O jogo das transferências

OPINIÃO23.06.202107:00

O futebol não terá necessidade de iniciar um novo arranque sem os vícios que lhe minam os alicerces?

Eassim voltamos às rotinas deste tempo. Fazem-se capas de jornais e revistas e revelam-se imagens nas televisões. Contratam-se jogadores como maravilhas únicas e na época seguinte lá vão em trânsito para outras paragens: em relação às verbas, o exagero abunda. Nos últimos anos, vários contratados são emprestados sem vestir a camisola do primeiro destino. Paralelamente, intensificou-se a mudança de comentadores que defendem com intensidade os ataques, respondendo com firmeza ao serviço de clubes, enquanto houver capacidade financeira. É tempo de comissões. Todos os dias surgem notícias de contratações, umas para promoção, outras para concretização, outras para distração.
 

ORIGENS

ANTOINE GRIEZMANN, jogador do Barcelona e da seleção francesa, é neto de um avô português que jogou no Paços de Ferreira. Sobre o jogo com Portugal afirmou: «Será sempre um jogo especial para mim, uma parte da minha família estará vestida com camisolas de Portugal e outra parte com camisolas da França. Quem ganhar vai brincar com aqueles que perderem.»
 

PREVISÃO

Oconfronto entre instituições internacionais que tutelam o futebol e as possibilidades que a legislação comunitária permite, poderá ser um palco de profundas alterações. Quando a UEFA e a FIFA se convenceram de que podiam estar acima de tudo criou-se um ponto de rotura. O futebol corre riscos de criação de competições diversas, dependentes de novas organizações, numa luta dura por um mercado de biliões. O crescimento sem limites poderá causar problemas imprevisíveis. A concorrência atinge dimensões imparáveis e saturação. Há estratégias para alterar profundamente o futebol. Desde que a FIFA e a UEFA se tornaram palcos de poder extremo e negócios avultados tornou-se complexo ficcionar quem irá vencer ou até se não poderá ocorrer uma crise estrutural definitiva. O futebol não terá necessidade de iniciar um novo arranque sem os vícios que lhe minam os alicerces?
 

ESPAÇO EURO-2020

VIMOS estádios com pouco público e outros cheios. Sem máscaras, sem distanciamento, quem governa o futebol deixa-nos preocupados. Será verdade ou ficção estádio lotado num tempo de pandemia? Por outro lado, houve seleções que jogaram em casa e outras que não. Alemanha, Azerbaijão, Dinamarca, Escócia, Espanha, Hungria, Inglaterra, Itália, Países Baixos, Roménia e Rússia foram os países eleitos. Certamente que todas as federações nacionais terão opinião a dar, com total liberdade. Nessa avaliação, poderia também fazer-se uma análise para aperfeiçoar o futuro.
Na segunda jornada houve um momento de grande significado. Aos dez minutos (número da camisola de Eriksen) do encontro entre a Dinamarca e a Bélgica, o jogo parou e todo o público, jogadores e árbitros, durante um minuto, bateram palmas ao atleta, emocionando todo o planeta. Este é o futebol que não muda, que tem valores, muito talento e desportivismo. O principal vencedor foi o futebol!
Em resultados, tivemos no grupo A a derrota da Turquia perante o País de Gales (0-2), num jogo disputado com grande intensidade. Esse jogo foi arbitrado por Artur Soares Dias, que teve uma excelente prestação.
A Itália venceu folgadamente e com mérito a Suíça (3-0) , apurando-se de imediato para a fase seguinte.
No grupo B a Finlândia perdeu com a Rússia (0-1), que conseguiu imprimir maior velocidade. A Dinamarca perdeu com a Bélgica (1-2), tendo obtido o seu golo aos 2’, contudo a Bélgica, na segunda parte, com as entradas de Eden Hazard, De Bruyne e Witsel, mudou o jogo, o resultado e apurou-se para a fase seguinte.
No grupo C ocorreu um dos melhores jogos da jornada entre duas equipas muito fortes: a Ucrânia venceu a  Macedónia do Norte por 2-1 e desperdiçou uma grande penalidade.  Os Países Baixos derrotaram, sem dificuldade, a Áustria (2-0) e alcançaram o apuramento para os oitavos de final.
No grupo D, Croácia e República Checa empataram a 1 golo, mas a equipa checa foi mais forte e o empate foi lisonjeiro para os croatas. A Inglaterra empatou com uma Escócia mais intensa e perigosa (0-0).  
No grupo E a Suécia venceu a Eslováquia (1-0), golo conseguido na marcação de grande penalidade, numa partida em que as duas equipas evitaram perder. A Espanha empatou a um golo com a Polónia, num jogo calculista.
No grupo F a Hungria, que esteve a vencer, empatou com a França a um golo, numa partida muito disputada, intensa, na luta pelo apuramento. Portugal, apesar de marcar primeiro, acabou por perder com a Alemanha (2-4), não conseguindo equilibrar o jogo, sofrendo golos por falta de concentração e marcação. Cristiano inaugurou o marcador mas a Alemanha invadiu o nosso meio-campo, jogando rápido e obtendo golos. Há dias assim, mas Portugal, que na parte final poderia ter marcado dois golos, vai corrigir os desacertos.
A terceira jornada iniciou-se no grupo A com dois jogos à mesma hora: a Itália venceu o País de Gales por 1-0 e a Suíça ganhou à Turquia por 3-1. A Itália está há 32 jogos sem perder e nos últimos 10 sem sofrer um golo.
No grupo B a Finlândia perdeu com a Bélgica (0-2) e a Rússia foi goleada pela Dinamarca (1-4) com um jogo de grande qualidade que serviu também para presentear Eriksen. No grupo C, a Ucrânia, cansada, perdeu com uma Áustria que controlou o jogo com maior intensidade (0-1) e os Países Baixos ganharam justamente (0-3), com maior organização e qualidade técnica, à equipa da Macedónia do Norte. Nesse jogo, a substituição do capitão Pandev coincidiu com a sua despedida como jogador, tendo sido entregue a camisola com o número 122 (internacionalizações que teve) e saiu com guarda de honra pelos elementos da sua seleção. Mais um exemplo que faz do futebol uma festa única.
No grupo D a República Checa sofreu cedo (12’) o golo da Inglaterra por Sterling, que acabou por ser o resultado do jogo, com atuação positiva do árbitro Soares Dias e sua equipa. A Croácia venceu por 3-1 a Escócia, com justiça e mérito.
 

