O que se pensa

OPINIÃO01.11.201903:00

As declarações de Luís Nazaré a A BOLA entreabriram a porta do ambiente que se vive nos órgãos sociais do Benfica, quando disse que Varandas Fernandes o tentou condicionar antes do plenário e se manteve calado durante toda a reunião e que, ao contrário do que foi posto a circular, não houve qualquer bloco Varandas-Moniz. O presidente da Mesa da AG do Benfica foi corajoso. Por maior que seja a obra - e a de Vieira é de louvar em muitos aspetos - , o unanimismo nunca foi saudável, porque só na crítica e na argumentação se faz a evolução. E pelo descrito, os que teriam vontade de chamar à atenção Vieira, calaram-se. Estão no seu direito.

Do outro lado da Segunda Circular, a crítica tem sido uma constante. Mas é tanta que já não se evolui grande coisa, porque já não tem argumentação e passou, muitas vezes, a ser ruído. O mítico Rui Jordão, numa entrevista depois de ter abandonado a brilhante carreira de futebolista, disse uma vez que se tinha afastado da modalidade porque, entre outras coisas, tinha demasiado ruído e só o silêncio lhe permitiu encontrar-se com o seu verdadeiro eu e comunicar através de outras formas de expressão.

Mas, depois do silêncio, exprimiu-se, talvez de forma abstrata, através da pintura. Falou com as mãos como já tinha falado com os pés. Não se remeteu a uma retumbante mudez para comunicar as suas ideias. Sérgio Conceição também não se calou, no final do jogo com o Marítimo, para dizer o que pensava. Usou o vernáculo, exagerou nas palavras, mas toda a gente ficou a saber o que pensava sobre o que iam dizer no esgoto a céu aberto em que muitas vezes se tornam as redes sociais sobre o empate no Funchal. O treinador do FC Porto pode ter sido despudorado e imprudente. No entanto, tenho convicção de que a maioria prefere um despudorado imprudente a um prudente dissimulado porque, pelo menos no primeiro caso, sabe o que ele pensa. Quanto ao outro, ficarão sempre a pensar no que ele pode pensar.