O futuro do futebol português
Pedro Proença é o presidente da Liga Portugal (Foto: IMAGO)

O futuro do futebol português

Palavra de Gverreiro é o espaço de opinião quinzenal de Pedro Sousa, adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República

O futebol português atravessa um período decisivo. Num tempo em que o poder financeiro da Liga Saudita redefine o panorama internacional, urge uma reflexão sobre o futuro da indústria futebolística nacional.

O desafio não se esgota em competir no campo, mas na necessidade de modernizar e valorizar o desporto-rei em Portugal, alinhando-o com as melhores práticas europeias, sem perder de vista as realidades emergentes.

Inspiremos-nos, pois, nas Ligas de topo — a Premier League, a La Liga e a Bundesliga — onde a governação, a transparência e a valorização dos adeptos como elemento central do fenómeno são pilares estruturais.

A Premier League, por exemplo, é um modelo de governação eficaz, maduro, assente numa gestão profissional e em estruturas empresariais consolidadas. A Premier League é futebol, entretenimento e espectáculo. Começaram, desde 1992, a colocar o futebol num patamar de topo, a atrair os melhores atletas e treinadores, a fazer da sua principal competição uma marca global e, hoje, é uma indústria que gera enorme valor acrescentado para a economia britânica, apostando na credibilidade do seu modelo de negócio e, sempre, no equilíbrio competitivo (onde, a cada fim de semana, todos podem ganhar a todos) como motores que tornam o futebol inglês uma referência mundial.

Em Espanha, a La Liga tem seguido uma via de modernização digital impressionante, integrando novas tecnologias para melhorar a experiência dos adeptos e otimizar a gestão dos clubes. No centro desta estratégia está o adepto, considerado não apenas um espectador, mas um participante ativo do fenómeno. O futebol é, afinal, um espetáculo coletivo e a sua sobrevivência, qualificação e valorização depende da fidelidade e paixão daqueles que seguem e idolatram jogadores e clubes.

A Bundesliga, por sua vez, é um extraordinário exemplo de eficiência e sustentabilidade. O modelo 50+1, que garante que os adeptos têm, sempre, uma voz ativa e decisiva nos destinos dos clubes, é um exemplo de como se pode aliar sucesso desportivo com vínculo emocional e responsabilidade social. Além disso, o foco na formação de jovens jogadores e na rentabilidade desportiva e financeira dos clubes alemães é, desde há muito, um modelo a seguir e reproduzir.

O futebol português, que evoluiu muito nos últimos anos, com lideranças muito competentes, profissionais e preparadas, tanto na Federação Portuguesa de Futebol — Fernando Gomes é o expoente máximo desse caminho — como, nos tempos mais recentes, com Pedro Proença na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, tem muito a aprender com estes modelos.

De forma a sermos mais competitivos, precisamos de uma estratégia sólida que promova uma governação transparente, uma gestão ambiciosa, mas sempre rigorosa e a valorização dos adeptos como núcleo central da indústria.

A digitalização, a profissionalização dos órgãos diretivos e o respeito pelo fair play financeiro não podem ser vistos como meros adereços, mas sim como necessidades fundamentais para que o nosso futebol seja cada vez mais credível e relevante.

Portugal tem uma história gloriosa no futebol, mas o futuro exige coragem para abraçar a mudança.

A transformação da nossa Liga, acompanhando os melhores exemplos europeus, é o caminho para garantir que continuamos a produzir talentos, a competir ao mais alto nível, a cumprir a responsabilidade social.

O futebol é desporto, mas é também identidade e património cultural.