FUTEBOL A QUANTOS OBRIGAS...

Omédio belga Kevin de Bruyne começou a jogar somente a partir da segunda jornada pela intervenção cirúrgica que teve de fazer às fraturas no nariz e na órbita, sofridas na final da Champions, que ainda lhe causam alguma falta de sensibilidade e receio de disputar lances aéreos, afirmando: «É algo que incomoda durante o jogo, mas o mais importante é que posso ajudar a equipa.»
 

UM BOM EXEMPLO

AFIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol) contactou a UEFA, em função do choque, numa disputa de bola alta, na qual um jogador alemão (Gosens) cabeceou a face do jogador Pavard, para exigir esclarecimentos sobre o protocolo para comoções cerebrais. Nesse lance, o jogador francês, por momentos, pode ter sofrido uma curta fase com eventual perda de sentidos.
 

REMATE FINAL

Emanuel Medeiros, ex-CEO das Ligas Europeias, fundou recentemente a SIGA (Sport Integrity Global Alliance), que visa promover ações que permitam alavancar «a integridade no desporto». «Vamos procurar agregar, mobilizar e convencer as organizações desportivas a demonstrarem a liderança que está ao seu alcance. E essa liderança demonstra-se com a permanente implementação das melhores práticas, adotando os standards universais da SIGA, em matéria de boa governança, de integridade financeira, de apostas desportivas e proteção de menores. São quatro eixos fundamentais para a valorização, a salvaguarda e o desenvolvimento sustentado do desporto, para justificar a confiança, o investimento e a paixão que os adeptos, os investidores e, no fundo, o interesse público deposita no desporto. Isso faz-se com ações e resultados», afirmou. Defendeu ainda a criação da Clearing House das transferências, concluindo: «Não é cleaning de limpeza, é cleraring, de clareza, de clarificação.»
Já em 2016, Jerry Silva, no seu livro ‘Futebol, desafios e rumos para vencer’ destacava a necessidade de criação da «Casa das Transferências, Registo e Publicidade do Direito Económico» para reforçar a verdade desportiva e só agora surgiu mais alguém a abordar o tema. Mais vale tarde do que nunca, diz o povo, mas a verdade é que só agora se voltou a falar desse grande problema. Terá sido coincidência?