O Mundial divergente
Agora já não há nada a fazer mas que não se repitam escolhas deste género!
A PÓS o silêncio que a escolha do Catar foi preservando, é chegado o tempo para este Mundial-2022 passar para os estádios durante as competições que se avizinham, interrompendo as provas europeias, cortando-as a menos de meia época. A memória é curta, mas as consequências serão imprevisíveis. Para lá do esquecimento das inúmeras e graves questões humanitárias, esta competição poderá deixar diversas marcas contraditórias. Foram vários os contestatários que acabaram por mudar de opinião e tecer louvores, certamente reconhecidos, até aos mais coerentes, que sabem manter princípios. Jurgen Klopp, um crítico deste Mundial, entende que não se devem utilizar os jogadores como protesto para esta prova, porque a sua missão é jogar, enquanto outros perderam memórias dos últimos 12 anos, entre a eleição do Catar e o apito inicial no estádio. Esse treinador alemão afirmou: «Todos sabemos como aconteceu e todos deixámos acontecer.» Essa atribuição da FIFA foi uma decisão que terá efeitos inesperados. A nível social e desportivo, só os próximos tempos poderão revelar as tendências vindouras. O nome de Joseph Blatter (e outros) ficará para sempre ligado a este campeonato, mesmo que passado tempo seja considerado um erro global, por fatores humanitários, desportivos, ambientais e civilizacionais. Por outro lado, a excessiva carga competitiva é mais um risco acrescido à saúde dos atletas, pois exponencia eventuais lesões. Agora nada mais há a fazer, porque os jogos estão próximos… mas que nunca mais se repitam escolhas desse género. O futebol merece a devida atenção após ouvir as opiniões avalizadas e competentes, que sirvam para potenciar o jogo, para ser um espaço temporal de criatividade, de tolerância e de arte com inteligência. Escolher países onde os direitos essenciais da humanidade não são hábitos enraizados, nunca devem ter oportunidades de concorrer, a não ser que a sociedade revele o cumprimento dos princípios elementares. O caminho tem de ser de evolução e nunca de estagnação totalitária. Inesperadamente, em jogos de clubes alemães, os adeptos apresentaram tarjas de boicote contra este Mundial no Catar. Diversos treinadores da nossa Liga estão neste momento a fazer as contas sobre as perdas de atletas de cada plantel, em função das respetivas seleções para este Mundial. Em Portugal, os jogadores portugueses, assim como os estrangeiros que disputam o nosso campeonato, vão criar muitas dificuldades ao trabalho de cada clube, num momento que deveria ser de aperfeiçoamento e nunca de paragem forçada tão longa. Por esse efeito, a Taça da Liga terá a próxima jornada durante o Mundial.
APROFUNDAR O FUTEBOL
A uma semana do Mundial-2022, na cidade do Porto vai decorrer a primeira e importante Cimeira de Presidentes dos clubes desta época. Os 34 presidentes das SAD analisarão as realidade e necessidades do futebol profissional. Para além do processo da Centralização dos Direitos Audiovisuais e uma Convenção da UEFA, com a participação das entidades europeias representativas dos clubes, dos jogadores e ainda dos adeptos, a agenda envolverá a análise de três grandes temas: Competitividade, Governança, Futebol Feminino. Há mudanças a estruturar para um caminho que se pretende mais envolvente, consistente, transparente e solidário. Temas imprescindíveis a anteceder a 40.ª Assembleia Geral das Ligas Europeias (dia 17 deste mês, também no Porto) para preparar rumos para o futuro do futebol.
LIGA NACIONAL E SORTEIOS UEFA
O FC Porto entrou forte e marcou muito cedo ao Paços de Ferreira. Curiosamente após a entrada, os azuis e brancos voltaram a dar muito espaço ao adversário, como tinha acontecido nos Açores. Contudo, os dragões controlaram o jogo, com Pepê mais na frente a desequilibrar, numa construção eficaz. Paços de Ferreira foi um digno vencido porque lutou sempre com garra e organização. O resultado de 4-0 espelha as diferenças, mas o Paços tem capacidade para melhorar bastante.
O Sporting recebeu o Vitória de Guimarães e venceu por 3-0: os golos surgiram após a expulsão de Afonso Freitas aos 27’. Terá ficado por mostrar um segundo amarelo a Morita: critérios são sempre a questão que não se consegue equilibrar. O Vizela foi derrotado em casa pelo Arouca que está a fazer um excelente campeonato. Gil Vicente mudou de treinador, mas manteve a incapacidade diante do Portimonense. FC Porto, Sporting e Benfica golearam os respetivos adversários. O Rio Ave derrotou o Boavista, o Casa Pia continua a destacar-se e no último jogo foi a Braga vencer. O jogo entre o Chaves e o Santa Clara não teve golos. A classificação tem criado avanços e retrocessos sucessivos. A próxima jornada encerrará a primeira fase da nossa principal Liga, em função do Mundial. Será oportuno, uma análise comparativa da qualidade dos jogos antes e depois do recomeço, após o Mundial.
