O regresso da bandidagem

OPINIÃO16.07.201904:00

No particular Académica-Benfica, um bando de delinquentes (daqueles pequeninos, sem importância social mas ainda assim impactantes na arte de destruir) criaram uma série de incidentes nas bancadas do Estádio Cidade de Coimbra.


A altercação aconteceu ainda na primeira parte e levou à interrupção da partida durante seis minutos.
Vou repetir: um jogo de futebol amistoso - que, ainda assim, envolve mais valores do que o valor do mero entretenimento - foi temporariamente suspenso, porque a sua continuidade poderia afetar a segurança momentânea dos seus principais agentes.
A natureza do jogo torna aquele momento em algo ainda mais vergonhoso e inacreditável.
O futebol português, que até tem tentado lutar contra esta maré de criminosos, ainda não descobriu a fórmula exata para afastar, de vez, energúmenos deste calibre.


Estamos de acordo que essa é uma meta muito difícil, altamente sensível e extremamente dispendiosa. Depende de muitas variáveis (não apenas da força e união da indústria, mas também da forte cumplicidade do poder político), mas deve continuar a constar no topo de todas as prioridades.
Coimbra voltou a mostrar porquê.
De cada vez que um animal daqueles se solta, disfarça-se de humano e vai a um estádio (ou pavilhão) para perturbar o bem-estar dos outros ou magoar alguém, os maiores dos valores do desporto ficam gravemente beliscados.
De cada vez que um animal destes tem acesso a um recinto desportivo (seja de que modalidade for), haverá cinco ou dez pessoas de bem que tomam a decisão (sensata e compreensível) de não voltar lá.


A história recente mostra-nos que, em matéria de comportamentos, muitos dos nossos adeptos (ainda assim uma minoria, felizmente) não sabem estar no jogo. Será assim em todo o lado, é verdade, mas o que nos importa é cuidar da nossa casa, não banalizar condutas desviantes porque elas também acontecem na casa dos outros.
Por cá e como bem sabemos, já morreram adeptos em estádios e em estradas que os circundam. Já houve invasões pacíficas a centros de treinos de árbitros e invasões graves a centro de estágios de jogadores. Várias foram as ocasiões em que ocorreram graves confrontos físicos antes, durante e após determinados jogos. Já houve sérios prejuízos em automóveis, habitações e estabelecimentos comerciais de vários agentes desportivos. À porta de alguns estádios, há (aqui e ali) confrontos entre gente sem escrúpulos, cujos danos colaterais alastraram-se a famílias inocentes, a adeptos de verdade. A pessoas que vão - ou iam - à bola pelo prazer que isso lhes dá (ou dava).


Por cá, há dezenas de agressões a árbitros e a treinadores, todas as épocas. Uma atrás da outra.
Não façamos deste cantinho precioso um oásis em matéria de comportamento. Não é verdade.
Há muita coisa para erradicar, muito marginal para afastar e muito malandro para mandar, com bilhete só de ida, para os confins do inferno.
A nova época está à porta e a pequena amostra que vimos foi muito feia. De uma vez por todas, vamos lá a lutar contra isto. Já chega, caramba.
 

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