O que foste tu fazer, Cristiano?
Ronaldo verá Messi com estatuto de melhor de sempre enquanto lida, exilado, com a derrota
DISSE aqui há dias que não acreditava que Cristiano Ronaldo quisesse jogar na Arábia Saudita e ainda é para mim difícil aceitar que a lenda em que o português se tornou avance desta forma para os últimos passos da carreira. Percebo a indignação dos sportinguistas quando veem o filho pródigo preferir destino no Médio Oriente, mesmo que associado a camiões de petrodólares a bater diariamente à sua porta, e também entendo que os últimos meses tenham precipitado um fim sem glória, por culpa do perfil futebolístico, do rendimento em Manchester e no Catar e dos incidentes de indisciplina, entre os quais uma entrevista dada para partir definitivamente a corda. Não acredito, e como viram antes posso falhar rotundamente, que na altura em que profere as palavras que proferiu a Piers Morgan Ronaldo perspetivasse destino tão exótico. Ou sequer um fora da Europa. Contudo, é apenas a consequência de muitas más decisões. Meses em que fez tudo o que havia de errado para fazer.
Cristiano continuará a ser um profissional e um atleta exemplar e a querer alimentar a fome voraz que o notabilizou jogo após jogo, porém será inevitavelmente o maior de uma terra distante, a assistir dolorosamente a outros, inclusive o arquirrival Messi, a gozar tranquilamente os últimos dias enquanto futebolista. Pior, verá o argentino vestido com a capa de melhor de sempre - mesmo que a mesma não seja unânime -, enquanto lida com a derrota, exilado, num futebol de terceiro mundo.
Tantas vezes se alimentou do próprio ego e de uma arrogância positiva para ser mais forte, e não percebeu quando as virtudes se tornaram defeitos e ele mesmo inimigo de si próprio. Mais. Ganhou o direito a ter a sua reforma dourada, que é realmente o que o Al-Nassr representa, mas esta nunca deverá condicionar o novo selecionador e a Seleção Nacional.