O poder da comunicação

OPINIÃO15.12.202003:00

A comunicação é uma das ferramentas mais poderosas ao serviço da humanidade. Não deve haver muita gente que duvide disso. Se não falássemos, se não nos explicássemos, se não nos expressássemos através da fala, gestos ou sinais, jamais nos entenderíamos. Jamais evoluiríamos enquanto raça. O mundo seria caótico e não existiriam sociedades civilizadas. Não como as conhecemos hoje. No futebol, indústria com projeção maior, onde a competitividade é elevada e as emoções exponenciadas, essa verdade é ainda mais determinante. É ainda mais verdade. No futebol, o poder da comunicação é avassalador. Vale ouro.


Essa constatação coloca, nos ombros dos seus mais visíveis atores, maior responsabilidade. Cada palavra, cada frase, cada ideia que transmitem para o exterior pode ser recebida de maneira distinta. Depende de quem diz o quê, como e quando. É exatamente assim. O autor, a forma, o timing, o tom e o conteúdo podem passar uma mensagem positiva, de serenidade e pacificação global ou criar um verdadeiro motim. Uma rebelião. Uma matança fora de época. É fundamental que quem comunica cá para fora perceba bem a força que tem.


Naturalmente que não se espera nem deseja que os protagonistas do jogo, aqueles que as pessoas querem e gostam de ouvir, sejam cegos, surdos e mudos. Ninguém espera que o futebol se torne numa espécie de missa dominical ou aula de catequese. Os beliscões, as bicadas estratégicas, os mind games são aceitáveis, desde que não sejam ofensivos, incendiários ou desonestos. Há momentos em que é importante mostrar os dentes, impor respeito, marcar presença. Certo... desde que no modo certo. Mas a partir daí é preciso ser responsável e ter cuidado. É que a linha que separa o faits divers engraçadito da detonação de granada é muito ténue e tem que estar bem calibrada.


São vários os motivos que levam as pessoas a serem demasiado corrosivas na forma como se manifestam publicamente. Um, menor e algo tolerável, é o calor do momento: colocar um microfone na boca de alguém que está a ferver é como tentar apagar um incêndio com cinquenta litros de gasolina. Só piora. Diferente, bem diferente, é a conversa que não é improvisada mas pensada. Diferente é a ideia que é cozinhada, preparada e servida a frio, sem o peso de ambientes efervescentes. Isso é tóxico e venenoso. A questão é basicamente comportamental. De valores ou da falta deles. Tem que haver mínimos e esses devem estar balizados pelo respeito, pela elevação e pela educação de cada um, mais do que pela regulamentação em vigor ou pelo conjunto de regras predefinidas.


Para o exterior, a sensação que dá ao falar-se abertamente sobre esta questão é que os devaneios verbais a que assistimos pontualmente são tão habituais que viraram moda. São aceites como normais, como uma prática reiterada. Há uma acomodação generalizada e passiva face a esse modus operandi. Parece que, de repente, toda a gente desistiu de querer civismo e rendeu-se a um tipo de discurso ácido, inflamado e ofensivo e no passa nada. Parece que exigir sensatez e grandeza de caráter é coisa de lírico, mas não é.  O inconformismo é a pedra no sapato dos conformados.