O regresso e as dúvidas
A Liga está de volta, para bem da indústria, dos seus profissionais e, convenhamos, da nossa saúde mental.
O futebol é o paracetamol de que todos precisamos para acalmar as dores de um distanciamento inédito, a saturação de um confinamento necessário e a nostalgia de tempos muito difíceis (para tantos de dor, sofrimento e perda irreparável).
Tenho a certeza de que a luz verde dada ao regresso da competição foi muito ponderada, bem planeada e, sobretudo, bastante responsável face ao que está em jogo. E, como todos sabemos, é mesmo muito o que está em jogo. É tanto que, lá fora, houve quem decidisse terminar o campeonato e houve quem optasse por não correr esse risco. Diferentes circunstâncias ditam diferentes saídas, obviamente.
Por cá, estou ciente de que clubes, jogadores e respetivos corpos técnicos terão todo o tipo de cuidados e serão exaustivamente monitorizados, porque isso já é visível, já é público. A este nível, os profissionais ao serviço do futebol profissional são do melhor que há no mercado.
A questão que levanto - e apenas porque desconheço se, à data, existe algo decidido sobre esta matéria - é relativa ao tipo de procedimento previsto para os restantes intervenientes no jogo, nomeadamente, em relação às equipas de arbitragem (penso que a estratégia relativa à presença de observadores, delegados, apanha-bolas, bombeiros, jornalistas, operadores de imagem, agentes da autoridade e demais pessoas estará salvaguardada e pensada).
Quanto a quem zela pelo cumprimento das regras, estamos a falar de quatro árbitros em cada um dos nove jogos. São trinta e seis homens, dentro dos relvados, a cada jornada.
Parece-me importante que se conheça, assim que possível, em que moldes é que será assegurado o seu regresso ao ativo, em termos de proteção individual, de prevenção de doença e de garantia que estarão livres de riscos associados à pandemia (e a possível contágio a terceiros).
Para isso, é necessário perceber quantas vezes serão testados e em que momentos é que isso acontecerá. É importante entender onde treinarão, onde assistirão a vídeos e como trabalharão tecnicamente em campo. É fundamental que se perceba que balneários frequentarão nessa fase, as condições em que estarão e quantas pessoas poderão frequentá-los de cada vez. É vital sabermos se, durante o período competitivo, todos os árbitros convocados para as finais que faltam ficarão em casa (com as respetivas famílias) os se estarão, todos, numa espécie de estágio coletivo durante essas cinco, seis semanas de competição.
Estas indicações não são importantes apenas para eles e para o seu planeamento desportivo e familiar. São também relevantes para todas as equipas da Liga, que seguramente pretendem saber se os árbitros que irão dirigir os seus jogos terão os mesmos cuidados que, a custo bem elevado, elas estão a ter com os seus profissionais.
Em alta competição, a exigência é enorme. Mas quando surgem circunstâncias absolutamente excecionais e de risco elevadíssimo, como é o caso, nenhum pormenor pode ser descurado, nenhum cenário pode ficar sem previsão.
Expect the unexpected.