O preço do futebol
Se eu vivesse em Paris seria sempre espectador de todos os jogos do PSG porque amo Messi, Mbappé e Neymar, mas nunca seria fã
O PROJETO LUXUOSO
SEMPRE me perguntei se o PSG faz sentido. Agora chegou o momento de perguntar se tem remédio. No plano desportivo, está sempre abaixo dos seus sonhos de grandeza; economicamente, não há projeto que compense as despesas e, quanto às suas aspirações propagandísticas, já terão verificado que quem não ganha jogos também não ganha prestígio. Tudo é artificial no Parque dos Príncipes. Sem raízes que ajudem a memória a construir histórias com as quais criar identidade e sem um contexto que impulsione a competitividade, tudo parece consistir num desfile de figuras às quais só faltam uma passarela. Se eu vivesse em Paris seria sempre espectador de todos os jogos porque amo Messi, Mbappé, Neymar e a constelação de estrelas que, como os insetos, são atraídos pelas luzes de Paris. Nunca seria é fã.
A ENERGIA REVERTEU
SE o futebol reforça os traços narcísicos dos jogadores, um clube com estas características eleva o problema ao cubo. Estamos perante um clube que exibe com orgulho o seu acervo de estrelas, sem se importar se fornecem andaime tático, complementaridade ou garra competitiva. Vários dos jogadores manejam como ninguém os processos instintivos do jogo. Isto tem uma atração e um poder desequilibrador indiscutíveis. Porém, aí começam e terminam os privilégios do treinador. Porque se o homem não quer ter problemas, deve colocar os jogadores que têm mais prestígio do que ele. E no PSG são vários. E na hora de fazer mudanças deve pensar no projeto empresarial, na comoção aos media e se, no dia seguinte, vai ser saudado pelo jogador substituído. Ou seja, o preço de ser treinador do PSG é não ser treinador.
Mbappé, escreve Jorge Valdano, «é um daqueles génios que mudam as leis do jogo»
O JOGO E MBAPPÉ
MBAPPÉ não deveria ter jogado frente ao Bayern, mas jogou. O PSG não teve resposta futebolística ante um Bayern tão organizado quanto sugere tudo o que é alemão, mas com menos instinto selvagem do que diz a tradição do Bayern. Durante quase uma hora foi melhor, mas não abusou do rival. Jogadores como Neuer, Muller ou Lewandowski são difíceis de substituir futebolística e competitivamente. Quando se cansou de o merecer, o Bayern marcou o seu golo e aí apareceu Mbappé. A tática das duas equipas começou a parecer uma piada devido à influência no jogo de um daqueles génios que mudam as leis do jogo. Os conhecimentos académicos não são suficientes para explicar estes fenómenos. Estávamos a assistir a um jogo e, com a entrada dele, começou outro. O estádio começou a respirar de forma diferente, os companheiros conectaram-se, os rivais assustaram-se. Não mudou o resultado, mas a previsão da eliminatória sim.
ENTRETANTO, EM BARCELONA…
UM episódio de arbitragem entre o fedorento e o estúpido (difícil de escolher) manchou o prestígio do Barça e da classe de arbitragem. Como o futebol é incapaz de se corrigir, o escândalo foi descoberto pelas Finanças. Um tal Negreira, vice-presidente da Comissão de Árbitros, recebeu meio milhão por ano durante muitos anos através de uma empresa de que é o único proprietário para assessoria arbitral. Disse que se tratava de garantir um tratamento de arbitragem igual para o Barça. Não quero imaginar quanto teria cobrado para garantir um tratamento desigual. Com esta defesa, Negreira salvou a cara e sujou a de toda a arbitragem, que, aparentemente, só pode ditar a justiça se for influenciada por um criminoso. Quanto ao Barça, só conseguiu dizer pela boca do seu presidente que «não é por acaso que isso aparece quando o Barça está tão bem». Não se sabe o que dói mais, se a corrupção ou a mediocridade (novamente, difícil escolher).