O individual e o contexto
Por ser ‘único’ na lista João Félix é, para mim, claramente candidato ao onze de Portugal
V I muita gente ficar surpreendida com a exibição de João Félix diante da Nigéria, e isso deve-se, quanto a mim, a várias coisas. Desde logo à ideia de que a justiça e o prémio se devem impor ao contexto; e depois à análise da forma individual isolada, não enquadrada em cada coletivo. Há jogadores que são claramente mais dependentes do resto do grupo do que outros, embora também se possa argumentar que os de classe mundial aparecem sempre, embora não necessariamente em toda a sua extensão, mesmo quando este esteja longe de ser fértil.
Félix sofre no tecido coletivo do Atlético Madrid (apesar de continuar a ser o único farol para a nau colchonera) como sofreu até aqui na Seleção, que insistiu sempre num jogo mais verticalizado e esticado, pouco dado à racionalização. Mesmo como falso 9, o ex-Benfica não é jogador para constantes correrias, apenas para movimentos episódicos à procura de espaço nas costas, o que consegue fazer com eficácia. Não há nenhuma equipa que viva num único momento dos cinco conhecidos (ou três, se ligarmos ataque e defesa às respetivas transições) - ataque e reação à perda, defesa e contra-ataque e bolas paradas -, porém estão na maior parte do tempo num deles. Portugal tem plantel para estar mais tempo em ataque posicional e contrapressão mesmo perante outros candidatos, assumidos ou por assumir.
A inclusão de unidades mais associativas favorece que jogadores como Félix cresçam no novo contexto e se aproximem mais do seu potencial, ao ponto de quem até aqui não contava com ele, provavelmente até nem o convocasse, agora o ponha entre as primeiras opções. E se ainda não for desta, então não há salvação possível. Ter um plano é olhar mais além. João Félix, por ser único na convocatória, é claramente candidato ao onze. Para mim, é ele e mais 10!