em Budapeste, os Países Baixos, mesmo com expulsão de um jogador, dominaram mas foram vencidos na parte final pela República Checa por 0-2, numa das surpresas deste Europeu e, em Sevilha, a Bélgica num único remate feliz, ao terminar a primeira parte, conseguiu vencer Portugal que controlou e foi superior ao adversário. Portugal teve tudo para vencer mas o futebol tem sempre um elemento de surpresa: a Bélgica teve um dia de sorte. Portugal merecia vencer por margem dilatada.
A 28 de Junho, em Copenhaga, a Croácia foi eliminada pela Espanha, num jogo com sucessivas alterações de resultado. Do 1-0 da Croácia, o resultado mudou para 1-3 da Espanha e, nos minutos finais, um empate a 3-3. No prolongamento, Espanha venceu por 5-3. Em Bucareste, a França sofreu o primeiro golo da Suíça, conseguiu virar o resultado para 3-1 e, nos minutos finais, o resultado era 3-3. Prolongamento sem alterações e, nas grandes penalidades, o único a falhar foi Mbappé perante uma grande defesa do guarda-redes suíço. Suíça apurada.
No dia 29 de Junho, últimos jogos desta fase, em Wembley, a Inglaterra e a Alemanha apresentaram um jogo cauteloso, sem iniciativa, e aguardando as falhas do adversário. Dois momentos, na parte final, decidiram a vitória da Inglaterra por 2-0, com Sterling e Kane a serem decisivos. Em Glasgow, a Suécia bem organizada começou a perder com a Ucrânia, mas empatou ainda na primeira parte e teve mais oportunidades. 1-1 aos 90’. No prolongamento a Suécia ficou reduzida a dez por uma expulsão e nos momentos finais a Ucrânia vence por 2-1.
No futebol, a imprevisibilidade é elemento essencial que o torna fonte de emoção, de encantamento e de surpresa permanente.
REMATE FINAL
A Liga Portugal continua a insistir, com a Direção-Geral de Saúde e a Task Force, para que a vacinação dos jogadores e treinadores das ligas profissionais, atinja os 100%. Não se trata de exceção mas de solução necessária. Os clubes profissionais realizaram um total de 70 mil testes, sem apoio financeiro, o que atingiu um valor superior a vários milhões de euros, para garantir maior segurança para todos. Pedro Proença afirmou: «Estamos na linha da frente para que, no início da próxima época, o futebol profissional esteja a 100 por cento vacinado. Fazemo-lo com espírito altruísta, de forma a contribuir para a sensibilização da população portuguesa na necessidade desta ação e para que o País caminhe até à imunidade de grupo.»
A Liga Portugal entende que o futebol merece reconhecimento, pela forma como lidou, ao longo de mais de um ano, com a pandemia e aguarda uma resposta definitiva das entidades competentes.
Cristiano Ronaldo é uma máquina de fazer golos. São vários anos a competir ao mais elevado nível, o que implica talento mas também muito, muito trabalho. Neste europeu igualou o recorde de Ali Daei ao marcar 109 golos pela Seleção. Acumula vários resultados ainda imbatíveis e muito difíceis de igualar, como o de melhor marcador: da história do futebol: 785 golos; do Real Madrid: 450; da Liga dos Campeões: 139; dos Campeonatos da Europa: 14; até ao momento, como melhor marcador deste Europeu: 5. E ainda muitos outros pormenores de uma extensa lista. Os seus feitos serão sempre marcas fantásticas que prestigiam o futebol, Portugal e um dos maiores jogadores do mundo.