Para a Champions, Inter recebe FC Porto, Club Brugge defronta o Benfica; para a Liga Europa, Sporting defrontará o Midtjylland; para a Liga Conferência, o SC Braga jogará com a Fiorentina.
Que a pausa para este Mundial, permita reforçar a consciência do que devemos fazer, a capacidade em aceitar os outros para evitar fanatismo clubístico e um plano rigoroso para se criar uma verdadeira academia de arbitragem, de onde saiam juízes que preservem a imparcialidade, a manutenção de ritmo de jogo intenso e que tentem eliminar as simulações e entradas intencionais para lesionar. Desse modo, o futebol torna-se mais intenso, mais emocionante e com mais qualidade.
PORTUGAL NA LIDERANÇA
U NIR o país e os seus ídolos, permite-nos recordar os contributos e a genialidade dos portugueses, em várias atividades, em diversos pontos do mundo, onde muitos já revelaram enorme capacidade. Deveriam merecer mais espaço e oportunidades, para contribuir para um futebol mais exigente e mais excelente. Poderemos, mais tarde ou mais cedo, ter um português a liderar o futebol global? Há dias, numa entrevista neste jornal, Figo afirmou: «Não afasto possibilidade de ser presidente da FIFA, da UEFA ou do Sporting». E essa afirmação vem confirmar a convicção de que em relação às duas primeiras hipóteses, talvez fosse uma excelente decisão.
Além de Luís Figo ter falado do seu percurso, desde muito novo (muitos familiares de jovens jogadores devem ler e refletir) para além dos títulos e troféus, destaca a importância dos pais ao incutirem a valorização da responsabilidade de nunca os defraudar. Ler essas páginas pode permitir um momento de análise cuidada do que se passa no futebol jovem, muitas vezes pressionados como raspadinha milionária e, por isso mesmo, percorrendo rumos que podem criar frustrações: deixem as crianças ter o prazer do jogo e o reforço da amizade. Depois de falar do seu valioso percurso profissional que foi brilhante, foi abordada a candidatura para a FIFA, uma oportunidade fantástica, tanto mais que se vivia uma fase de corrupção que prejudicou a imagem do jogo. Contudo, para a sua eleição para Presidente da FIFA faltou, nos momentos decisivos, o apoio da UEFA. Curiosamente, rebentou o escândalo que tanto mal causou ao futebol, que penalizou a sua imagem e reduziu a zero a credibilidade das instituições que não souberam defender um valor que destruíram. Figo, por estes dias, confirmou que não coloca de parte a possibilidade de suceder aos Presidentes, quer da FIFA quer da UEFA: tem conhecimento e capacidade para isso e o futebol precisa de inovação sem destruição e reforço do prestígio internacional. Felizmente, somos um País que tem alguns antigos craques com muita experiência e saber fazer, que são alternativas válidas para uma mudança que atraia pela dimensão e coerência. Nessas instituições globais, há portugueses muito conhecedores, alternativas com muita qualidade inovadora. Portugal, país de pequena dimensão, continua a ser espaço de talento, embora falte capacidade de unir, pelos atropelos sociais e profissionais de quem tenta manter situações que possam trazer vantagens… Recordar nomes de antigos dirigentes de instituições globais do futebol (que foram sancionados pela justiça internacional) só pode ter interesse como memória para não mais repetir. Acredito que Portugal pode e tem dado contributos valiosos que prestigiam o futebol, nas diversas áreas.
REMATE FINAL
Piqué, o jogador do Barcelona, despediu-se em lágrimas da carreira de futebolista, aos 35 anos, com 616 jogos nos seniores do Barça, com um total de 52 golos e 30 troféus. Festa merecida!
Sérgio Conceição foi novamente convidado pela UEFA, para participar no próximo fórum de treinadores de elite, segunda-feira dia 14, em Nyon. Recorde-se que Sérgio alcançou a 142.ª vitória (em 182 jogos) como treinador do FC Porto, ultrapassando as 141 de Artur Jorge (em 188 jogos), ainda atrás das 159 de José Maria Pedroto (em 236 jogos) e com um registo de 417 golos marcados e 119 sofridos; Presidente Pinto da Costa e Sérgio Conceição são uma parte muito importante porque vivem o clube em cada minuto.
Taremi foi o jogador que criou mais oportunidades de golo na Champions.
Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, conquistou o Brasileirão, num trabalho de excelência que também prestigia o nosso futebol. Muitos parabéns.
O Conselho de Disciplina da FPF foi célere a decidir sanções disciplinares pesadas, rápidas e adequadas, sobre os casos de assédio sexual no futebol feminino.
Eustaquio marcou o 1.000.º golo no Estádio do Dragão, frente ao Atlético de Madrid; a nova tendência do FCP, é marcar golo antes dos 10’ nos últimos cinco de sete jogos.
Lamentável: em Mafra, para a Taça de Portugal, Sérgio Conceição voltou a ser penalizado de forma persecutória juntamente com alguns jogadores do FC do Porto, que pareciam alvos a perseguir. Mas o ‘vento Norte’ não receia injustiças.